Greve dos Petroleiros pelo Teletrabalho: "Faltou luz, mas era dia"... E o dia amanheceu diferente

Gustavo Marun - Militante da Unidade Classista dos Petroleiros, membro da Comissão de Mobilização e CIPA do EDIHB.

No primeiro horário, ao desembarcar do metrô e deixar a estação, foi essa a música que escutei no auto falante. Uma pérola preciosa do saudoso Marcelo Yuka, artista e cronista do cotidiano cheio de belezas e vicissitudes da periferia. O refrão ganhou outro sentido para mim, imediatamente. Faltou luz, eclodiu a greve, cessou a energia essencial que só o trabalho produz. Faltou luz, parou o trabalho, faltou a mercadoria que só o trabalho produz, trabalho de responsabilidade de nós, e somente de nós, trabalhadores. Mas era dia. Pois era Greve, não descanso!

E não foi um dia comum. Algo inédito já se revelava no ar e se concretizou na data. Simplesmente derrubamos o antigo mito de que o Administrativo não faz greve! E operamos coletivamente uma mudança do tipo mais difícil: uma mudança cultural. Encorajamento, cumplicidade, inconformismo e empatia eram os sentimentos que prevaleciam. As declarações de apoio e adesões vinham de pessoas as quais jamais se poderia imaginar. As comissões de mobilização por local de trabalho (em especial EDISEN e EDIHB) serviram de porto seguro, irradiando de dentro pra fora a auto-organização dos Petroleiros.  A diretoria teve a infeliz proeza de conseguir unificar a categoria, em especial o ADM, e pô-la em movimento. Afinal, não há argumento que justifique querer fazer valer tamanho contrassenso de retroceder a roda da História, gerar infelicidade na força de trabalho e inclusive correr sérios riscos de impactar negativamente a produtividade.

Ao chegar ao EDIHB, outros Petroleiros vinham se aglutinando, numa confluência que seria até normal e cotidiana, se a motivação fosse trabalhar. Mas aqueles corajosos colegas estavam ali por uma razão extraordinária: demonstrar inequivocamente sua insatisfação. Em outras palavras, transformar a indignação em movimento e desafio contra o arbítrio. Ali a mágica aconteceu. O grupo crescia e virou um verdadeiro mutirão de convencimento aos hesitantes que, tímidos, pensavam em entrar e furar o movimento.... Até repensarem suas decisões. O efeito progressivo do convencimento aumentava ainda mais o grupo. Ninguém ousava discordar da razão do movimento, os pouquíssimos que o confrontavam o faziam visivelmente por medo de represália.

Uma vez estabilizada a situação, com uma atmosfera de que o outro lado jogara a toalha, ao menos nesse dia, o grupo partiu para se somar ao epicentro do movimento: o EDISEN. Transpetro, Cenpes e outras unidades também se somaram dignamente. Ali a multidão se configurou e se apresentou alinhada e irmanada como nunca, exercendo Democracia com D maiúsculo, pois realizava planos verdadeiramente debatidos coletivamente por todos. Em suma: Um dia memorável.

No dia seguinte, em uma apresentação da diretoria (em ressaca) para a força de trabalho, uma verdadeira enxurrada de perguntas sobre o tema constrangiam e perturbavam a tentativa de demonstração de falsa normalidade. A ponto de forçá-los a fazer uma jogada ensaiada. Uma resposta única, dobrava a aposta. Firme na forma, vazia no conteúdo, pois não trouxe nenhuma novidade, apenas apresentando falsos argumentos para explicar o inexplicável. O que só reforça a tese de que as verdadeiras razões estão ocultas (apesar de desconfiarmos seriamente quais sejam), pois obedecem a interesse alheios aos nossos, provavelmente escusos.

Diretoria e presidência revelaram uma enorme pequenez. Perderam uma grande oportunidade de demonstrar bom senso, ouvir de forma séria a vontade geral e abrir uma negociação sincera. Ao contrário, se entrincheiraram, num sinal que revela, no fundo, fraqueza e insegurança. Talvez não saibam, mas a categoria a partir daquele dia já não é a mesma. Os Petroleiros se colocaram em marcha, e essa marcha não tem mais volta!

Acompanhe todas as mídias do nosso jornal: https://linktr.ee/jornalopoderpopular e contribua pelo Pix jornalpoderpopular@gmail.com