1932 – 2022: 90 anos do voto feminino: o que queremos?

1932 – 2022: 90 anos do voto feminino: o que queremos?

Por: Redação · Imagem: reprodução

Por Lenina Vernucci da Silva


O singelo “livrinho” de Diva Nolf Nazário, encontrado em um sebo qualquer, me foi presenteado em 2011 (edição fac-símile publicada em 2009). “Um ano de feminismo entre nós” era o subtítulo da obra, escrito por essa batataense em 1923, após no ano anterior ter buscado participar das eleições do centro acadêmico da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e requerer seu alistamento eleitoral nas eleições do corrente ano. Eu, estudiosa do assunto, desconhecia que a palavra feminismo já era posta – e amplamente criticada – nos anos 1920. Ao conversar com minha professora vimos que ali daria uma pesquisa interessante. Elaborei o projeto e foi assim, com um presente de namoro, que fiz meu mestrado.
As investigações foram me levando para caminhos que fizeram eu refletir sobre o tempo presente. Ah, se soubéssemos como a História estuda o presente ela talvez tivesse outra fama!
Neste espaço, proponho apenas reflexões. Não tenho respostas. Mas muitas e muitas dúvidas A intenção, com as perguntas que se seguem, é levar para nossas bases, reflexões sobre o que nós, mulheres e homens, cis ou trans, heteros ou homo, queremos para o nossa país, nosso continente e, vamos pensar longe, para uma nova humanidade, não apenas possível, mas extremamente necessária. Segue o fio!!

A conquista do voto feminino

Em 24 de fevereiro de 1932 o código eleitoral, por meio de um decreto do presidente, garantiu o direito ao voto para as mulheres. Solteiras ou viúvas. Se fossem casadas, era necessária autorização do marido. Somente em 1965 terão os mesmos direitos ao voto que os homens. Mas um ano antes o Brasil havia entrado numa ditadura. Na prática, o direito ao voto foi bem mais tarde.
90 anos após essa obra e o que temos? Mais mulheres na política? E o que isso nos trouxe? Como estamos neste estranho século XXI? O que nós, mulheres emancipadas ainda queremos quando trazemos o feminismo para a pauta?
Vejamos... somos emancipadas? As culpas constantes de ser mulher e mãe, por exemplo, não estão maiores que de nossas antepassadas? Qual fogueira nos estão jogando hoje? A proletária que divide seu tempo entre creche, casa e trabalho, está livre?
Qual o perfil das mulheres que estão dentro do legislativo, do executivo ou as executivas e empresárias? Além, claro, das empreendedoras? São livres? Querem a liberdade de quais mulheres?

O que é ser mulher?

Em épocas de identitarismo falar de um grupo social é algo desafiador. Parece que pertencer à uma minoria é o suficiente para que possa falar em nome dela e ter autoridade sobre o que se fala. Como se o empirismo irreflexivo fosse suficiente. Ou genérico. Ser de um grupo não te torna conhecedor de toda objetividade e subjetividade que ele apresenta, além de não ser um argumento científico para pautar luta, desafios e debates. Claro que não devemos desconsiderar a existência e realidade das pessoas. Há que se ter um cuidado, um olhar para que o acolhimento ocorra, para que a realidade traga para a teoria subsídios para ela se fazer na prática.


O que conquistamos nestes 90 anos? A última eleição federal, de 2018, teve recorde de mulheres candidatas ao Senado, além de ter a primeira mulher trans disputando o pleito. Um aumento considerável em relação aos anos anteriores. Mas das 77 eleitas, 55 fecham com o atual representante da nação, algo também novo, visto que anteriormente a maioria era mais progressista. Eleger mulheres é um avanço, mas limitado. Como várias pautas progressistas, a representatividade feminina também foi sequestrada pelo conservadorismo e pelo liberalismo.

O conteúdo ideológico não é exatamente novidade, tendo em vista que o movimento sufragista foi encabeçado pelas mulheres letradas da elite. Porém, as sufragistas dos anos 20 colocavam preocupações em torno do papel das mulheres, de maneira a não subverter o que se esperava delas dentro das famílias, e combatiam as injustas argumentações de seus opositores.

As comunistas e anarquistas contemporâneas desse feminismo “bem comportado” como diria uma pesquisadora do assunto, não se denominavam feministas justamente para marcar seu lugar de luta e suas reivindicações.
Mas com esse “mundo ao contrário” que encontramos hoje, as reivindicações das mulheres na política são pouco ou nada feministas. Pelo contrário, se afirmar conservadora tem sido um mote político. O que é ser mulher tem sido discutido de forma a trazer o feminino como uma essência. Mas que essência que se quer trazer? Que desconsidera cultura, época, modos de agir?

Vale refletir com as mulheres trabalhadoras, hoje, em sua maioria, evangélicas, como elas veem esse debate. Quais conflitos que elas percebem em suas vidas cotidianas? Como estamos inseridas nessas contradições. Olympe de Gouges, figura histórica da emancipação feminina, foi condenada ao cadafalso. Antes de ser enforcada afirmou: se podemos subir aqui, deveríamos subir na tribuna também. Onde estamos subindo hoje? Qual piso estamos caminhando? Quem caminha ao nosso lado tem as mesmas intenções que as nossas?

Vamos repensar o século XXI. Tivemos limitações, mas muitas conquistas ao longo da história, mas parece que chegamos num momento em que antes de lutar por novas conquistas devemos lutar para manter as históricas. E toda luta é válida desde que esteja claro o que queremos com ela.
E por aí, como está na sua cidade a busca por justiça para as mulheres e, com isso, para toda humanidade?

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