A Luta por um IHGG que Resgate a Memória da Classe Trabalhadora e das Camadas Populares de Goiás

A Luta por um IHGG que Resgate a Memória da Classe Trabalhadora e das Camadas Populares de Goiás

Por: O Poder Popular ·

Por Maik Hilário - Historiador e professor, milita na corrente sindical Unidade Classista (UC) e na União da Juventude Comunista (UJC).

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) surgiu na primeira metade do século XIX com a finalidade de escrever, organizar e publicizar escritos/estudos sobre História e Geografia do Brasil, sob a ótica de fundação do sentimento de pertença à nação. Nas unidades da Federação também foram criadas instituições equivalentes, a fim de tratar dos pormenores locais. No caso de Goiás, foi criado o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), em 1932, na Cidade de Goiás.

Nesse período, o governo do estado estava nas mãos de Pedro Ludovico Teixeira, interventor de Getúlio Vargas, assinalando propósitos ditos modernizadores em um estado rural, pequeno demograficamente, sem industrialização e com pesadas tradições coronelistas. Ao final da década de 1930, o IHGG se transferiria para a nova capital, no setor Central.

O prédio físico do Instituto, antigo e em Art Déco, está instalado desde então para ser a sua sede, concentrar documentos e reunir os membros das cadeiras. Contudo, nem sempre esteve entre as características destes a formação específica e/ou a realização de trabalhos na área de História e de Geografia. Até os dias atuais, são nomeados membros para postos no IHGG com base em indicações políticas e personalistas. São, em grande parte, alheios às discussões acadêmicas dos dois campos e reprodutores de uma memória positivista, que evoca inclusive – pasmem – o heroísmo de Bartolomeu Bueno da Silva em Goiás. Lamentavelmente, essas nomeações ocorrem com a anuência das grandes universidades do estado, como a UFG e a PUC Goiás.

O controle do IHGG por parte da elite política e intelectual de Goiás tem um itinerário claro: cercear determinadas pesquisas. Não há nada propositivo acerca de pesquisas dirigidas aos povos nativos dizimados no estado, aos negros escravizados, aos quilombolas ou à classe trabalhadora urbana e rural em sua diversidade e multiplicidade. O Instituto compõe, portanto, o encobrimento de processos, fatos, acontecimentos e personalidades que materializaram a trajetória da classe trabalhadora e das camadas populares, sob contradição social e lutas de classes que lhes foram desfavoráveis até o momento. Os resultados dessa trajetória podem ser evidenciados de diversas formas, como concentração fundiária, camadas populares marginalizadas nas periferias da Região Metropolitana de Goiânia e das demais cidades de Goiás, participação política reduzida às eleições e controle pleno das elites econômicas e políticas sobre poderes e instituições públicas.

Para além da devastação intelectual do Instituto – mas a ela articulado –, criou-se mais recentemente um projeto de modernização do prédio físico, executado em parceria público-privada (PPP). Consequentemente, o IHGG passou por um processo de privatização do espaço utilizável, em que foi cedida parte da instalação ao Sicoob (Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil), transformando o antigo Instituto em uma agência da cooperativa, com direito à publicidade estampada em suas paredes e muros. Esse acontecimento com o IHGG não pode ser dissociado do entendimento de que as PPPs, cada vez mais comuns em Goiás, são resultado da ampliação das políticas neoliberais, desresponsabilizando o Estado. Há um latente interesse lucrativo de empresas para acessar meios e espaços públicos, tornando-os inacessíveis à população nas cidades, o que pode ser traduzido como a privatização da vida cotidiana.

É importante a clareza de que a perspectiva da cooperativa Sicoob acerca do IHGG não passa pela divulgação do Instituto ou de seu acervo e trabalhos, mas pela amplitude do acesso a seus serviços privados e em benefício de seus próprios interesses, que se concretizam na localização privilegiada, na implementação de serviços chamativos, como a criação de um “café”, e no restauro milionário – deteriorando o patrimônio histórico.

Essa iniciativa que o governo Caiado promoveu em relação ao IHGG, para além da PPP e de suas consequências, faz parte de uma política de destruição preventiva de espaços genuinamente públicos, os quais, por intermédio de lutas políticas e culturais, podem vir a ser críticos e ativos com relação à recuperação de lutas históricas e a disputas de projetos classistas e populares desenvolvidos no presente.

Por um Instituto Histórico e Geográfico de Goiás que se ocupe da história dos povos oprimidos e que possibilite o acesso da classe trabalhadora!

Publicado originalmente em: https://pcbgo.org/2023/02/22/a-luta-por-um-ihgg-que-resgate-a-memoria-da-classe-trabalhadora-e-das-camadas-populares-de-goias/

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