
Por Jeferson Garcia, membro da coordenação Nacional do Coletivo Negro Minervino de Oliveira e militante do PCB Maringá
— Toma cuidado com o seu cabelo porque ele está muito próximo ao meu rosto e pode me causar doença— Ouviu Welica Ribeiro, que estava num vagão do metrô de São Paulo, quando a passageira ao seu lado lhe cuspiu essas palavras.
O racismo possui um forte elemento cultural e ideológico. Como se comporta um povo que é oprimido?
— Estou emocionalmente esgotada — contou Welica em entrevista ao programa da TV Globo.
Me lembro de um jovem psicólogo contando como sua entrada na universidade o fez abandonar sua forma de se vestir, as músicas que ouvia e até as palavras que usava. O que parecia ser um desenvolvimento, estava mais para uma conformação à norma padrão, onde os gostos e as tradições de um menino negro foram se embranquecendo, sob a máscara de uma evolução. Em 2022, uma escola de Goiânia pediu para que as mães dos alunos estivessem maquiadas e com os cabelos escovados para participarem de uma sessão de fotos com os filhos. Nada disso é por acaso. Um médico, militante e revolucionário martinicano chamado Frantz Fanon dizia que em uma guerra colonial um dos objetivos é destruir os sistemas de referências, isto é, ridicularizar os valores, o vestuário, as técnicas, etc. É fazer o colonizado internalizar que não possui cultura. O negro passa, assim, a entender que ele não tem história e que não é, ao menos, um ser humano. Ora, eis um aspecto cultural e ideológico do racismo. Por mais que não exista hoje uma guerra colonial declarada, o racismo ainda cumpre uma função social para além dos seus objetivos primários. Ele ainda organiza as hierarquias sociais, é instrumento de dominação, exploração e apassivamento.
Não à toa, o opressor mais competente é aquele que convence seus subalternos a amar, almejar e identificar-se com sua imagem, seu cabelo, suas vestimentas, o que significa, convencer o subalterno amar tudo que vem do colonizador, do civilizado – tudo que é do branco. Em 2023, um estudo que resultou no relatório “cabelos sem limites, como nós”, organizado pelo Instituto Sumaúma e agência Rpretas, em parceria com a SEDA, revelou que 70% das mulheres negras se sentem pressionadas a alisar o cabelo. Ao viver essas relações, é provável que algumas pessoas negras incorporem o preconceito racial na forma de valores e ideias que vão constituir a forma como enxergam o mundo e se enxergam nele. Welica Riberio registrou boletim de ocorrência contra a mulher branca que a ofendeu na Linha Azul. As pessoas que estavam no vagão ficaram revoltadas.
— Racista! Racista!— gritaram contra a mulher que saiu escoltada da estação. Com Welica RIbeiro aprendemos que é tempo de gerar revolta, é hora de chacoalhar os vagões dos racistas.
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