PM e GCM montam ‘operação de guerra’ em ato contra aumento da passagem em SP

PM e GCM montam ‘operação de guerra’ em ato contra aumento da passagem em SP

Por: O Poder Popular · Embora a manifestação tomasse cerca de um terço do Viaduto do Chá, o aparato de segurança montado pelo governo e pela prefeitura parecia desproporcional | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Paulo Batistella para a Ponte Jornalismo

Na tarde desta quinta-feira (9/1), uma mulher atravessava a rua Líbero Badaró, entre a Praça do Patriarca e o Viaduto do Chá, no Centro de São Paulo, quando se assustou com o contingente de policiais no entorno da prefeitura. “Meu Deus, vai ter uma guerra aqui?”, perguntou à reportagem da Ponte.

A operação aguardava o primeiro ato contra o aumento das tarifas dos ônibus e do transporte ferroviário em São Paulo convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL), outros movimentos sociais, organizações estudantis e partidos de esquerda. Os novos valores das passagens passaram a valer na última segunda-feira, por decisão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A tarifa de ônibus na capital paulista subiu de R$ 4,40 para R$ 5, enquanto os bilhetes de metrô e trem na Grande São Paulo passaram de R$ 5 para R$ 5,20. Com o reajuste, a integração com o Bilhete Único entre o sistema ferroviário e os ônibus em São Paulo subiu de R$ 8,20 para R$ 8,90 e a tarifa dos ônibus intermunicipais gerenciados pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU) teve aumento de 4% em média, entre cerca de R$ 0,25 a R$ 0,30.

Logo no início do ato em frente à prefeitura de SP, dois jovens foram presos em flagrante pela PM sob a acusação de tráfico de drogas | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Prisões em flagrante

O ato teve início em frente à prefeitura, onde manifestantes concentraram-se a partir das 17h. Por volta das 16h30, três viaturas da Inspetoria de Operações Especiais (Iope) da Guarda Civil Metropolitana (GCM) já bloqueavam a entrada da prefeitura, cercada por grades. Do outro lado da rua, estavam dispostas mais sete viaturas da GCM, além de uma longa fileira de agentes paramentados.

Na Praça do Patriarca, com todos os acessos policiados, havia ainda 27 viaturas da Polícia Militar, outras oito da GCM, além de duas bases móveis. Estavam também presentes policiais do patrulhamento de Choque, da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) e do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep).

O mediador destacado pela PM para o protesto afirmou à reportagem não ter estimativa do contingente mobilizado. Disse ainda que os policiais presentes eram de batalhões da região central — mas a Ponte identificou agentes de regiões mais distantes, como da Rocam do 48º BPPM, da Zona Leste.

Já na chegada dos manifestantes, na lateral da prefeitura na Rua Líbero Badaró, dois jovens foram presos em flagrante pela PM. O sargento à frente da abordagem, disse que ambos teriam confessado o crime de tráfico de drogas e que seriam levados ao 3° Distrito Policial (Campos Elíseos). Os policiais não detalharam qual droga teria sido apreendida com eles.

Manifestantes atearam fogo em uma catraca, ato simbólico comum aos protestos em favor da tarifa zero | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Defensoria e OAB

Integrantes da Defensoria Pública estadual e da Comissão de Direitos Humanos da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) que acompanharam o protesto foram cientificados sobre as prisões, que não teriam relação com o ato. Eles relataram não terem identificado violações de direitos durante a manifestação.

Às 18h, a manifestação tomava cerca de um terço do Viaduto do Chá. Ainda assim, o aparato de segurança parecia desproporcional. “Tem 200 policiais para acompanhar 50 jovenzinhos protestando?”, perguntou um homem que passava à reportagem, tentando entender o que havia.

Integrante do MPL, a ativista Geo Andrade afirmou que a presença massiva das forças de segurança em atos contra o aumento da tarifa já se tornou um padrão, em aparente intimidação aos manifestantes.

“Toda vez que a gente se reúne a polícia faz uma presença ostensiva, repressora mesmo, que acontece todos os dias nas favelas e nas quebradas. A gente espera que, mesmo assim, as pessoas venham para as ruas, porque precisamos nos colocar contra esse aumento e por outras pautas”, disse a ativista.

Por volta das 18h30, os manifestantes atearam fogo em uma catraca — ato simbólico comum aos protestos em favor da tarifa zero. A partir disso, iniciaram uma passeata, se deslocando pela Rua Barão de Itapetininga até a Praça da República, passando depois pelas avenidas Ipiranga e São Luís, até chegar, atravessando a Rua Quirino de Andrade, ao Largo da Memória, que dá acesso à estação Anhangabaú do metrô e ao Terminal Bandeira.

Enquanto uma tropa do Baep e viaturas do Choque escoltavam o ato, na Praça da República estava a postos a cavalaria da PM | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Palavras de ordem

No caminho, o ato concentrou cantos de ordem contra o aumento da passagem, em crítica a Nunes e Tarcísio. “Chega de tarifa e de político babaca, a gente tá lutando por uma vida sem catraca”, era um deles. “Mãos para o alto, R$ 5,20 é um assalto”, também foi cantado, além de “Ô motorista, ô cobrador, me diz aí se seu salário aumentou”.

Em frente à estação República, por onde passa a linha 4-Amarela, sob controle da iniciativa privada, o ato fez uma breve parada para a leitura em jogral de um manifesto contra a privatização do transporte público em São Paulo.

A passeata foi ladeada o todo tempo por duas fileiras de policiais que se deslocavam a pé. À frente, motos da da Rocam bloqueavam a via e determinavam o trajeto. Atrás dos manifestantes, uma tropa do Baep e viaturas do Choque escoltavam o ato — enquanto, na Praça da República, estava a postos a cavalaria da PM. Pelo menos um helicóptero e drones seguiram os manifestantes. Policiais à paisana faziam fotos e se comunicavam por fones de ouvido.

A Tropa de Choque posicionada em uma rua lateral ao Terminal Bandeira | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Bloqueio policial e impasse

Por volta das 19h30, enquanto os manifestantes chegavam no Largo da Memória, um cordão com cerca de 50 policiais com escudos a punho bloqueavam o acesso ao metrô e ao Terminal Bandeira. Ao fundo, em uma rua lateral ao terminal, uma tropa do Choque estava posicionada.

Defensores públicos presentes no ato tentaram negociar a liberação do cordão com lideranças da PM, que se mostraram irredutíveis. A alegação dos policiais era de que protegiam o patrimônio público, pois havia expectativa de que manifestantes promovessem um “catracaço” — quando pulam a catraca sem pagar a tarifa.

O impasse se manteve por quase meia hora, intervalo em que manifestantes passaram a dizer palavras de ordem também contra os policiais. “Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar” foi um deles. “Deixa passar a revolta popular” foi outro.

Diante do impasse, o MPL decidiu encerrar o ato. Parte dos manifestantes começou a subir de volta o Largo da Memória, quando a PM afrouxou uma pequena parte do cordão de isolamento para permitir o acesso à estação Anhangabaú. A reportagem não identificou novas ocorrências.

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