Por Caio Marçal*

Após mais uma uma chacina, pululam declarações por todos os lados. Contudo, com devido respeito, mas algumas análises em torno da barbárie da violência policial contra pobres como fruto do bolsonarismo, estão descoladas da realidade. Não precisa ser muito perspicaz em reconhecer que chacinas operadas pela mão do próprio estado não são produto novo no rol de absurdos inomináveis de nosso triste dia a dia.

A polícia na "democracia burguesa" existe para cumprir um papel primordial: Proteger o patrimônio dos ricos e controlar com mão de ferro os pobres. Não há chacina no Leblon, na Savassi ou no Itaim Bibi. Embora tenha tráfico nos bairros onde moram os ricos, não há ocorrências de violação grave iguais aquela que aconteceram em Vila Cruzeiro. E como os negros são pobres que moram na periferia, há aqui um claro viés que une classe e raça. Sim, meus caros, o edifício moral do capitalismo se estrutura no solo do racismo e no classismo.  A segregação socioespacial presente na cidade não existe por acaso. O seu território é organizado a partir das relações socioeconômicas, gerando bairros ricos com condomínios fortificados e favelas pobres marginalizadas. Em um mundo desigual, é a iniquidade que marca o solo que pisamos na urbe. E essa  desigualdade se expressa em quem é bem vindo na cidade e quem deve ser expelido ou mesmo eliminado dela.

Compreender essas dinâmicas da morte presentes no cotidiano da "Cidade do Capital", como afirma Lefebvre, é fundamental para entender a lógica do extermínio sumário feito pelas mãos da máquina de repressão do estado burguês. Ou seja, é preciso chamar o boi chifrudo pelo nome: Capitalismo.

Sim, o bolsonarismo é mais uma etapa da brutal violência fascista que vítima pobres e negros, mas tal violência não foi esse que a criou. Aliás, se há um mérito do bolsonarismo, é não inventar rodeios ou desculpas esfarrapadas que outrora os operadores do Capetalismo davam para essas brutalidades. Todo verniz hipócrita de polidez e cinismo dos antigos tecnocratas liberaiz não carece de ser usado por Bolsonaro. Bolsonaro apenas diz à luz do dia o que as nossas elites dominantes cacarejam em seus jantares suntuosos de noite.

Vale lembrar igualmente que teve governador de esquerda (Rui Costa/PT) que antes do Bolsonarismo fez piadinha cretina para justificar o massacre da PM contra jovens na Bahia em 2015. Por fim, o dilema da esquerda é tão somente um: Preferirá administrar esse Sistema Diabólico ou o exorcizará para os quintos dos infernos?

Caio César Marçal é Mestre em Sociologia pela UFMG e Doutorando em Educação pela Faculdade de Educação da USP. É Teólogo e pedagogo. Militante do PCB em Sobral-CE.