Lila Ripoll, poeta e comunista

Lila Ripoll, poeta e comunista

Por: O Poder Popular · Imagem: Delfos / Espaço de Documentação e Memória Cultural

Nascida em 12 de agosto de 1905, em Quaraí/RS, Lila Ripoll deixou a sua cidade natal em 1927 para estudar piano em Porto Alegre, formando-se no Conservatório de Música, na Escola de Belas Artes. Em 1930, ingressou no magistério estadual e lecionou Canto Orfeônico no Grupo Escolar Venezuela. Nessa época, aproximou-se do grupo de escritores gaúchos que ficou conhecido como a Geração de 30, que contava com a participação de Dyonélio Machado, Carlos Reverbel e Cyro Martins, entre outros.

O assassinato de seu primo e irmão adotivo, o advogado e jornalista Waldemar Ripoll, que se opunha à política centralizadora de Getúlio Vargas e apoiou a Revolta Constitucionalista de 1932, a abalou profundamente. O crime, que teria sido encomendado por figuras ligadas a Flores da Cunha, aliado de Vargas, influenciou no sentido de que Lila se aproximasse das causas revolucionárias. A autora participou da Aliança Nacional Libertadora em 1935 e, admiradora de Prestes, intensificou sua atuação junto à Frente Intelectual do Partido Comunista (PCB), que reunia renomados escritores gaúchos, seguidores do ideário marxista.

Atuou também no Departamento Cultural do Sindicato dos Metalúrgicos, ministrando aulas de música e literatura, além de realizar espetáculos teatrais e fundar o Coral dos Metalúrgicos. Ao lado de Delmar Mancuso, montou a peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes.

Nos anos 1940, a poeta foi saudada pela crítica como a escritora mais representativa de sua geração no Rio Grande do Sul. Entretanto, por sua associação ao Partido Comunista, ficou marginalizada até a década de 1980, quando os estudos literários e as pesquisas acadêmicas, no contexto da luta pelas liberdades democráticas e decadência da ditadura, permitiram que a sua obra poética e sua trajetória intelectual fossem resgatadas.

A Revista Horizonte e a poesia engajada na luta

Com a colaboração de intelectuais e artistas sul-riograndenses em sua maioria ligados ao PCB, a Revista Horizonte foi uma importante publicação cultural que tratava das artes visuais, de cinema, de arquitetura, de literatura e outros temas. Quando Lila Ripoll tomou a frente da direção da revista no final de 1950, ao mesmo tempo em que os artistas Carlos Scliar e Vasco Prado ingressaram no Conselho da Redação, o periódico se tornou um órgão cultural do PCB, denunciando as desigualdades sociais e apresentando como princípios a defesa da paz e da cultura, a questão nacional e a luta contra o fascismo.

Durante toda a trajetória da revista, Lila assinou diversos poemas próprios e traduções, sempre com a missão de ser um instrumento de ação e conscientização política. Em 1951, Lila Ripoll participou da organização do 4º Congresso Brasileiro de Escritores. Neste mesmo ano, o livro Novos Poemasrendeu a Lila Ripoll, em Praga, na então Tchecoslováquia, o Prêmio Neruda da Paz.

Em 1954, publicou o longo poema “Primeiro de Maio”, sobre o massacre do Dia do Trabalhador em Rio Grande, retratando a passeata operária interrompida por violenta repressão policial, que provocou a morte de quatro operários e um policial.

Em 1964, já com câncer, Lila foi detida por um breve período para interrogatório pela ditadura militar devido às suas atividades políticas. Na época preparava seu último livro, Águas Móveis, que permaneceria inédito até 1967. Faleceu em fevereiro do mesmo ano, cercada por amigos e admiradores.

Sua coerência política e ardorosa luta por uma sociedade justa e igualitária servem mais do que nunca de exemplo às novas gerações de mulheres que se dedicam à poesia e à ação militante pelo Socialismo.

Fonte: Agenda FDR 2023 - Arte, Cultura Popular e Revolução

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