Comandante Carlos Marighella, Presente!

Comandante Carlos Marighella, Presente!

Por: O Poder Popular ·

No dia 04 de novembro de 1969 era assassinado, numa armadilha fascista da ditadura burgo-militar de 1964, o dirigente comunista, Carlos Marighella...

Abaixo segue o prefácio ao livro "ESCRITOS DE MARIGHELLA NO PCB", escrito pela camarada Ivan Pinheiro, à época, Secretário Geral do PCB.

Marighella: comunista e herói do povo brasileiro

Quando começamos a examinar o presente e, ao lado disso, o futuro das lutas sociais, pensamos na história como lição, buscando nela conexões para marcharmos na direção de novos combates que poderão levar os trabalhadores ao enfrentamento de classe. São lutas contra o capital que deseja estabelecer a barbárie como forma de sociabilidade no mundo contemporâneo. Diante desse cenário de lutas em aberto, olhar para o passado como lição, lutar no presente e criar possibilidades de vitória emancipatória para o futuro, é o caminho dos comunistas brasileiros. E dentro desse contexto gostaria de lembrar a memória e a história de um comunista exemplar, o herói do povo brasileiro, Carlos Marighella.
Carlos Marighella entrou para o Partido Comunista Brasileiro (PCB), através da Juventude Comunista, em 1933, na sua cidade natal, Salvador. Nesse período era estudante de engenharia e, um pouco antes, em 1932, havia sido preso em uma manifestação de rua contra a intervenção getulista na Bahia.

Após o levante comunista de 1935, Marighella, diante da repressão montada pela polícia de Vargas, vai para o Rio de Janeiro atuar na reorganização do Partido. No entanto, é preso em 1936, quando é selvagemente torturado. Sai da cadeia em 1937, deslocando-se para o trabalho de organização do Partido, em São Paulo. Todavia, mais uma vez é preso, dessa vez condenado, fica seis anos no cárcere e é libertado em 1945, quando passa a integrar o CC do PCB e é eleito deputado federal, constituinte, em dezembro de 1945.

Desenvolve uma intensa atividade de conexão entre os trabalhadores e a bancada comunista, liderada por Luiz Carlos Prestes, até a cassação dos parlamentares do PCB, em 1948.  De volta à clandestinidade, com a cassação do registro do Partido e dos mandatos dos nossos deputados, Carlos Marighella atua firmemente na organização dos trabalhadores, tendo intensa participação de vanguarda na “Greve dos 300 mil”, em São Paulo.

Com o desenrolar dos acontecimentos golpistas de 1964, defende uma posição política diferente do CC do PCB e termina optando por outra forma de luta contra a ditadura: a luta armada, na qual tombou, diante de uma armadilha da repressão, em 04 de novembro de 1969.

Como nos afirmou Florestan Fernandes, sobre Marighella: “Um homem não desaparece com a sua morte. Ao contrário, pode crescer depois dela, engrandecer-se com ela e revelar sua verdadeira estatura à distância. (...) Ele morreu consagrado pela coragem indômita e pelo ardor revolucionário. (...) Agora, esse homem volta à atualidade histórica”.

Marighella foi um homem de ação, mas com grande capacidade de formulação e de compreensão da realidade histórica, tendo nos deixado um legado que atualiza o exame da realidade concreta e nos distancia do reformismo contemporâneo, que localiza nas tarefas inconclusas da revolução burguesa, as mediações táticas para uma aliança policlassista. Para este dirigente comunista, “A tática marxista é incompatível com qualquer evolucionismo. Ela tem em conta, no dizer de Lenin, a ‘dialética objetivamente inevitável da história da humanidade’. A tática marxista utiliza e desenvolve a consciência, as forças e a capacidade de luta do proletariado. Ao mesmo tempo orienta todo o trabalho preparatório no sentido do objetivo final visado pelo proletariado, capacitando-o a resolver na prática as tarefas que lhe estão reservadas pela história”.

Sem qualquer pretensão de querer se apropriar da imagem de Marighella (que pertence a todos os brasileiros que lutam contra a opressão), o PCB quer marcar seu orgulho por ele ter militado por décadas em nosso Partido, tendo sido Deputado e Constituinte em 1946 e, principalmente, um dirigente partidário combativo, organizador, formulador e [Encaminhado de Malta]
agitador, este adjetivo que soa como acusação para a burguesia e como elogio para os comunistas.
Por isso, a Fundação Dinarco Reis criou a coleção Biblioteca Comunista para resgatar, debater e divulgar os escritos de importantes militantes do nosso Partido, prestando uma justa homenagem a homens e mulheres que estiveram na trincheira da revolução brasileira. Neste primeiro número trazemos os escritos de Carlos Marighella na imprensa comunista, através do trabalho introdutório dos professores e camaradas Milton Pinheiro e Muniz Ferreira.

É impossível falar de Marighella sem falar do PCB - a grande escola onde se formou e militou a quase totalidade de sua vida como revolucionário – e sem ao menos tangenciar alguns aspectos das divergências sobre a linha política pendular do Partido da década de 50 à de 80 do século passado, que geraram uma verdadeira diáspora dos comunistas brasileiros.

É impossível também falar de Marighella, fundador da ALN (Ação Libertadora Nacional), sem lembrar de outros revolucionários que também divergiram da orientação política do PCB após o golpe de 1964, adotando formas de luta diferenciadas, como Apolônio de Carvalho, Joaquim Câmara Ferreira, Mário Alves e tantos outros, bem como Luiz Carlos Prestes, no começo dos anos 80.
O PCB, em sua reconstrução revolucionária, olha com respeito para todos os que saíram do Partido àquela época e se mantiveram na esquerda revolucionária. Os que tentaram liquidar o PCB e o abandonaram, pela direita, merecem o nosso desprezo.

Este respeito vem da compreensão de que as divergências com a linha política do Partido têm sua origem nos equívocos que contribuíram para a derrota popular em 1964. Em parte, suas raízes estão na chamada Declaração de Março de 1958, que privilegiava alianças com setores da burguesia e a via institucional de transição ao socialismo. Com esta linha, o PCB não se preparou para a possibilidade de resistência popular diante do golpe.

No entanto, respeitar e compreender o surgimento destas dissidências do PCB após 1964 não significa concordar com a forma de luta adotada por algumas delas. Apesar de legítima e em geral inevitável para o trânsito ao socialismo, a luta armada não era adequada àquela correlação de forças e ao nível de organização e mobilização da resistência popular à ditadura.

Diante dos equívocos cometidos antes de 1964, consideramos correta, até 1978, a linha política adotada pelo VI Congresso do PCB, em 1967, de enfrentamento à ditadura pela via do movimento de massas e da frente democrática, até porque não restavam outras alternativas. Novos erros vieram depois, nos anos 80, com a manutenção da política de frente democrática que já não encontrava aderência à atualidade política e social daquele período histórico. Foi a década perdida do PCB, do ponto de vista revolucionário, marcada pela inércia diante da luta de classes.
No entanto, não estamos entre aqueles que negam ou subestimam o papel da insurgência armada adotada por algumas organizações no período que, ao preço de muitas vidas que nos fazem falta, também contribuíram para a derrubada da ditadura.

É preciso registrar para a história que a ditadura não escolhia suas vítimas apenas em função dos meios com que lutavam. Entre 1973 e 1976, foram assassinados dezenas de camaradas do PCB, cujos corpos jamais apareceram, dentre eles quase todos os membros do Comitê Central que aqui atuavam, na clandestinidade, combatendo a ditadura burguesa-militar.

Ao homenagearmos Marighella, não queremos transformá-lo apenas em um personagem da história, mas principalmente fazer dele um exemplo de luta para as novas gerações de militantes comunistas e uma lição para a revolução brasileira.

Ivan Pinheiro

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