Comuna Que Pariu: alegria emancipatória carioca e vilaboense!
Escrito por correspondente - portal PCB Goiás
Após a crise sanitária da pandemia de covid-19 e a derrota nas urnas do Governo Bolsonaro, o carnaval de 2023 foi, sem dúvida, uma festividade muito esperada pelo povo brasileiro, que saiu às ruas com muita alegria, alívio e esperança. Essa disposição é bastante convergente com o entendimento que nós, comunistas, temos do carnaval, como uma festa popular que se configura como um espaço de luta em que, por meio da diversão, da celebração e da confraternização, o povo manifesta seus anseios.
O Bloco Comuna que Pariu é uma feliz e vermelha legitimação da voz popular no carnaval brasileiro. Heitor Cesar, membro do Comitê Central do PCB e cofundador do Comuna que Pariu, para falar do Bloco e do seu importante papel, referenciou os famosos versos de Paulo Leminski: “Na luta de classes, todas as armas são boas: pedras, noite e poemas”. É nessa toada que o samba, a bateria, a arte e a cultura carnavalesca se levantam como meios de combate à estrutura social burguesa e capitalista e de fortalecimento do poder popular.
Por uma iniciativa da União da Juventude Comunista (UJC), o Comuna que Pariu foi organizado, em 2009, na cidade do Rio de Janeiro, não só como espaço de confraternização entre camaradas e amigas/os, mas também como instrumento crítico na luta de classes. Em 2013, foi reorganizado pela Célula de Cultura do PCB-RJ e, mediante a intervenção cultural, passou a extrapolar o carnaval e o cenário local do Rio de Janeiro, tornando-se um bloco de lutas durante todo o ano.
Desde então, agregando a simpatia de militantes da esquerda política brasileira e de centenas foliãs e foliões, o Bloco vai às ruas, compartilhando alegria, cultura e crítica política. É assim que, ano a ano, temas contemporâneos que interessam aos setores populares são postos em pauta durante a maior festividade popular do Brasil, sempre repercutindo contra o machismo, a misoginia, o racismo e a homofobia e exercendo-se como um instrumento de luta.
O Comuna busca problematizar assuntos sempre muito atuais e contextualizados. Como exemplo, deve ser lembrado o tema de 2018. Com a retirada de importantes conquistas da classe trabalhadora, o Bloco levantou a temática da precarização da vida das trabalhadoras e dos trabalhadores e a sua luta diária. Com a leveza e a alegria próprias do carnaval, mas colocando a luta e o sonho à frente, uniu a todos nós, lembrando-nos de que “além da dor, também nos une o amor”.
Em 2023, o Bloco levou às ruas a pergunta: “Que país é esse?”, que torna o povo vítima de fakenews, que usa o nome de Deus para maltratar trabalhadores, que anula direitos e censura o grito da nossa classe. Mas, com irreverência e sempre no movimento dialético, também gritou que o povo se cansou e se organizou, resultando na queda do primeiro fascista, e convocou todas/os nós a deixamos o amor entrar, escolhermos um lado e nos juntarmos, pois “a voz do povo é a voz da nação”.
Por essas suas características e no intuito de propagandeá-las é que o Comuna que Pariu se autodenomina Bloco Revolucionário do Proletariado, o que muito vai ao encontro das palavras do professor e camarada Mauro Iasi, em artigo de 2016 sobre o Comuna, quando nos lembrou de que “para os comunistas, tudo que é vivo reage e luta, mesmo quando dança, canta e ri”.
A força e a resistência do Bloco reverberaram tão ativa e vivamente que ele foi formado em outros estados. É o caso de Goiás onde, em 2018, no intuito de buscar mais participação da comunidade, o Comuna que Pariu foi lançado na cidade de Goiás por iniciativa de membros do PCB-GO. Contando com o apoio da Escola de Samba Mocidade Independente do João Francisco, que gentilmente cedeu o espaço, emprestou instrumentos e forneceu aulas desses instrumentos, o Bloco foi se consolidando, ganhando espaço local e atenção da população. O camarada Lindomar Santos Júnior, militante da Unidade Classista e cofundador do Comuna na Cidade de Goiás, esclarece que, desde o primeiro momento, toda a atuação do Bloco sempre foi atravessada pela ideia de que, por meio da alegria, da arte e da cultura, se deve levar à comunidade a perspectiva comunista, do trabalho em equipe, da vida em comunidade, aproximando-a não só dos símbolos da classe trabalhadora, como a foice e o martelo, mas pondo em destaque os interesses da própria classe.
Assim como no cenário nacional, os anos de pandemia paralisaram as atividades do Bloco na cidade de Goiás, mas desde 2022 o Comuna voltou a levar alegria e cultura popular à comunidade, resultando em uma bela apresentação nas ruas do Centro Histórico em 2023. Os ensaios, inclusive, são todos abertos à população, muitos ocorrem nas praças da cidade. No espaço cultural da região, o Bloco é bastante atuante também, tendo sido chamado para participar de eventos variados, com destaque para o FICA (Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental), que, em 2022, realizou sua 23ª edição.
Diferentemente do Comuna nacional, na cidade de Goiás, o Bloco ainda não é conduzido por um tema anual, mas faz muito bonito o grupo de percussão, sua bateria, formada por trabalhadoras, trabalhadores e estudantes que, a despeito de todas as variadas formas de opressão vividas, usam esse espaço como instrumento de libertação, puxando a todas e todos, por meio do ritmo, da melodia, da cultura e da resistência. Como as e os comunistas têm uma visão complexificada dos processos, buscando abarcar a totalidade dialética, convém citar as palavras de Heitor César, que, para destacar a atuação do Comuna que Pariu no carnaval de 2023, foi a fundo nessa compreensão da bateria: “Ser parte de algo é mais que ser parte, é ter a essência da totalidade do algo. E nossa bateria, juntando poesia e filosofia, toca corações e mentes. Enquanto encanta quem ouve, modifica quem toca, que cada vez mais se sente membro do todo, não por perder sua individualidade, mas por ser potencializado em coletivo”.
Robson Moraes, professor da UEG e geógrafo, muito bem sintetizou o Comuna, como sendo uma brecha anticapitalista, “uma pequena ranhura que se pretende trinca para rachar a concretude do sistema dominante”, que se expande em razão da busca incessante e corajosa por novas formas de convivência. E é nesse cenário repleto de luz, cores, sonhos e resistência que o Comuna que Pariu da Cidade de Goiás se constrói, buscando, por meio do som que produz, da força que carrega e da alegria que compartilha, lutar contra toda e qualquer forma de subjugação da vida humana, exigindo à classe trabalhadora a plenitude do viver.
Referências e textos relacionados:
CESAR, Heitor. Comuna Que Pariu 2023… Site Partido Comunista Brasileiro. [s. l], 22 fev. 2023. Disponível em: https://pcb.org.br/portal2/30004. Acesso em 22 fev. 2023.
CESAR, Heitor. Comuna que Pariu! Se o tempo fecha, nosso bloco manifesta. Site Partido Comunista Brasileiro. [s. l], 25 fev. 2019. Disponível em: https://pcb.org.br/portal2/22430. Acesso em 22 fev. 2023.
COMUNA que Pariu! 2017: LGBT tem classe. Site Partido Comunista Brasileiro. [s. l], 1º fev. 2017. Disponível em: https://pcb.org.br/portal2/13414. Acesso em: 22 fev. 2023.
GOIÁS também tem Comuna que Pariu! Site Partido Comunista Brasileiro. [s. l], 12 fev. 2020. Disponível em: https://pcb.org.br/portal2/24890. Acesso em: 22 fev. 2023.
IASI, Mauro L. O bloco “Comuna que Pariu!” como fenômeno cultural e político. Blog da Boitempo. São Paulo, 11 fev. 2016. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2016/02/11/o-bloco-comuna-que-pariu-como-fenomeno-cultural-e-politico/. Acesso em: 22 fev. 2023.
MASKOTE, Paulo Winícius. Bloco Comuna que Pariu é a novidade no Carnaval de Goiás. Site Partido Comunista Brasileiro. [s. l], 6 mar. 2019. Disponível em: https://pcb.org.br/portal2/22492. Acesso em: 22 fev. 2023.
MORAES, Robson de Sousa. O Comuna Que Pariu como Foco de Guerrilha Cultural. Goiás, 10 maio 2022. Facebook: goyazcomunista21. Disponível em: https://facebook.com/goyazcomunista21. Acesso em 22 fev. 2023
MOZER, Nathália. Comuna que Pariu! Site Partido Comunista Brasileiro. [s. l], 21 fev. 2020. Disponível em: https://pcb.org.br/portal2/24958. Acesso em: 22 fev. 2023.
Publicado originalmente em: https://pcbgo.org/2023/02/23/comuna-que-pariu-alegria-emancipatoria-carioca-e-vilaboense/