Cultura Popular: e nós com isso?

"Este samba é pra você
Que vive a falar, a criticar
Querendo esnobar, querendo acabar
Com a nossa cultura popular"
A Batucada dos Nossos Tantãs -
Compositores: Adilson Gavião / Robson Guimarães / Sereno

Dia 11 de abril de 1923 foi fundada uma das principais escolas de samba do Rio de Janeiro, a Portela. A agremiação é responsável por algumas inovações no âmbito dos desfiles: em 1935, foi a primeira escola a introduzir uma alegoria - um globo terrestre idealizado por Antônio Caetano; no carnaval de 1939 apresentou aquele que é considerado o primeiro samba enredo, também introduziu a comissão de frente e, mais tarde, a primeira escola a uniformizá-la.

Os comunistas sempre estiveram profundamente ligados à cultura popular brasileira. Uma prova disso é a ligação do PCB com as Escolas de Samba no Rio de Janeiro, com maior expressão e destaque nas décadas de 1940 e 1950.

Em 1934 foi fundada a União das Escolas de Samba com o objetivo de ajudar a organizar o desfile de Carnaval no Rio de Janeiro e buscar mais apoio. Era uma época em que o samba, apesar de começar a ser aceito, ainda sofria preconceitos e perseguição da polícia e das autoridades. Nos anos 1940, parte dessa perseguição se dava pela proximidade entre as escolas de samba e o PCB.

O PCB procurava abraçar uma ampla variedade de ações na esfera das artes e da cultura e, obviamente, não deixou para trás o mundo do samba, que tinha na Tribuna Popular duas colunas mais constantes: “O povo se diverte” e “O samba na cidade”. Ainda que publicadas de forma mais espaçada ao longo do ano, entre dezembro e fevereiro se tornavam bem mais constantes.

Deste período cabe destaque ao carnaval de 1946: ficou conhecido como Carnaval da Vitória, após a Segunda Guerra Mundial. Havia muita expectativa em relação a esse carnaval, pelo valor simbólico que trazia. Os sambas enredo para esse carnaval receberam espaço exclusivo para divulgação na Tribuna Popular. Os temas das músicas publicadas eram, centralmente, a vitória das forças democráticas e a participação dos brasileiros na guerra.

A aniversariante do dia, a Portela, foi campeã desse carnaval com o enredo “Alvorada do Novo Mundo”.

Durante toda a sua história o PCB buscou aproximação com a cultura popular como canal de diálogo com a classe trabalhadora. Não é à toa que é possível encontrar, nos arquivos da repressão política, uma grande preocupação das autoridades de plantão, agindo como cães de guarda dos interesses da classe dominante, com a relação estabelecida entre os comunistas e as escolas de samba.

E não dá pra falar de cultura popular sem falar do direito de acesso à cultura.

Apesar do lazer e cultura serem direitos garantidos na constituição, no mundo real são relegados à segundo plano em relação aos demais direitos fundamentais e sociais ou, ainda, negados às camadas mais pobres da sociedade. No Rio de Janeiro, por exemplo, se pode citar os valores estratosféricos dos ingressos para os desfiles das escolas de samba durante o carnaval, bem como, nesse ano de 2022, a proibição do carnaval de rua com argumento da pandemia, mas liberada as festas em casas noturnas, com o objetivo claro de favorecimento do lucro dos grandes empresários.

Nosso país é admirado e conhecido por sua diversidade cultural e produção artística. No entanto, o que é produzido em solo nacional é inacessível para uma grande parcela da população, existe nítida desproporção entre a oferta dos produtos artísticos e o acesso a eles. Os mais afetados obviamente são população pobre, jovem, pessoas negras, de uma forma geral, pessoas que residem em locais menos privilegiados.

Também cabe citar a desvalorização do profissional da cultura, que não é entendido como trabalhador pelo senso comum, além do grande problema da informalidade do trabalho que atinge esse setor desde muito.

Faz-se necessário a defesa ostensiva em prol da garantia do acesso a toda produção cultural da humanidade, da luta em favor da valorização dos trabalhadores da cultura e de políticas de incentivo mais abrangentes, haja vista que as que existem são, ainda, bastante insuficientes.

Pelo acesso à cultura!
Pela valorização do trabalhador da cultura!
Pelo poder popular!

Acompanhe as pré-candidaturas do PCB!

Nathália Mozer - Historiadora, pesquisadora da Fundação Dinarco Reis e militante do PCB em Nova Friburgo - RJ