"Olha a bala! É verdade!"
Gabriel Marques - Professor do IFF, militante do PCB e da Unidade Classista.
Perto de finalizar a primeira semana de junho, o interesse do momento deveria ser preencher nossas agendas com as próximas festas juninas e compartilhar fotos e vídeos das que já animaram os primeiros dias. Entusiasta dos festejos juninos, fiquei deslumbrado vendo alguns stories de uma rua repleta de pessoas dançando, sorrindo, se divertindo em sua comunidade. Ao rever e habilitar o som, a confraternização era interrompida, ouvindo tiros e visualizando correria e desespero. Em poucos segundos, o que seria tema para um baita noticiário, mostrando a auto organização de uma comunidade vivenciando as delícias e os prazeres das apresentações das quadrilhas, passou a ser mais uma catástrofe protagonizada pelas forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro.
"Olha a cobra! É mentira! Olha a bala! É verdade!" Infelizmente, o que se manifestava como arte, ritmo, dança, cultura e poderia ser uma encenação conduzida pelo narrador da quadrilha se desmoronou de tão real, tão cruel, tão assassino! As balas, que eram de verdade, não puderam ser narradas em tempo para que Herus Guimarães Mendes escapasse e pudesse acompanhar o crescimento de seu filho de 2 anos, em tantas outras festas juninas.
Na comunidade do Santo Amaro, no Catete, neste dia 6 de junho de 2025, teriam sido a "quadrilha" ou "bombas na guerra, magia" entendidas como mais alguma apologia!? Enquanto a fatídica guerra às drogas prossegue com consequências horrendas para moradores(as) de comunidades e periferias, outras tantas quadrilhas - não encenadas para os festejos juninos - prosseguem sua atuação serene, tranquila e lucrativa, pelos palácios, festanças da elite ou classe média, em bairros nobres e chiques, onde a polícia pede licença e por favor para transitar. Ao preto, pobre, favelado, à periferia, não cabe a ousadia de escolher o que quer ouvir, o que quer dançar, onde vai festejar, que a classe dominante apresenta seus tentáculos para fazer valer seus princípios e interesses, com prisões, esculachos, preconceitos elitistas, privatização do lazer, bombas, porradas ou tiros.
Numa sexta-feira à noite, o que deveria ser mais uma trincheira de alegria em que ninguém matava ou morria, foi impossibilitado pela ação desastrosa do Batalhão de Operações Policiais (BOPE) da PM, ceifando a vida de mais um jovem trabalhador, atingindo e ferindo outras cinco pessoas e deixando crianças, idosos(as) e dezenas de outras pessoas em situação de desespero, diante dos disparos.
Mais uma morte precoce, mais um assassinato, mais uma comunidade chorando, lamentando e pedindo por paz e sossego, mais um dia sob essa perspectiva de gerir uma PM e um Governo Estadual que assassinam sua população mais pobre, enquanto estão cada vez mais distantes das origens e raízes dos verdadeiros donos dos negócios.
Aos familiares e amigos(as) de Herus Guimarães Mendes, nossos sentimentos. Aos feridos e ao conjunto de moradores do Santo Amaro, nossa solidariedade. E que as festas juninas, o funk, o rap, o trap, o samba e momentos de lazer e cultura possam prevalecer no seu cotidiano, onde as explosões frequentes sejam apenas as de amor!
Acompanhe todas as mídias do nosso jornal: https://linktr.ee/jornalopoderpopular e contribua pelo Pix jornalopoderpopular@gmail.com