Maceió: a cidade das tragédias anunciadas
Jornal A Voz do Povo
Bastou pouco mais de um dia de chuva, apenas isso, para que as cenas desoladoras de ruas alagadas, pessoas caindo em buracos, tirando eletrodomésticos de suas casas, medo e pânico se repetissem, mais uma vez, de novo, como aconteceu no ano passado, e no outro, e no anterior etc. O inverno – período que mais chove em Alagoas – está chegando, as previsões são de muita chuva (como em todos os anos) e vemos os mesmos problemas estruturais de sempre pela cidade, principalmente nos bairros periféricos, tanto das partes alta e baixa de Maceió.
Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Trata Brasil a capital figura na oitava posição no ranking das cidades com os piores índices de saneamento básico do país. Se em períodos de estiagem isso já é bastante danoso para a população, pois, acarreta acúmulo de lixo, poluição, aumento de insetos, risco de doenças. Quando chove o quadro fica ainda pior, porque soma-se à tudo isso o risco de perdas materiais, desabamento de casas em áreas de encosta e até mesmo o risco de morte. A parcela mais precarizada da classe trabalhadora maceioense vive em pânico durante o inverno. E com toda a razão!
Uma cidade com mais de um milhão de habitantes (Fonte: IBGE) onde apenas 43,03% da população tem acesso a coleta de esgoto e só 50,58% desse esgoto é tratado (Fonte: Instituto Trata Brasil) é uma verdadeira receita do caos. Enquanto os burgueses locais vivem em condomínios privados usufruindo dos melhores serviços possíveis de planejamento urbano, a massa trabalhadora enfrenta uma realidade cruel. Andar por Maceió é constatar que a falta de saneamento básico em vários bairros é tratado como algo natural, não é visto como uma grande problema, pois, sempre foi assim. Conviver com um péssimo serviço de tratamento de esgoto se tornou parte da rotina desses lugares. Em bairros como Benedito Bentes, Cambona, Cidade Universtária, Vergel do Lago, Guaxuma, Rio Novo e tantos outros salta aos olhos a negligência dos orgãos públicos no atendimento de demandas tão básicas, mesmo que os impostos de toda essa gente estejam em dias. Nesses mesmos lugares citados as pessoas ainda sofrem com falta de água, tipo de problema típico do século passado!
O Plano Diretor de Maceió, documento que rege o desenvolvimento urbano e ambiental da cidade, está para ser revisado. Segundo o Estatuto da Cidade o município tem a obrigação de fazer uma revisão do plano a cada 10 anos, aqui ele está desatualizado a quase 20 anos. O crime causado pela atividade predatória da Braskem, que alterou profundamente o funcionamento da capital e causou o êxodo de quase 70 mil pessoas para outros bairros, completou 5 anos e até agora o planejamento urbano não foi revisto. Linhas de trem e de ônibus foram paralisadas, escolas públicas foram fechadas, a configuração do comércio mudou, avenidas importantes foram interditadas, isso para citar apenas alguns problemas causados por essa empresa e que prefeitos, governadores, deputados e vereadores fecharam e continuam fechando os olhos, afinal, eles não são atingidos.
É hora do conjunto das forças populares agitarem o debate público sobre mobilidade urbana, saneamento básico, direito universal à moradia digna e criar o seu projeto de cidade, a Maceió de quem trabalha, de quem a constrói. Deixar que os mesmos parasitas de sempre determinem as regras desse Plano Diretor é semear mais miséria, precariedade e mortes dentre aqueles(as) que já levam uma vida de penúria e sofrimento.
Publicado originalmente em: https://www.vozdopovo.org/maceio-a-cidade-das-tragedias-anunciadas/
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