Israel: Exército declara impossibilidade de eliminar o Hamas; governo Netanyahu rebate

Daniel Hagari diz que ‘história de destruir’ o grupo palestino é ‘jogar areia nos olhos do público’

Redação Opera Mundi - São Paulo, 20 de junho de 2024,

Em entrevista concedida à emissora israelense Keshet 13, nesta quarta-feira (19/06), pela primeira vez desde 7 de outubro de 2023, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês), contra-almirante Daniel Hagari, reconheceu a impossibilidade de eliminar o Hamas. De acordo com o jornal The Times of Israel, o representante parecia estar “ressaltando as tensões entre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e altos funcionários da Defesa sobre a gestão da guerra em Gaza”.

“Essa história de destruir o Hamas, ou fazer o Hamas desaparecer é simplesmente jogar areia nos olhos do público”, declarou Hagari.

“O Hamas é uma ideia, o Hamas é um partido. Está enraizado no coração das pessoas. Quem pensa que podemos eliminar o Hamas está enganado”, admitiu, acrescentando que “se o governo não encontrar uma alternativa, [o Hamas] permanecerá” na Faixa de Gaza.

Em seguida, as declarações do porta-voz da Defesa foram rebatidas pelo próprio gabinete de Netanyahu.

“O gabinete político e de segurança liderado pelo primeiro-ministro Netanyahu definiu como um dos objetivos da guerra a destruição das capacidades militares e governamentais do Hamas”, disse em comunicado, garantindo que “as forças de Israel estão, obviamente, comprometidas com isso”.

Posteriormente, a unidade das IDF também emitiu um comunicado afirmando que os militares estavam comprometidos com os objetivos de guerra declarados pelo governo, incluindo a destruição da governança do Hamas, e justificando que as falas de Hagari se tratavam da “erradicação do Hamas como uma ideologia”.

“Qualquer alegação ao contrário está tirando as observações do contexto”, acrescentaram as IDF.

Twitter/IDFSpokespersonPorta-voz das Forças de Defesa de Israel (DF), contra-almirante Daniel Hagari
Tensões entre Netanyahu e a Defesa

Em maio, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, instou Netanyahu a desenvolver planos estratégicos para a governança pós-guerra de Gaza, alertando que o fracasso em encontrar um substituto para o grupo palestino prejudicaria as conquistas militares de Israel. Na avaliação de Gallant, o Hamas seria capaz de se reagrupar e reafirmar o controle do enclave.

Na ocasião, o ministro também rechaçou a ideia de um governo militar e civil israelense coordenando Gaza após o fim das operações na região, divergindo da opinião compartilhada por alguns membros de extrema direita da coalizão de Netanyahu.

De acordo com o The Times of Israel, reportagens televisivas locais relataram que, nos bastidores, o chefe de gabinete das IDF, Herzi Halevi, e o chefe do Shin Bet, a Agência de Segurança de Israel, Ronen Bar, “brigaram recentemente com Netanyahu sobre a questão envolvendo o planejamento estratégico”.

Já na semana passada, o líder da Unidade Nacional e membro-chave do gabinete de guerra, Benny Gantz, renunciou ao cargo após o premiê se recusar a apresentar o plano em questão dentro do prazo estipulado.

Outros recentes atritos envolvendo os militares e o governo incluem as “pausas táticas” nos combates em Rafah, no sul de Gaza. A medida anunciada pelo exército e destinada para permitir que os caminhões de ajuda humanitária cheguem à passagem de Kerem Shalom, controlada pelo governo de Israel, foi classificada como “inaceitável” pelo premiê.

“Para alcançar o objetivo de destruir as capacidades do Hamas, tive que tomar decisões que nem sempre foram aceitas pela liderança militar”, afirmou Netanyahu durante uma reunião de gabinete neste domingo (16/06).

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