A política de dividendos da Petrobrás

A política de dividendos da Petrobrás

Por: O Poder Popular · Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

AEPET - Associação dos Engenheiros da Petrobrás

Petrobrás paga 2,5x mais dividendos que Itaú e 4,5x que Vale


Número de empresas que pagam dividendos na Bolsa de Valores cai de 286 para 194; Petrobrás é a que mais distribui

O número de empresas que distribuíram proventos (dividendos ou juros sobre capital próprio, JCP) está menor em 2024. Nos primeiros sete meses do ano, 194 companhias realizaram seus pagamentos, contra 286 no mesmo período de 2023. Uma redução de 32%, ou seja, 92 empresas deixaram de pagar proventos neste ano, entre as quais o maior destaque é a JBS (JBSS3).

Por outro lado, 2024 vem se consolidando como um ano recorde, até o momento, em volume de distribuição de dividendos e JCP, com R$ 172 bilhões pagos aos investidores na soma dos primeiros sete meses do ano, uma evolução de 39%.

A plataforma Meu Dividendo constatou que, estatisticamente, a partir de dados dos últimos sete anos, 54% do total de proventos é geralmente pago no segundo semestre do ano, o que sugere que 2024 pode vir a ser o ano com maior distribuição de dividendos e JCP já registrado na Bolsa de Valores B3.

Na liderança em pagamento de dividendos e JCP está a Petrobrás, com R$ 55,6 bilhões, 2,5 vezes mais que o segundo colocado, Itaú Unibanco, com R$ 22,4 bilhões e quase 4,5 vezes acima da terceira pagadora, a Vale, que distribuiu R$ 12,4 bilhões até julho de 2024.

A Vale (VALE3) acabou de anunciar distribuição de juros sobre capital próprio (JCP) de R$ 2,09 por ação, mesmo em um momento de incertezas pela substituição de seu presidente. Este pagamento equivale a um yield 3,4% (valor do provento dividido pela cotação da ação), ou seja, de remuneração sobre a ação, o que é um excelente resultado alcançado tanto pelo valor expressivo do provento quanto pela baixa cotação da ação atualmente.

Segundo o CEO da plataforma Meu Dividendo, Wendell Finotti, “apesar das expectativas de recorde de pagamentos, os investidores têm que ficar atentos principalmente a fatores que podem arrefecer esse volume. Um deles é o pagamento de dividendos pela Petrobrás (PETR4). Historicamente a empresa anuncia pagamento de proventos em agosto. Segundo Finotti, os investidores estão ansiosos para saberem como se dará a remuneração aos acionistas neste segundo semestre, com a nova administração na estatal.

Outro fator é a expectativa em relação ao cenário econômico. “A disparada do dólar, a manutenção das taxas de juros brasileira e norte-americana, a incerteza sobre as ações para controlar os gastos públicos do governo e as novas regras da reforma tributária têm feito com que as empresas segurem o caixa até que o futuro seja mais previsível”, disse o CEO da Meu Dividendo.

Fonte(s) / Referência(s):Monitor Mercantil

Marcos de Oliveira


Política de investimentos baixos e dividendos altos é mantida pela direção da Petrobrás no 1º semestre de 2024


Felipe Coutinho*

A redução dos investimentos foi o principal fator que possibilitou pagamentos de dividendos altos e insustentáveis pelas direções da Petrobrás em 2021, 2022 e 2023. [1] [2] [3]

A política segue na Petrobrás até o fim do 1º semestre de 2024, investimentos muito baixos possibilitaram pagamento alto e insustentável de dividendos.

Redução dos investimentos para maximizar pagamento de dividendos

A Tabela 1 apresenta, em bilhões de dólares estadunidenses (US$), o histórico dos Dividendos Pagos e o Investimento Líquido, sendo este a soma das aquisições de ativos imobilizados e intangíveis, reduções (adições) em investimentos e investimentos em títulos e valores mobiliários, descontado do recebimento pela venda de ativos (desinvestimentos). [3]

Tabela 1: Dividendos Pagos & Investimento Líquido da Petrobrás, em Bilhões US$

Em 2021 e 2022 a razão média entre os dividendos pagos e o investimento líquido foi de 804%, nos resultados consolidados de 2023 e do 1º semestre de 2024 (2T24) foi de 232,63% e 215,52%, respectivamente, enquanto entre 2005 e 2020 foi de 12,7%, em termos médios. Ou seja, a relação entre o pagamento de dividendos e o investimento líquido no 1º semestre de 2024 foi 18 vezes mais alta se comparada com a média de 2005 a 2020.

Os lucros e dividendos distribuídos hoje, são resultados dos investimentos realizados no passado. É evidente que elevar a distribuição dos dividendos, em detrimento dos investimentos, comprometerá o resultado futuro.

Os números evidenciam que a distribuição de dividendos tem sido desproporcional aos investimentos. Os resultados históricos demonstram que não é possível sustentar tais políticas.

Além de analisar os resultados históricos da Petrobrás é necessário comparar suas políticas de investimentos e de distribuição de dividendos com as de outras grandes companhias petrolíferas integradas.

A Tabela 2 apresenta a comparação dos resultados consolidados do 1º semestre de 2024. [3] [4]

Tabela 2: Resultados consolidados da Petrobrás e grandes petrolíferas do 1º semestre de 2024, em Bilhões US$

No 1º semestre de 2024, a Petrobrás, apesar de ter a menor receita entre as seis empresas, pagou o maior montante em dividendos. Além disso, foi a petrolífera que realizou o menor investimento líquido, sendo de apenas 58% em relação à média das demais.

A relação entre os dividendos pagos e os investimentos líquidos demonstram, de forma cabal, como as políticas da alta direção da Petrobrás são discrepantes em relação a gestão das grandes petrolíferas mundiais. A relação da Petrobrás foi 3,6 vezes superior à média praticada pelas outras petrolíferas.

Ao analisar o histórico da Petrobrás e os resultados de grandes petrolíferas internacionais é evidente que os dividendos que têm sido pagos pela alta direção da estatal, desde 2021, são realizados em detrimento dos investimentos líquidos e, por este, entre outros fatores, são insustentáveis. Sob a direção do governo Lula e as gestões de Prates e Chambriard, nada mudou até agora.

Política de remuneração dos acionistas

A direção da Petrobrás anunciou a revisão da sua política de remuneração dos acionistas. No entanto, a maior parte da política anterior foi mantida, como o pagamento de dividendos trimestrais e proporcionais ao fluxo de caixa livre.

O fluxo de caixa livre é o resultado da geração de caixa descontada do investimento, a política anunciada incluiu o desconto pela aquisição de participações societárias. A política prevê dividendos de 45% do fluxo de caixa livre a cada trimestre, redução modesta na comparação com os 60% da política anterior. Ainda foi incluída a prática de recompra e cancelamento de ações, como mais uma alternativa para valorizar o capital dos acionistas. [5]

Quanto menor o investimento, maiores o fluxo de caixa livre e a distribuição de dividendos, além de mais recursos disponíveis para a recompra e cancelamento de ações, com valorização potencial do capital dos acionistas no curto prazo.

O investimento líquido anualizado realizado no 1º semestre de 2024 foi de US$ 9,2 bilhões, é cerca de 58% menor se comparado à média histórica dos investimentos da Petrobrás, desde 1965, de cerca de US$ 22 bilhões por ano, e 83% menor se comparado com o investimento médio anual, entre 2009 e 2014, de US$ 53 bilhões em valores atualizados.

Não à toa, a política de remuneração dos acionistas foi bem recebida por agentes do sistema financeiro. [6]

No artigo “Insustentáveis Dividendos Pagos pela Atual Direção da Petrobrás” demonstro que os investimentos realizados em 2021 e 2022 são insuficientes para repor as reservas, manter a produção e agregar valor ao petróleo da Petrobrás. Aqui verifico que a situação segue essencialmente a mesma, com os resultados até o fim do 1º semestre de 2024.

Reafirmo a Conclusão

O objetivo essencial das sociedades de economia mista, como a Petrobrás, não é a obtenção de lucro, muito menos aquele lucro não recorrente e de curto prazo, mas a implementação de políticas públicas. O que legitima a ação do Estado como empresário (a iniciativa econômica pública do artigo 173 da Constituição de 1988) é a produção de bens e serviços que não podem ser obtidos de forma eficiente e justa no regime da exploração econômica privada. Não há qualquer sentido em o Estado procurar receitas por meio da exploração direta da atividade econômica. A esfera de atuação das sociedades de economia mista é a dos objetivos da política econômica, de estruturação de finalidades maiores, cuja instituição e funcionamento ultrapassam a racionalidade de um único ator individual (como a própria sociedade ou seus acionistas). A empresa estatal em geral, e a sociedade de economia mista, em particular, não têm apenas finalidades microeconômicas, ou seja, estritamente “empresariais”, mas têm essencialmente objetivos macroeconômicos a atingir, como instrumento da atuação econômica do Estado. [7]

Dos resultados históricos e comparativos, da Petrobrás e de grandes petrolíferas, permitem-se concluir que a redução dos investimentos, a níveis insuficientes para manter reservas e produção de petróleo, as vendas de ativos rentáveis, estratégicos e resilientes à queda do preço do petróleo e seus preços conjunturalmente elevados, possibilitaram pagamentos de dividendos altos e insustentáveis pela direção da Petrobrás desde 2021 até o fim do 1º semestre de 2024.

* Felipe Coutinho é engenheiro químico e presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)

Referências

[1] F. Coutinho, “Insustentáveis Dividendos Pagos pela Atual Direção da Petrobrás,” 2022.
[2] F. Coutinho, “Petrobrás: Direção Parasitária Corta Investimentos para Pagar Dividendos Altos e Insustentáveis,” 2023.
[3] Economatica e Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
[4] Petrobras, “Demonstrações Financeiras Intermediárias Consolidadas”.
[5] Petrobras, “Petrobras sobre Política de Remuneração dos Acionistas,” 2023.
[6] L. Rizério, “Petrobras (PETR4): ações têm salto de até 5,3% com alívio sobre nova política de dividendos; riscos ficaram para trás?,” 2023.
[7] F. Coutinho e G. Bercovici, “Petrobrás é a maior vítima de fake news da história do Brasil,” 2021.
[8] F. Coutinho, “Petrobrás sob Lula: Nada de Novo Depois do 1º Trimestre de 2023,” 2023.
[9] Reuters, “Investimento da Petrobras (PETR4) em novo plano deve ser semelhante ao atual, diz CEO,” 2023.
[10] F. Coutinho, “Prates mantém investimento baixo e dividendo alto na Petrobrás (2T23),” 2023.
[11] F. Coutinho, “Direção da Petrobrás segue míope, investe pouco e paga muito dividendo, revelam os resultados do 3T23,” 2023.
[12] F. Coutinho, “Direção da Petrobrás mantém investimentos baixos e dividendos insustentavelmente altos em 2023,” 2024.

Acompanhe todas as mídias do nosso jornal: https://linktr.ee/jornalopoderpopular e contribua pelo Pix jornalpoderpopular@gmail.com



Compartilhe nas redes sociais