Chico 523 anos

Chico 523 anos

Por: O Poder Popular ·

Marcelo Chalréo, militante do PCB RJ e coordenador nacional da Rede Modesto da Silveira 

No dia 4 de outubro, Chico completa 523 anos. A bem dizer, Chico tem muito mais idade, milhares de anos, possivelmente. Mas nessa data a representação colonialista que lhe pôs os olhos em 1501 resolveu assim “ batizá-lo ”, uma homenagem à data em que católicos comemoram o Santo Francisco ( o de Assis ). 

Mas Chico infelizmente não tem nada, nada para comemorar nessa ocasião. Ao longo desses mais de quinhentos anos vem sendo atacado de todas as formas possíveis e imagináveis pelo homem, sobremaneira pelo homem branco, nacional ou não. Chico serpenteia por muitos estados, ainda é alcunhado como de integração nacional ( qual integração ?). 

Brota lá na Canastra : límpido, fresco, um rebento atrevido a vencer aqueles paredões milenares. Desce e se encorpa, se encorpa. Mas logo abaixo começam, e isso não é de hoje, os ataques, e são muitos: tolhem-lhe a passagem com barragens; estrangulam quase à morte seus parentes que ainda teimam em lhe garantir o suprimento da água; despejam nele toda sorte de putrefações produzidas pelo homem – algumas não têm cheiro, matam quase que silenciosamente – extraem à força e sem pedir licença, como típico é do capitalismo que sempre preda e preda, aquilo que é sua seiva natural, o fazem às escâncaras e de um modo tão absurdo que custa a crer que ainda reúna forças para seguir em frente.

Chico, por conta de todas essas vilanias, cada vez menos consegue gerar alimentos para aquelas e aqueles que durante um tempo quase infindo dele sorveram, com parcimônia, sapiência e carinho, suas benesses, seus frutos, a gente indígena, quilombola, ribeirinhos, vazanteiros e tantos outros. Esses, os que irmanam um ideal, ainda que não explícito, de outro modo de ser e viver que não atravessado pela espoliação de classe, no qual Chico tem papel central, vão sendo também pouco a pouco liquidados, abastardados, violados nos seus mais comezinhos direitos, assim como Chico. 

Em tempo de secas e queimadas, boa parte delas ocorrentes graças à complacência e cumplicidade criminosa de governos em escalões vários, Chico resiste. Com ele resiste uma parte da nossa gente, que teima em viver do e com Chico. Chico, nesses seus 523 anos o PCB o saúda, saúda sua gente, sua força, a força dos ribeirinhos, vazanteiros, pescadores artesanais, indígenas, quilombolas e populações tradicionais que somados todas e todos constroem na resistência diária e cotidiana o poder popular que haverá de erguer uma nova sociedade.

(esse texto é livremente inspirado em https://meussertoes.com.br/2024/10/01/grilagem-e-invasoes-ameacam-comunidades-da-barra-e-de-muquem-de-sao-francisco/)

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