PC do Uruguai diz que Frente Ampla pode vencer, mas deve governar com o povo

PC do Uruguai diz que Frente Ampla pode vencer, mas deve governar com o povo

Por: O Poder Popular · Juan Castillo, secretário geral do Partido Comunista do Uruguai. Foto: Arquivo pessoal

Portal Vermelho

Em entrevista ao Portal Vermelho, Juan Castillo, secretário-geral do Partido Comunista do Uruguai avalia que a Frente Ampla pode vencer as eleições de outubro e frear os retrocessos


Em entrevista ao Portal Vermelho, Juan Castillo, secretário-geral do Partido Comunista do Uruguai, diz que os três anos da direita governando o país, trouxeram mais concentração de poder. “As classes dominantes, que nunca perderam a propriedade dos meios de produção, da terra, do capital financeiro e dos meios de comunicação, agora acrescentaram a administração do Estado, que tínhamos conseguido arrebatar delas”, afirma.

Para Juan Castillo, as principais consequências das políticas do governo de direita são o aumento da desigualdade, a entrega da soberania e uma preocupante deterioração democrática.

Segundo ele, este governo de direita é o que teve mais casos de corrupção da história e usou o Estado para tentar ocultar esses casos. Também denuncia um enorme ajuste fiscal que transferiu bilhões de dólares dos trabalhadores para o grande capital

Juan Castillo é ex-senador, atualmente suplente no Senado e membro da Mesa Diretora da Frente Ampla. Avaliando o processo eleitoral que ocorre neste ano no país vizinho, ele diz que as possibilidades de vitória da Frente Ampla são reais, “mas sabemos do poder concentrado que eles têm e que o usarão sem hesitação. Portanto, nada está ganho, é preciso lutar nestes meses para que nosso povo abrace o programa do FA e lute por ele”.

Leia a íntegra da entrevista concedida durante o Festival Vermelho, realizado em Salvador.

O Uruguai tem vivido nos últimos anos sob um governo de direita. Quais foram os principais retrocessos dessa época?

Em 2019, após três governos nacionais da Frente Ampla, os cinco partidos de direita e centro-direita se uniram e votaram juntos pela primeira vez na história, sem ter um programa de governo e tendo como principal motivo deslocar a esquerda do governo.

A Frente Ampla continuou sendo a principal força política do país e manteve o governo de três departamentos-chave, equivalentes a governos estaduais no Brasil. A Frente Ampla realizou um processo de autocrítica, onde assumimos os erros cometidos que levaram à derrota, incluindo não priorizar a militância de base, nos distanciar de nossas bases sociais e negligenciar a batalha cultural. Imediatamente percebemos que as consequências mais agudas da vitória da direita seriam sentidas pela grande maioria do povo trabalhador e pelos setores mais humildes.

Com a vitória da direita, houve uma maior concentração de poder, as classes dominantes, que nunca perderam a propriedade dos meios de produção, da terra, do capital financeiro e dos meios de comunicação, agora acrescentaram a administração do Estado, que tínhamos conseguido arrebatar delas.

As principais consequências das políticas do governo de direita são o aumento da desigualdade, a entrega da soberania e uma preocupante deterioração democrática. A economia uruguaia cresceu, mas também cresceu a pobreza, especialmente a pobreza infantil, e os salários e as aposentadorias caíram durante quatro anos. Os depósitos bancários no exterior e em nosso país aumentaram e há mais crianças com insegurança alimentar. O governo de direita entregou por 60 anos o porto de Montevidéu, o principal do país, a uma multinacional.

Este governo de direita é o que teve mais casos de corrupção da história e usou o Estado para tentar ocultar esses casos. Foi implementado um enorme ajuste fiscal e bilhões de dólares foram transferidos dos trabalhadores para o grande capital. No fundo, é uma questão de classe, de projeto de país. E se não foi pior é porque não conseguiram implementar todo o seu ajuste, foram impedidos pela luta dos trabalhadores e das organizações populares e também pela ação parlamentar e de mobilização da Frente Ampla.

A Frente Ampla realizará suas eleições primárias, qual é a principal proposta do PCU para estas primárias?

É verdade, chegou o momento da síntese política, quatro anos de retrocessos em direitos e igualdade, quatro anos de lutas e mobilizações precisam se transformar em avanço da consciência do povo. Mas isso não é automático, haverá mudanças de signo político no governo, se estivermos convencidos do objetivo e se militarmos diariamente para alcançá-lo.

Pela legislação uruguaia, em junho, são realizadas primárias presidenciais em todos os partidos políticos, simultaneamente. A FA tem quatro pré-candidaturas e um programa de governo único e comum, que nos compromete a todos.

O PCU, com sua lista histórica 1001, apoia a pré-candidatura da companheira Carolina Cosse, ex-presidente da ANTEL, a empresa estatal de telecomunicações, ex-ministra da Indústria e atual Intendente de Montevidéu, a capital do país. Estamos militando com muita força para alcançar, em primeiro lugar, uma grande votação da Frente Ampla nas eleições internas de junho, que a pré-candidatura de Carolina Cosse triunfe e, como contribuição para ambos os objetivos, uma grande votação da 1001, nossa lista.

As primárias de junho são importantes, não há dúvida, mas o mais importante são as eleições presidenciais e legislativas de outubro deste ano, onde se confrontam os dois projetos de país e o objetivo central desta etapa para nós, é recuperar o governo para o povo com a Frente Ampla, com um peso maior dos trabalhadores, do que caracterizamos como o bloco político e social das mudanças, para promover avanços democráticos, em direção a uma democracia avançada.

Como foi a construção do programa da Frente Ampla e quais são, na sua opinião, as possibilidades de vitória?

A peculiar forma de construir os programas de governo da Frente Ampla marca a diferença com a direita local. Enquanto eles fazem uma reunião de cúpula, com assessores técnicos, decidindo as formas de dividir a gestão e os lucros, a esquerda convoca e organiza todos os militantes, dirigentes e técnicos para elaborar durante todo o ano de 2023 as Bases Programáticas.

Nessa parte do processo, centenas de companheiras e companheiros participaram. Depois de elaboradas e organizadas, elas foram discutidas durante meses em todos os Comitês de Base, que são organismos de base onde os Frente Amplistas militam de forma unitária; lá foram recolhidas centenas de contribuições e propostas de modificação, entre a própria militância.

Finalmente, convocou-se o Congresso, que aprovou definitivamente o Programa. É um processo profundamente democrático e voltado para nosso povo. O programa da FA não é um conjunto de promessas eleitorais, nem mesmo é um compromisso de metas para aqueles que ocupam responsabilidades de governo; é um desafio para lutar junto com nosso povo.

A materialização do Programa dependerá da vitória eleitoral, claro, mas também do tamanho do povo organizado que conseguirmos mobilizar atrás de cada proposta e ideia. As possibilidades de vitória são reais, hoje todas as pesquisas indicam que a FA está em primeiro lugar na intenção de voto e com uma grande diferença sobre o Partido Nacional, o principal partido de direita, e até mesmo superando todos os partidos da coalizão de direita juntos. Mas sabemos do poder concentrado que eles têm e que o usarão sem hesitação. Portanto, nada está ganho, é preciso lutar nestes meses para que nosso povo abrace o programa do FA e lute por ele.

No Brasil, Argentina e em outros países da América Latina e do mundo, a extrema direita adquiriu um caráter de massa. Como esse fenômeno se manifesta no Uruguai?

Hoje vivemos em um mundo convulsionado, o traço principal deste período, de acordo com nosso modesto ponto de vista, é a crise estrutural e orgânica do capitalismo, que não oferece respostas para nenhum dos problemas da humanidade.

O desenvolvimento do capitalismo coloca em risco a vida e a existência mesmo de nosso planeta, com uma crise ecológica de enorme impacto. Ao mesmo tempo, gera níveis de desigualdade que o secretário-geral da ONU recentemente qualificou como obscenos. A lacuna entre os mais ricos e poderosos e os setores mais humildes e pobres é grotesca, humilhante.

Mais de 20 guerras se desenvolvem desde o final do ano até hoje, centenas de milhares de seres humanos morrem por isso, mas só se fala de duas delas e a tendência é que aqueles que as promoveram apareçam como os bons, e os verdadeiramente agredidos são apresentados como vilões.

Os bilionários viram suas riquezas duplicarem, enquanto milhões vivem com menos de dois dólares por dia, mas na imprensa diária de nossos países, a sociedade condena aquele que roubou uma galinha para comer. É o mundo ao contrário, como dizia Eduardo Galeano. É imperativo construir a unidade das forças democráticas e populares, da esquerda, dos revolucionários e construir uma alternativa. Se a direita avança, é um sinal de nossa fraqueza, fala de nossos erros, das deficiências políticas, do retrocesso ideológico, da falta de autocrítica, da falta de unidade.

Nossa tarefa imediata é organizar o povo, elaborar estratégias, coordenar esforços, trabalhar pela unidade mais ampla, e não nos esquecermos quando chegarmos, quando as pessoas nos derem uma oportunidade, que precisamos governar não para eles, mas com eles. A revolução não é fácil, nunca foi, mas hoje é mais necessária do que nunca. É fundamental, por tudo o que foi dito antes, construir uma sociedade diferente, com outros valores, mais justa e solidária, socialista.

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