Do ódio ao lucro: Recuperar a revolta LGBT+ contra o Neoliberalismo

Do ódio ao lucro: Recuperar a revolta LGBT+ contra o Neoliberalismo

Por: O Poder Popular ·
Os textos de opinião não necessariamente correspondem à opinião do Conselho Editorial e são de exclusiva responsabilidade dos (as) autores.

Doug, militante da UJC RJ e estudante de ciências sociais

No dia 7 de janeiro de 2025, todo o mundo foi surpreendido com o anúncio de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, big tech responsável por parte das maiores redes sociais do mundo, acerca do fim da checagem de fatos nas redes sociais.

Além disso, foi anunciado também que as restrições de publicações seriam suspensas, visando maior “liberdade de expressão”. Pessoas LGBTQIAPN+ foram as mais afetadas pela mudança nas redes, que agora permite que essa população sofra toda forma de violência virtual sem nenhuma restrição.

Paralelo a isso, vemos um crescimento do conservadorismo e da lgbtfobia em todo o mundo, sendo expresso em países com cada vez mais leis anti-lgbt — tendo como maior foco a população trans, travesti e não binária. De acordo com pesquisas, o Brasil, por exemplo, tem pelo menos 77 leis antitrans em vigor. ¹

É hora de nós, LGBTQIAPN+, rompermos com a lógica reformista que nos submete à concessões com o capitalismo e recuperarmos a revolta da luta anti-sistêmica do nosso movimento, que confronte as estruturas de poder.

O papel do neoliberalismo na cooptação do movimento

O neoliberalismo, assim como o capitalismo, vem historicamente explorando e marginalizando nossos corpos, mas ele também se apropria das nossas lutas para neutralizá-las. O que antes costumavam serem símbolos de revolta e da nossa luta por libertação e reconhecimento, como a bandeira do arco-íris, agora enfeitam vitrines e campanhas publicitárias de grandes empresas, que lucram com os nossos símbolos e que, como no caso das redes sociais, nos abandonam quando percebem que é mais lucrativo para o capital fomentar o ódio. Enquanto isso, seguimos cotidianamente enfrentando a violência, exclusão e a pobreza.

Essa cooptação não é um gesto de apoio, mas uma estratégia para esvaziar o potencial revolucionário das nossas pautas. Quando nossas demandas são transformadas em meras busca por representatividade, o capital desvia o foco da luta contra os meios que perpetuam nossa opressão: a exploração capitalista, o racismo e o patriarcado. Assim, promove-se uma diversidade superficial, que não confronta as raízes da desigualdade e, assim, o sistema segue priorizando lucro acima das nossas vidas.

Ao nos contentarmos com conquistas simbólicas e abandonarmos nossa revolta, abrimos espaço para a expansão do conservadorismo, que vem utilizando sua repressão como ferramenta para reafirmar sua hegemonia.

Nossa história é de revolta

Historicamente, a comunidade LGBTQIAPN+ tem como marco sua revolta e resistência contra um sistema que sempre nos oprimiu. Uma das maiores e mais conhecidas foi a revolta de Stonewall, em junho de 1969. Revolta essa que não foi um mero pedido por reconhecimento, mas uma insurreição contra a repressão por parte do Estado, a exclusão social e, sobretudo, contra a violência policial. Lideradas por pessoas trans racializadas, como Marsha P. johnson e Sylvia Rivera, Stonewall foi uma indignação contra um sistema que tentava nos apagar. Reconhecendo que a opressão de gênero e sexualidade é parte integrante do sistema capitalista e do patriarcado.

Entretanto, a revolta é constantemente esvaziada e distorcida. Tendo sido o acontecimento que gerou a parada do orgulho, hoje em dia é reconhecido apenas como marco de inclusão, mas retirado de todo o seu caráter político e radical. A luta pela destruição das estruturas de opressão é apagada. O que deveria inspirar novas revoltas é apropriado pelo capital e usado como ferramenta para propagar um mito progressista neoliberal.

Nossa história deixa claro que a verdadeira libertação vem da organização coletiva. Não podemos mais acreditar que um sistema feito para nos marginalizar nos ofereça liberdade. A nossa revolta precisa ser a revolta por um mundo novo. O futuro da nossa luta depende de rejeitarmos a falsa promessa de inclusão neoliberal, recuperarmos nosso caráter de revolta e de nos organizarmos coletivamente pela construção de alternativas radicais.

As bi, as gays, as trans e as sapatão, tão tudo organizada pra fazer revolução!

¹ - https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/01/brasil-tem-pelo-menos-77-leis-antitrans-em-vigor-em-18-estados.shtml

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