Entrevista do Momento – documentário sobre os 100 anos do PCB: Edmilson Costa
Entrevista por Milton Pinheiro, publicado originalmente no jornal O Momento
1) Qual é o significado histórico desse documentário sobre os cem anos do PCB?
Esse é um documentário que vai resgatar a história centenária do Partido Comunista Brasileiro, uma das mais belas trajetórias de uma Organização Revolucionária em todo o mundo, pois ao longo desse período o PCB esteve incondicionalmente na luta dos trabalhadores, da revolução brasileira e do socialismo. Nessa longa trajetória, o PCB produziu os maiores heróis populares do século XX, e a grande maioria das conquistas dos trabalhadores brasileiros têm a digital do PCB.
A burguesia e o imperialismo nunca perdoaram os comunistas por sua ousadia de lutar pelo socialismo no Brasil, e a prova disso é que o PCB passou a maior parte de sua existência atuando na clandestinidade. Basta dizer que, de 1922 a 1985, o PCB só teve dois anos de legalidade; nos outros 63 anos teve que operar clandestinamente. Milhares de militantes foram presos, torturados, muitos mortos e, na última ditadura, um terço do Comitê Central foi assassinado na tortura e até hoje seus corpos continuam desaparecidos. Portanto, o documentário vai abordar essa trajetória, enfatizando os momentos mais importantes da bela história de lutas dos comunistas brasileiros.
2) O que você poderia discorrer a respeito da abrangência desse trabalho?
Esse trabalho vai abordar, com uma linguagem moderna e criativa, os principais momentos da história de lutas do PCB desde o início em 1922, ainda na República Velha. Abordaremos as lutas do Bloco Operário Camponês na segunda metade da década de 1920, a insurreição de 1935 e a repressão que se abateu sobre os comunistas, as lutas contra o nazi-fascismo, o papel internacionalista do PCB ao orientar seus militantes a se incorporar à Força Expedicionária Brasileira que lutou na Segunda Guerra Mundial e a bravura de nossos camaradas combatentes.
O documentário abordará, ainda, a legalidade do Partido após a derrota do nazismo e a eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, onde o PCB elegeu vários deputados e um senador, Luís Carlos Prestes, no período em que o Partido chegou a ter mais de 200 mil membros. Abordaremos também a colocação do Partido na ilegalidade novamente e a cassação dos mandatos de todos os parlamentares do Partido, as lutas populares que o Partido articulou como em Trombas e Formoso e O Petróleo é Nosso, e os agitados primeiros anos da década de 1960 quando o Partido teve grande influência na luta pelas reformas de base.
O filme também aborda a resistência contra a ditadura, a volta do exílio dos dirigentes e a política de conciliação de classes do período, bem como a tentativa de liquidar o PCB e a dura luta para resistir à liquidação e iniciar o processo de reconstrução revolucionária, que resgatou as tradições revolucionárias do PCB e o colocou novamente como protagonista das lutas populares no país.
3) Como foi construído o roteiro desse filme?
O roteiro do filme, feito por mim, é resultado de mais de dois anos de pesquisa envolvendo os momentos mais significativos da história do Partido, bem como buscando entrevistar personagens marcantes ainda vivos dessa história. Ao contrário dos roteiros tradicionais, esse roteiro busca unir a narração da história do PCB, intercalada com as músicas de cada período, de forma a compor uma trajetória que combine dialeticamente a estética da narrativa com a trilha sonora, proporcionando ao espectador uma sensação de estar dentro da cena do filme, uma vez que as músicas correspondem a cada época da filmagem.
Em um documentário que envolve cem anos de história, é evidente que foram escolhidos os momentos mais significativos desse período, numa linguagem moderna e rítmica, de forma a proporcionar àqueles que estão assistindo o filme um panorama abrangente desse centenário de luta. Pensando em dar uma dinâmica mais envolvente ao documentário, o roteiro também prevê animações gráficas para ilustrar e não cansar o espectador, e passar a noção de que valeu a pena a luta dos comunistas pela sociedade da abundância e da felicidade humana, que é a sociedade socialista.
O documentário também dá uma atenção especial ao processo de reconstrução revolucionária, especialmente porque é desse período que temos mais imagens e vídeos sobre a nossa história. Tive a sorte de resgatar mais de 60 horas de fitas em VHS, e depois passamos esse material para a linguagem digital, o que é um manancial visual imenso sobre nossa resistência à liquidação. O período anterior é intercalado por pequenos trechos de filmes históricos, fotos de dirigentes, da imprensa do Partido, das lutas operárias, das greves históricas e das lutas em geral de nosso povo.
Espero que tenhamos conseguido contar uma história à altura das lutas de nosso heróico Partido.
4) Como estão sendo realizadas as filmagens deste trabalho?
As filmagens envolvem, antes de mais nada, um grande trabalho de pesquisa. Primeiro, é necessário encontrar fotos da época, fotos dos dirigentes, fotos dos movimentos sociais e populares em luta, fotos dos jornais da época, filmes históricos sobre os primeiros trabalhadores fabris; então, juntar esse material, classificar e depois filmar. Tem muitos camaradas envolvidos nesse trabalho, que está sendo coordenado por mim e pela camarada Fran Rebelatto, pois estamos mais diretamente envolvidos com a execução do filme.
Grande parte do nosso material de pesquisa está sendo realizado no ASMOB (Arquivo do Movimento Operário Brasileiro), que estava na Itália e que, com a anistia, voltou ao Brasil. Esse arquivo, hoje na UNESP, tem uma importância fundamental para os pesquisadores brasileiros porque conseguiu reunir uma enorme documentação sobre a história do proletariado brasileiro e dos comunistas. É um dos arquivos mais completos sobre a história dos trabalhadores em nosso país. Também estamos pesquisando em outros arquivos, como o Edgar Leuenroth, na Unicamp, além de outros centros de documentação, como o Arquivo Nacional.
Também entrevistamos vários camaradas, alguns ainda vivos, outros que morreram após realizarmos as entrevistas, incluindo historiadores, de forma a compormos um painel muito abrangente de nossa história. Esse é um trabalho duro, praticamente todo realizado voluntariamente, mas que vale a pena estar sendo feito.
5) Quais são as principais dificuldades encontradas para o desenvolvimento do documentário?
Nossa principal dificuldade está relacionada aos recursos financeiros para realizar esse documentário. Como todos sabem, não somos uma empresa e nem temos recursos para realizar grandes produções como no cinema profissional. Esse roteiro foi aprovado anos atrás pela Lei Rouanet, mas não conseguimos levantar os recursos para fazer o documentário porque as empresas não queriam patrocinar um filme sobre os comunistas. Portanto, nessa atual fase da comemoração dos cem anos, resolvemos lançar um pequeno vídeo para a captação de recursos junto ao público em geral, e assim podermos ter um mínimo de recursos para a produção. Ainda não conseguimos alcançar a meta.
Todos estão convidados a participar desse documentário, contribuindo financeiramente para a sua realização. De qualquer forma, estamos realizando as entrevistas, as filmagens dos documentos, organizando o material de gravação que temos – tanto do processo de reorganização revolucionária, quanto das manifestações que participamos nos últimos anos –, para depois que tudo isso estiver terminado iniciarmos a montagem do filme.
6) Qual é a programação para o término do filme?
Nosso objetivo é terminar o filme no final de setembro, se tudo correr como estamos planejando. Se tivéssemos conseguido os recursos que prevíamos quando o roteiro foi aprovado pela Lei Rouanet, o filme já estaria pronto. No entanto, como tudo está sendo feito sem recursos, demora mais um pouco. Esse é um trabalho duro, praticamente todo realizado voluntariamente, mas nós acreditamos que conseguiremos terminar o documentário no prazo que estamos planejando.
7) Quem são os entrevistados e personagens desse histórico documentário?
Nós entrevistamos vários camaradas que têm relação com a nossa história ou que participaram diretamente das lutas populares que o nosso Partido desenvolveu ao longo desse período. Entrevistamos a comandante Dirce Machado, das lutas guerrilheiras dirigidas pelo PCB em Trombas e Formoso na década de 1950, e que ainda está viva e militando no Partido; o José Salles, último membro do Comitê Central eleito no VI Congresso e ainda vivo; Lúcio Bellentani, que dirigiu os Comitês de Fábrica no início da década de 1970 e que morreu logo depois da entrevista; o coronel Silvestre, do Comitê Militar nos anos 1970 e único sobrevivente daquele Comitê, também ainda vivo; a historiadora Marly Viana, membro do Comitê Central no exílio; e ainda vamos entrevistar outros personagens que podem contribuir para o filme.
Esperamos fazer um documentário que encha de orgulho todos aqueles que lutam pela revolução e o socialismo no Brasil, e que resgate a memória dos camaradas que contribuíram para a história do PCB.
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