A ESPERANÇA NÃO MORRE: VAMOS MUDAR A EDUCAÇÃO

A ESPERANÇA NÃO MORRE: VAMOS MUDAR A EDUCAÇÃO

Por: Redação ·

Lenina Vernucci da Silva - Militante do PCB em São José do Rio Preto

Como docente, leio muito. Como militante, leio mais ainda. E ler causa as mais diversas sensações – e sempre me pego pensando por que tem gente que não gosta de ler! As sensações são melhores que maratonar qualquer seriado, que é somente visual. Livros dialogam com todos os nossos sentidos. Sabem fazer dar asas mesmo pra quem diz que não tem criatividade.

Claro que um filme, um seriado, causa nós na garganta e inúmeros calafrios. Deixei de assistir alguns por não sentir que daria conta de viver aquilo que senti. Pesado demais. E tem a vantagem de uma passividade mental. Ler exige...bem, exige saber ler! E isso é, com pesar, algo que não está posto para nossa sociedade.
Às vezes acho que ser escritor é conhecer o mais fundo do ser humano: paixões, medos, desejos. Todas as fantasias possíveis. Eu queria ser escritora, mas meu dom com palavras é bem limitado. Prefiro ler.

E numa dessas leituras resolvi que preciso dizer algumas coisas. Há um fantasma nos rondando. E é o da desesperança. Da tristeza. Da falta de perspectiva. São tempos de desistir.

É o que percebo entre os estudantes. Feridas desferidas contra si próprio. Contra o outro que passou na frente da fila da merenda – merenda que nem é tão boa! Contra a namorada que cansou de estar ao lado de alguém assim, possessivo e por isso, foi brutalmente ferida, violentada. Contra o amigo ou amiga que não aceita outras amizades. Contra o diferente que percebemos nos limitando e inquietando. E não nos deixar ser indiferente. Ah o diferente...ele não devia existir!

É o que percebo entre os professoras e professoras. Sem paciência para o tal acolhimento que o Estado mandou fazerem. Como cuidar quando se está igualmente doente? Como acolher e falar de projeto de vida se está sem perspectiva perante a sua própria?

É o que percebo entre a equipe diretora (me recuso a falar gestora, sinceramente!), cansada e nervosa de tanta cobrança e acúmulo de planilhas, indicadores, projetos, e tudo mais que mandam ela administrar, cobrar e fazer. Sem respaldo, sem material e sem entender pra que tudo aquilo.

E em tempos de desistir, de violências e machucados é o momento de lutar mais ainda. Quando parece que não há mais perspectiva é momento de reafirmar que a vida é roda. E se estamos muito pra baixo só há como subir. Não vamos ficar no lugar comum em que o coach é melhor que o filósofo! Explico: uma das minhas maiores críticas à tudo que tá novo no currículo paulista – e na BNCC como um todo – é confundir autoconhecimento com autoajuda. Projeto de vida, por exemplo, é hoje o centro da escola. Tudo deve ser feito para que o jovem possa realizar seu projeto de vida.

É tanta coisa pra se criticar que fica difícil saber o que vem antes. Mas vamos tentar começar pelo material. Há um material de Projeto de vida (PV). E ele é muito ruim. Ele traz atividades e dinâmicas que mais parece um curso mal feito de coach. Sabe o que subiu a montanha e teve que ser salvo pelos bombeiros? Pois é. E termina o conteúdo com as tais rubricas socioemocionais. Algo tão estranho para dizer o mínimo. É importante, óbvio, que as nossas crianças possam pensar sobre suas emoções. E isso deve estar em nosso cotidiano. Porque não é nada fácil lidar com sentimentos. Mas isso ser matéria de escola, atribuída à docentes que fizeram um curso de 40h da própria secretaria da educação? Sério?

Para se falar de sentimentos precisa de preparo. Não dá pra ler um livro de autoajuda e uma apostila tarefeira (quem conhece o material do Estado sabe que as apostilas não são teóricas, há um esvaziamento de conteúdo que é bem sério – quem sabe tema para um próximo texto?) fazer esse trabalho com pessoas que estão realmente adoecidas. E estão assim, pasmem, por conta do sistema!! Ou seja, não adianta falar de projeto de vida se não temos um projeto de sociedade!

E, após aulas e aulas com dinâmicas vazias que sensibilizam mas não produzem efeitos duradouros e transformadores, chega o momento de levar o jovem a fazer sua autoavaliação socioemocional por meio de rubricas autoavaliativas. É tanto auto que esquecem que o EU só é por ter o OUTRO que o faz. E nesse processo de autoconhecimento sem conhecimento o vazio preenche.

As rubricas é uma nova moda de avaliação. Em forma de tabela ela serve para classificar uma atividade ou comportamento. E tem o seu fim específico na atividade – não deve ser utilizada a mesma rubrica para atividades diferentes.
Tabular sentimentos. É sobre isso a autoavaliação de rubricas. E os estudantes são levados a fazer isso por bimestre para verificarem se houve avanço nos degraus de suas emoções. Degraus!! Como se a vida fosse tão simples de se subir ao topo.

A educação empresarial e seus coach de sentimentos diz ter a resposta para o ensino brasileiro. Que vai curar doenças que esses mesmos empresários precisam para viver seus lucros exorbitantes. Ou alguém ainda acredita que quando um rico enriquece a sociedade ganha também? Se alguém acredita nisso, volta uma casa!
As rubricas, o projeto de vida, toda essa bobagem bonita criada é só mais um cavalo de troia nas relações entre quem ensina e quem aprende, processo muito mais complexo que qualquer meia frase de efeito pode reduzir. Exige conhecimento – teórico mesmo! – comprometimento, diálogo profundo que nenhuma tabela consegue medir, relações para além da escola. A escola, essa nossa solitária salvadora, com seu frustrado, porém valente, exército de Brancaleone segue corrigindo aquilo que dizem ser responsabilidade dela para que o fio fino do desespero social não recaia sobre toda a sociedade.

E a sociedade segue ignorado nossas doenças, violências e tristezas.
Tempos assim, é tempos de luta. Seguimos sendo resistência!

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