6 pontos unem os 6 anos do gatilho do crime da Braskem e os 60 anos do Golpe de 1964
Por Osvaldo Maciel (professor de História, militante do PCB) - Voz do Povo
O título deste artigo parece um trocadilho com o fato de que 6×3 dá 18, referindo-se ao ano de 2018, ano em que ficou exposto o crime da Braskem para toda sociedade maceioense e alagoana após os tremores ocorridos em 3 de março daquele ano. Mas não há trocadilho algum aqui!
Parece também uma referência a 666, número que para muitos simbolizaria a besta-fera, mas é evidente que não há nenhuma crendice aqui, somente a realidade nua e crua dos fatos históricos que vamos relatar abaixo.
A soma destes números, na verdade, trata-se de uma triste “coincidência” que vemos nesta data. Pretendo demonstrar isto nos seis pontos destacados abaixo.
1– 60 anos do Golpe Empresarial-Militar de 1964
Entre os dias 31/março e 1/abril de 1964, portanto, há 60 anos, ocorreu um Golpe Militar orquestrado e apoiado por diversos grupos civis do Brasil. As principais frações de classe que deram o Golpe e foram beneficiadas pelas políticas do regime ditatorial foram o capital representado pelo grande empresariado nacional e internacional, então o correto é qualificar o golpe como Empresarial-Militar!
Com o Golpe se instalou uma Ditadura que durou 21 anos (se a conta para marcar o fim da Ditadura for 1985) ou 24 anos (se a conta for a Constituinte de 1988).
2- A Empresa Braskem surgiu com a privatização da estatal Salgema
Com o fortalecimento do Grupo Odebrecht durante a Ditadura, foi criado o seu ramo petroquímico, a Odebrecht Química SA. Com o neoliberalismo e a privatização do setor de mineração, o capital privado se apropria da Salgema, indústria estatal feita com o fundo público oriundo do suor do povo brasileiro. Realidade comum em um país de passado colonial e dependente: a burguesia se apropria daquilo que foi construído com recursos do povo! No caso, a privatização gerou a Trikem que, em seguida, será vendida para a Braskem. Portanto, a Braskem surge da privatização da Salgema. E é está empresa a culpada de um crime que ocorreu ao longo de décadas e que se iniciou com a Salgema, em plena Ditadura Empresarial-Militar, e que continuou no período “democrático”
3 - A Salgema foi planejada e criada pela Ditadura Empresarial-Militar!
A Salgema Indústria Química SA foi criada entre 1971 e 1975, inicialmente com o BNDES participando com um volume de ações em uma pequena empresa privada que tinha interesse em explorar o sal-gema descoberto na década anterior. Entre 1974 e 1975, o Governo Ditatorial, por intermédio do BNDES assume o controle total da companhia e está formalizada a estatal de mineração. Ato contínuo, em 1975, sob ordem e interesse da Ditadura foi iniciada a perfuração dos primeiros poços que causariam, décadas depois, a destruição de vários bairros de Maceió. A construção da fábrica de cloro-soda começa em 1974, com seu comércio iniciando em 1977. Estas ações foram realizadas, ainda, com aval dos governos biônicos de Alagoas, que eram governos não eleitos, indicados, pois numa Ditadura não há democracia!
Os dois primeiros governos responsáveis por estas autorizações e funcionamentos foram os de Afrânio Lages (1971-1975) e Divaldo Suruagy, em seu primeiro mandato (1975-1978).
4- Mesmo com a redemocratização, ocorrida entre 1985 e 1988, a Salgema continua operando sem fiscalização adequada, por conta do compromisso de passar a borracha sobre os crimes cometidos na Ditadura!
No começo da década de 1980, o Brasil vivia uma de suas maiores crises econômicas, com estagnação, superinflação e descontentamento generalizado. Este ambiente ajudou a criar as condições para o fim da Ditadura e retorno das liberdades democráticas. Porém, diferentemente do caso da Ditadura Argentina, no Brasil a transição não puniu militares nem seus crimes e erros cometidos. Houve um compromisso de “anistia” para com estes setores, o que potencializou acordos pelo alto que garantiram que a forma como empresas de mineração, tal como a Salgema, continuaria operando tranquilamente, sem licenças ambientais adequadas, sem fiscalização de fato, e com um compromisso de “desenvolvimento” econômico firmado no Palácio dos Martírios e no Palácio do Planalto. Tal desenvolvimento, como se vê hoje, nunca chegou! Nosso liberalismo e neoliberalismo só serve para o andar de cima!
5– Os movimentos de denúncia e contestação foram sufocados e o silêncio da imprensa alagoana foi bem pago!
Com a reabertura política, os movimentos sociais e partidos de esquerda voltam, aos poucos a sua legalidade e atuação. Finalmente, articulado com movimento ambientalistas, militantes comunistas e do recém fundado PT, foi criado o “Movimento pela Vida” que realizou denúncias e manifestações em diversos momentos e espaços na primeira metade da década de 1980. O movimento foi sufocado pelo pensamento dominante. Um grande papel nesta história teve a propagando enganosa da imprensa alagoana, paga com propaganda cara custeada pela Salgema. Os principais órgãos desta campanha eram os jornais Gazeta de Alagoas e Jornal de Alagoas, os dois principais jornais do estado à época. Não por acaso, esta imprensa apoiou o Golpe de 1964 e toda a ditadura, sendo beneficiado por ela em vários momentos durante aquele período. Mais recentemente, uma nova estratégia para calar a impressa do estado foi o então prestigiado prêmio Braskem, que era disputado pelas redações, sem perceber que concorrer ao prêmio significava silenciar sobre todos os problemas da Salgema e da Braskem!
6- Ditadura Empresarial-Militar, Salgema e Braskem: vocês são cúmplices do maior crime provocado por uma mineradora em área urbana do mundo!!
Portanto, em 2024, ano fatídico em que lembramos e denunciamos os 60 anos do golpe e os 6 anos do gatilho do crime da Braskem, não podemos esquecer desta relação concreta e promíscua, documentada historicamente, que, sob a égide do chamado “milagre econômico” impôs uma mineração irresponsável, criminosa e destruidora de lares e vidas, para nossa população!
60 anos de uma Ditadura Assassina!
6 anos dos tremores que expuseram que a Braskem também é uma empresa assassina!
Acompanhe todas as mídias do nosso jornal: https://linktr.ee/jornalopoderpopular e contribua pelo Pix jornalpoderpopular@gmail.com
- Editoriais
- O Jornal