Os Comunistas e o Dia do Samba

Os Comunistas e o Dia do Samba

Por: O Poder Popular ·

Heitor Cesar Ribeiro de Oliveira – Historiador e Membro do Comitê Central do PCB e secretario político do PCB RJ

2 de dezembro é o dia nacional do samba. Nessa data, em diversas cidades só país, independente de quando caia, ocorrem rodas de sambas, encontros e festas populares, mas também ocorrem apresentações em bares fechados somente para pagantes, com músicos mal remunerados, tocando para turistas ou para setores que o mais próximos que chegarão a realidades populares será cantarolando um samba.

Mas essa data, assim como tantas outras, precisa ser disputada, precisa ser reencontrada com seus fundamentos, com sua raiz, com sua origem. Precisa ser uma data de resistência cultural.
2 de dezembro se tornou o dia nacional do samba com influência direta dos comunistas brasileiros, com destaque para a figura de Edison Carneiro. Precisamos beber na história para entendermos essa relação entre comunistas, samba e resistência cultural que espelhariam no dia 2 de dezembro.

Foi em 1962, mais precisamente entre 28 de novembro e 2 de dezembro de 1962, que ocorreu o I Congresso Nacional do Samba. Evento organizado pela Confederação Brasileira das Escolas de Samba, pela Associação Brasileira das Escolas de Samba, pela Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, pelo Conselho Nacional de Cultura e pela Ordem dos Músicos do Brasil.

À frente do Congresso, presidindo-o, estava o pesquisador e escritor Edison Carneiro, considerado um dos maiores etnólogos brasileiros e um reconhecido estudioso sobre a população negra brasileira e sua cultura, pesquisador sobre o folclore e cultura popular brasileiros. Edison Carneiro foi também um comunista. Desde os anos 1930 era militante do PCB, Partido Comunista Brasileiro, e desde sua juventude e época de estudo, na Bahia, havia se colocado, não apenas como um estudioso, mas também como um defensor da cultura nacional e popular, um intransigente defensor da preservação e divulgação da cultura negra e popular.

Edison Carneiro presidiu o I congresso Nacional do Samba e também foi o responsável pela redação da carta do encontro, a Carta do Samba. Na carta, falava antecipadamente de instituir o dia 2 de dezembro como o Dia do Samba. Essa data deveria servir de referência na preservação e na divulgação do samba e da cultura popular. Após o Congresso, o projeto de lei que instituiria o dia do samba foi apresentado e aprovado no plenário da Assembleia Legislativa, contudo, a data seria vetada pelo então governador do Estado da Guanabara, atual cidade do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda. Posteriormente, o veto do governador seria derrubado pelo plenário, e o dia 2 de dezembro passaria a ser oficialmente o Dia do Samba. Tanto aqui no Rio, como em Salvador, e posteriormente em diversas cidades e Estados. Tanto o projeto do Rio como de Salvador tiveram a Carta do Samba como documento base ou como inspirador de seus textos.

No ano seguinte, em 1963, ocorreria o II Congresso Nacional do Samba novamente no Estado da Guanabara. E novamente em seu texto final falava da Carta do Samba e da data de 2 de Dezembro como um dia a ser o Dia Nacional do Samba.

Diz o texto do boletim de encerramento do II Congresso Nacional do Samba:
“Nas escolas de samba da Guanabara e nos redutos principais do samba, nessa data, o samba será festejado com o repicar de tamborins, com o ‘roncar’ das cuícas e com uma alvorada de 21 batidas no ‘surdo’. O tão esperado Dia do Samba também será comemorado pelas emissoras de rádio que apresentarão programas com gravações de nossa consagrada música popular.”

Desa forma, Edison Carneiro, comunista do PCB, autor de uma vasta e necessária obra que aborda o povo negro, sua cultura, religião e práticas coletivas, além de abordar elementos da formação social brasileira, sua cultura e seu folclore, foi também um dos principais articuladores e organizadores das duas edições do Congresso Nacional do Samba. Uma articulação que contou com as escolas de sambas, compositores, jornalistas, escritores, pesquisadores e diversos nomes do mundo do Samba.

Uma articulação que fez surgir o Dia do Samba.

Hoje essa data precisa ser defendida em seus fundamentos, como uma data de divulgação, celebração, mas também de resistência e de defesa da cultura popular e do próprio samba, como um dos expoentes dessa cultura.

"Não deixe o samba morrer"...

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