Marx: em memória | Há 140 anos Marx era enterrado no Cemitério de Highgate

Marx: em memória | Há 140 anos Marx era enterrado no Cemitério de Highgate

Por: O Poder Popular · Foto: Igor Brovarnik/TASS

Texto escrito por Tom King e publicado no jornal Tribune em 17/03/2024

Tradução por Maria Francisca Theberge - militante do PCB-RJ.

O funeral de Karl Marx foi pouco frequentado. As estimativas variam, mas é improvável que mais de duas dúzias de pessoas de luto estivessem presentes – de fato uma reunião modesta para o pai do materialismo histórico e profeta do fim do capital.

“O que o proletariado combativo europeu e americano, o que a ciência histórica perderam com [a morte de] este homem não se pode de modo nenhum medir”*, elogiou Friedrich Engels, amigo e patrono de Marx, num discurso fúnebre aos poucos sortudos, em um sábado, 17 de março de 1883.

Exilado, apátrida e recentemente viúvo, Marx morrera três dias antes, em casa, em Londres, com bronquite e pleurisia, aos sessenta e quatro anos. “Por um erro estranho… sua morte só foi anunciada por dois dias”, disse o jornal The Graphic . “Quando seus amigos e admiradores correram para sua casa em Haverstock Hill, para saber a hora e local do enterro, ele já estava no chão frio.”

Em 1924, a recém-nascida União Soviética, certamente consciente da despedida bastante desanimadora do seu pai fundador, “pediu ao Ministério do Interior permissão para remover o seu corpo do Cemitério de Highgate”, relatou o Daily Express, e levá-lo “para Moscou para ser re-enterrado na Praça Vermelha com a devida honra” - talvez ao lado de Lênin, recentemente embalsamado em janeiro daquele mesmo ano.

A família restante de Marx recusou, com evidente ressentimento: “os seus restos mortais e a sua memória não deveriam ser monopolizados pelo atual comunismo soviético”, escreveu o seu neto, o político socialista francês Jean Longuet, ao primeiro-ministro Ramsey MacDonald.

Mas isso não impediu que a humilde sepultura se tornasse um local de peregrinação. Por fim, na noite de 23 de novembro de 1954, a pedido de um comitê recém-formado, Marx – junto com suas companhias enterradas junto à ele: a esposa Jenny, a filha Eleanor, o neto Harry Longuet e a trabalhadora doméstica que trabalhava com sua família Helene Demuth – foi transferido para “um local mais adequado para a construção de um memorial', mais acima na colina.

O pedestal de mármore (que envolve a lápide original) e o gigantesco busto de bronze, juntos formando um dos dois únicos monumentos de lápides listados como Grau Um (o que significa que o local é uma importância nacional ou histórica) na Grã-Bretanha (o outro é o mausoléu da família Soane na Velha Igreja de St Pancras), foram projetados e esculpidos pelo artista comunista Laurence Bradshaw (1899-1978). Ele também escolheu as inscrições: o discurso de Marx no Manifesto Comunista – “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos” – e as linhas finais de suas Teses sobre Feuerbach: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”

O busto não era, afirmou ele, “um monumento a Marx como um retrato da sua fisionomia”, mas sim “a força dinâmica do seu intelecto e a amplitude, visão e poder da sua personalidade”.

Bradshaw pode ter sido idealista, mas também foi pragmático: “Como uma pessoa que esteve envolvida durante algum tempo conturbado nas lutas do movimento socialista, senti que iriam ocorrer alguns ataques e tentativas contra este túmulo. Por isso, nós adotamos alguns dos métodos de construção conhecidos pelo engenheiro militar.”

Ele não estava errado. Em janeiro de 1970, uma bomba explodiu na base da tumba, suásticas foram pintadas em ambos os lados e uma serra foi colocada no nariz de Marx. Em outras ocasiões, a apreensão foi completamente eliminada.

Mais recentemente, em Fevereiro de 2019, a lápide original foi permanentemente danificada por vários golpes de martelo, e escreveram “doutrina do ódio” e “arquiteto do genocídio” com tinta vermelha no mármore. O local agora é monitorado por câmeras.

Foto: Maxwell Blowfield/PA

O Marx Grave Trust realiza uma oração no túmulo quase todos os anos desde 1956. No domingo passado, quase 140 anos desde a morte do filósofo, um grupo de cerca de cinquenta pessoas se reuniu no Cemitério de Highgate, mas o prato do dia era a admiração, não destruição.

Coroas foram depositadas, fotografias foram tiradas e a breve cerimônia terminou com uma versão da Internacional Comunista. As árvores do cemitério ganhavam vida e os narcisos floresciam; os pássaros cantavam com mais melodia que a multidão.

*Tradução do trecho do “Discurso Diante do Túmulo de Karl Marx” (1883) retirado de https://www.marxists.org/portugues/marx/1883/03/22.htm.

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