Pela liberação imediata de São Januário para a torcida do Vasco da Gama

Por UJC RJ

Na 11ª rodada do Campeonato Brasileiro, a insatisfação dos torcedores do Vasco com a situação do clube levou a uma grande confusão dentro e nos arredores do estádio de São Januário. Imediatamente, o clube foi punido e obrigado a jogar 4 jogos enquanto mandante sem a presença da sua torcida.

Essa punição foi cumprida nos jogos contra Cuiabá, Cruzeiro, Athletico e Grêmio e deveria ser encerrada no último jogo do time em São Januário, no dia 05/08. No entanto, a punição foi estendida e ainda não há prazo para o retorno da torcida vascaína ao seu estádio.

Como justificativa a essa extensão sem prazo, o promotor que a pede indica a localização do estádio de São Januário, que fica na Zona Norte do Rio junto à favela da Barreira do Vasco, afirmando em nota: “Vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de arma de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado. São ruas estreitas, sem área de escape que ficam sempre lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio". Essa nota não só atinge torcedores do Vasco, como também todos os moradores da Barreira e os aficionados pelo futebol como cultura popular.

Essa nota traz à tona o elitismo e o racismo do judiciário, que não conhece minimamente qualquer favela e que afirma que são comuns disparos, quando não há registros de tiroteios recorrentes na região e que o caso de morte por arma de fogo mais recente registrado na favela data de 2019, quando a polícia matou um garçom que chegava do trabalho pela manhã [1], ficando nítido então que a violência parte do próprio Estado, desde o momento em que não oferece moradia, até o momento em que mata um trabalhador na porta de sua casa.

Além disso, na última segunda-feira (14), São Januário recebeu vistorias de órgãos públicos. O Ministério Público (MP-RJ) determinou a implementação de um sistema de biometria como uma das condições para que a ação que interdita São Januário caia, o que mostra uma contradição imensa com a realidade dos estádios do RJ, já que nenhum dos principais - Maracanã ou Nilton Santos - possuem esse recurso.

No dia 8 de agosto, dois torcedores argentinos foram atingidos por disparos de balas de borracha utilizadas pela Polícia Militar no jogo entre Fluminense x Argentinos Juniors dentro do Maracanã.
Um mês antes desse ocorrido, tivemos a infeliz notícia da morte de Gabriela Anelli, torcedora do Palmeiras, antes da partida entre Palmeiras x Flamengo. Anelli faleceu devido a lesões causadas por uma garrafa atirada durante uma briga nos arredores do Allianz Parque.

Duas situações de violência em que os clubes envolvidos não sofreram nenhum tipo de punição e tampouco houve reprodução de falas como a do promotor que afirma que São Januário – estádio onde o clube joga desde 1927, construído pela própria torcida após perseguições racistas e elitistas da AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Athleticos) que não aceitavam a origem negra e operária dos jogadores do time de futebol do Vasco – agora, em 2023, representa perigo e que, por isso, continuará interditado. A diferença entre essas duas situações e a do Vasco é a localização dos estádios. Se ter estádio localizado nas proximidades de uma comunidade é garantia de perigo, por que temos diversos casos de violência em estádios localizados em bairros de classe média e classe média alta a exemplo do Maracanã e do Allianz Parque?

O prejuízo gerado por essa perseguição não é apenas financeiro e vai além do Vasco, afetando toda a comunidade ao redor, inclusive vários moradores que, em um cenário de desemprego crônico, têm a sua renda do mês prejudicada com essa punição. Dessa forma, a UJC Rio de Janeiro vem a público se posicionar contra a perseguição racista e elitista à população da Barreira do Vasco e ao futebol carioca.

PELA LIBERAÇÃO IMEDIATA DE SÃO JANUÁRIO!

TORCEDOR É TRABALHADOR!

2023 NÃO SERÁ UM NOVO 1923!

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