Prisão de Bolsonaro e a fantasia da esquerda hegemônica

Prisão de Bolsonaro e a fantasia da esquerda hegemônica

Por: O Poder Popular · Foto: reprodução/Twitter/Portal Vermelho

Por Rodolpho F. Borges - professor de História e militante do Partido Comunista Brasileiro

A prisão de Bolsonaro, nos atuais moldes, pode não ser a satisfação do desejo que a esquerda (hegemônica) precisa no momento, mas é a fantasia que ela quer. Na iminência de algo tão esperado por muitos e muitas que sofreram com a barbárie liderada pelo capitão decadente, a euforia inebria algumas necessidades. Nada mais natural. Mas se nós pretendemos ser a vanguarda do movimento revolucionário, não podemos deixar de mobilizar a razão em função da política, para avançar, satisfazer o desejo e festejar uma verdadeira festa. Somos comunistas.

O primeiro ponto é acreditar que a prisão de um político do calibre de um ex-presidente da República, com significante força e organicidade nas massas, tem sua prisão determinada pelos crimes que cometeu, ou seja, que a legitimidade de uma potencial prisão está na letra, detratada, da lei (na letra, a lei só funciona para/contra nós, trabalhadores e trabalhadoras). Não se trata de negar os crimes perpetrados por Bolsonaro, mas de entender que a possibilidade de sua prisão, diante da justiça burguesa é, antes de tudo, uma possibilidade aberta pela situação política.

Se ainda não há uma justiça revolucionária no Brasil, não cabe a nós desconsiderar qualquer acerto da justiça burguesa: que Bolsonaro mofe na cadeia. No entanto, esse desejo também é uma idealização. Bolsonaro preso representa uma derrota política para as forças que se aglutinam na extrema direita na atual conjuntura, mas nada impede o retorno da fênix do esgoto para os salões da Terceira República fraturada.

Enquanto o movimentar das massas não voltar a ser uma peça no tabuleiro de xadrez da política, a prisão de Bolsonaro são logra ser mais que um passo da coalizão burguesa na construção e consolidação do novo pacto neoliberal: um governo formalmente democrático, completamente dominado pelos interesses da burguesia rentista, com níveis insignificantes de determinação popular nos seus rumos e uma violência naturalizada cada vez maior para a manutenção do status quo. Um pacto desses poderia, e tem sido levado a cabo por um governo de frente ampla e verniz progressista, liderado por um político popular que, apesar de não superar ser um político da ordem, apresenta algumas dissonâncias com o tom que o mercado financeiro quer.

O governo Lula já provou ser um ótimo gestor do pacto burguês, mas as contradições sociais tendem a aumentar dessa vez, e a burguesia almeja uma dominação sem riscos. Bolsonaro também já foi peça que - apesar de indesejada, pois imposta por uma maioria eleitoral definida em uma eleição na qual o principal candidato da oposição estava preso - foi fundamental no avanço desse pacto, mas agora precisa ser descartada. Há substitutos de olho na vaga, Tarcísio e Zema são os fascista de sapatênis, ou nem tanto, candidatos ao posto.

Os caminhos da política econômica tomados pelo governo juntamente com as posições políticas internas vacilantes, que não se articulam às posições defendidas, mesmo que retoricamente, na política externa, dão certa tranquilidade para que a burguesia imponha uma derrota ao principal inimigo político do lulismo no momento. Bolsonaro pode ser descartado agora pois não há necessidade dele. Pois, Lula, no seu primeiro pronunciamento à nação por ocasião do Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, não agiu como um mero político da ordem ao anunciar as benesses que caiam do governo como resultado da aliança de Deus com o diabo e da “pacificação” geral da nação e não mover uma palavra para mobilizar as massas? Se em algum momento Lula começa a representar um perigo maior ao pacto neoliberal, a burguesia não hesitará, se for a melhor estratégia como já dito, em convocar o cadáver moribundo do neofascista. Se antes teve que correr junto com Bolsonaro, convocado pelas contradições postas pela decadência política, agora a burguesia seria a principal agente, mas expiada de seus pecados pelo próprio ser que agora convocaria.

Bolsonaro preso significa, agora, um passo na consolidação do pacto neoliberal e da esterilização da política, bem como a expiação dos pecados genocidas da burguesia brasileira. Toda fumaça e a desgraça ocorrida nos últimos anos teriam um culpado, Bolsonaro. Não que ele não seja, mas há toda uma corja que, junto a ele, deveria amanhecer de cabeça pra baixo no Brasil. E só há uma força capaz de fazê-lo: o povo trabalhador brasileiro mobilizado. É essa a peça capaz de mudar todo o jogo e transformar a condenação de Bolsonaro em uma verdadeira vitória para a classe trabalhadora e para o Brasil. Só com as massas mobilizadas é possível tornar a República novamente prolífica, não apenas azeitando suas engrenagens, mas  dando-lhe uma outra direção.

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