Márcia Tiburi e o autoritarismo antidemocrático do sectarismo petista
Robson de Sousa Moraes / Geógrafo, Professor e militante do PCB na cidade de Goyaz
Em entrevista realizada pelo canal de YouTube TV 247, a filósofa, professora e ex candidata ao governo do Rio de Janeiro, Márcia Tiburi, revela uma face do autoritarismo e sectarismo que insiste em sobreviver em setores da esquerda brasileira. Segundo Tiburi, quem vota no candidato Luis Inácio “Lula” da Silva somente no segundo turno, “não tem dignidade”. Já causa estranheza esta sentença partir de uma professora e profissional da filosofia, pois, ambas atividades demandam da aceitação de uma pluralidade de possibilidades alimentadas pelo livre exercício de perceber e compreender o mundo. Tal sentença revela ainda, um profundo desconhecimento da história da esquerda nacional que sempre foi diversa e se esforça por construir uma unidade na diversidade.
No combate à ditadura militar que se instalou no Brasil em 1964, foram varias as formas adotadas para enfrentar a violência política oriunda dos quartéis e orientadas pelos EUA. Só no debate da resistência armada, havia os que defendiam a estratégia da Guerra Popular Prolongada (aplicada na Guerrilha do Araguaia). Contraditando com esta opção havia a estratégia guevarista do Foquismo (aplicada por Mariguela).
A possibilidade de Insurreição popular era também posta naquela conjuntura. Mesmo em um ambiente político de violência aberta contra toda e qualquer forma de crítica ao regime, a esquerda se manteve plural em suas formas de agir. No limitado processo de redemocratização, pelo alto, que definiu o retorno das eleições para Presidente, a esquerda se apresentou com mais de um candidato e assim se manteve em várias disputas eleitorais .
A unidade das Esquerdas não vai acontecer na marra. Tal processo depende de uma ampla negociação programática que para o ano de 2022 já se revelou inviável pelas enormes diferenças que separam as táticas e estratégias de diversos agrupamentos. A tese da indignidade levantada pela professora é expressão da despolitização implementada por uma tática eleitoreira que procura esconder os motivos políticos da imediata impossibilidade de unidade. Mais do que uma questão moral, não houve consenso no programa a ser adotado pelo possível governo Lula. A reforma trabalhista vai ser revogada ? A decisão da cúpula petista foi a de endereçar esta decisão ao seus novos aliados encabeçados pelo ex governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Para PCB, PSTU e UP, a Burguesia paulista já tem uma resposta para essa questão e, obviamente, não é a resposta adequada para enfrentar o achatamento salarial e a recuperação do poder de compra dos trabalhadores. Haverá Reforma Agrária ? Ou se repetirá a política de investimentos públicos no agro-tóxico-negócios ? Nunca é demais lembrar que o reacionário governo FHC assentou mais trabalhadores sem terra do que o período governado por Lula. Haverá Reforma urbana ? Ou se repetirá a política de favorecimento a empreiteiras que agravou a segregação espacial nas grandes cidades? Haverá a democratização dos meios de comunicação ? Ou se repetirá a política de não aplicação das decisões das conferências nacionais de comunicação ? Utilizaremos nossas forças armadas para intervir em outros países tal qual ocorreu no Haiti? Será mantido o superávit primário que penaliza os investimentos sociais e favorece o rentismo financeirizado?
Estas são questões centrais que a campanha de Lula não quer responder para não comprometer as pretensões de seus aliados.
O sectarismo despolitizado da professora Tiburi, é uma tentativa antidemocrática de rotular e desqualificar a esquerda não lulista .
O esforço de derrotar Bolsonaro e manter a despolitização, a desmobilização popular e o viés autoritário, aliado a uma política que não ataca estruturalmente os problemas do país, só reforça a necessidade de existir outras candidaturas que indiquem um outro mundo possível.
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