Professora impedida de embarcar denuncia bloqueio e arbitrariedade da Copa Airlines
Sara Goes para o Brasil 247
“Presidenta da Casa da Amizade Brasil-Cuba do Ceará foi impedida de embarcar para Cuba levando duas malas de doações de material escolar”, relata Sara Goes
A professora, escritora e presidenta da Casa da Amizade Brasil-Cuba do Ceará, Gláucia Lima, foi impedida pela Copa Airlines de embarcar para Cuba levando duas malas de doações de material escolar. O episódio, ocorrido no último dia 20 de janeiro, gerou uma onda de indignação e reforçou as críticas ao bloqueio econômico e financeiro imposto pelos Estados Unidos à ilha caribenha.
Acompanhada apenas de uma malinha de mão e de uma mochila com seus pertences, Gláucia viajava para um congresso educacional e cultural. No entanto, ao tentar despachar as malas com os donativos, recebeu uma negativa seca da companhia aérea. "Simplesmente disseram: 'não vai'”. A professora tentou argumentar, ofereceu-se para pagar pelo excesso de bagagem, mas, segundo ela, "não interessava documento, não interessava peso, porque eles não mediram, não pesaram, não pediram documento de nada".
O motivo apresentado pela Copa Airlines foi de que Cuba não aceitaria a doação do material escolar. No entanto, segundo Gláucia, a proibição tem conotação política. "A única coisa que perguntaram para mim foi sobre minha relação com os Estados Unidos. Quando ela perguntou isso, a ficha caiu. Eu não estava indo aos Estados Unidos, não ia passar pelos Estados Unidos, e a viagem era pela Copa Airlines, que é uma empresa panamenha na mira do Trump”.
A história de Gláucia com Cuba é longa. Ela viajou várias vezes para o país e tem um vínculo acadêmico e afetivo com a ilha. No entanto, uma tragédia pessoal interrompeu suas idas. "Era a primeira literatura que abordava a história da liberação dos presos políticos, os heróis que Fernando Morais descreveu em ‘Os últimos soldados da Guerra Fria’. Eu ia lançar o livro lá na feira, e ele foi revisado pelas linguistas da UNEAC (União de Escritores e Artistas de Cuba). Mas tive um filho assassinado”. Glaucia é mãe do policial civil Tonny Ítalo, assassinado aos 28 anos em um latrocínio que comoveu o estado do Ceará em 2015. O luto a afastou dos eventos, mas recentemente ela decidiu retomar essa conexão. "Quando foi agora, resolvi aceitar novamente o convite. Como estávamos fazendo essa campanha, aproveitei a viagem”.
No entanto, a tentativa de embarcar para Havana esbarrou na burocracia carregada de pressão política. A professora percebeu que a questão ia além de regulamentos de bagagem quando viu que outros passageiros conseguiram levar malas extras mediante pagamento, enquanto a ela sequer foi dada essa opção.
O impacto emocional do episódio foi grande. "Minha indignação era tão grande que, depois de resolver o despacho da mala, fui respirar e tomar um café. As pessoas começaram a me ligar, dizendo: 'você tem que gravar um vídeo e denunciar’. Outros diziam: 'não faça isso, porque atrapalha o turismo de Cuba'”. Mas a professora não hesitou. "Como eu poderia calar diante desse absurdo? Cuba está sendo prejudicada há anos e ninguém faz nada”.
Para Gláucia, a proibição da Copa Airlines é parte de uma estratégia mais ampla de sufocamento econômico e diplomático contra Cuba, que se intensificou nos últimos anos. "Desde 1992, a ONU vota pela retirada de Cuba dessa lista de países terroristas e para que se acabe esse bloqueio horroroso que acontece desde então. E nunca, nunca os Estados Unidos pensaram em fazer alguma coisa”.
A professora lembra também das medidas tomadas por Donald Trump, que agravaram ainda mais a situação. "Quando Trump assume o primeiro mandato, ele baixa 243 medidas extremamente sufocantes contra Cuba, ou seja, intensifica o que já existia. Sete dias antes de entregar a presidência ao próximo presidente, ele tira Cuba da lista de países terroristas. No dia da posse, sem nem ter cerimônia oficial, Donald Trump coloca Cuba de novo na lista de países terroristas. Aqui no Ceará, temos uma expressão que eu não ouso repetir, mas que define bem essa situação”.
Apesar da revolta, Gláucia reforça sua admiração por Cuba e sua resistência frente ao bloqueio. "No meio de uma pandemia atroz, enquanto os dois maiores países da América Latina desdenharam da crise e deixaram seu povo morrer, Cuba, asfixiada por um bloqueio há mais de 60 anos, criou seis vacinas, com todas as dificuldades”.
Diante do ocorrido, a Casa da Amizade Brasil-Cuba do Ceará anunciou que tomará medidas judiciais contra a Copa Airlines. A professora segue determinada a denunciar o bloqueio e a lutar por Cuba. "Queria sinceramente agradecer o espaço e esclarecer que tudo isso faz parte da nossa luta. Não nos calarão. Vamos resistir e demonstrar o quanto de amor Cuba tem por nós e nós por Cuba”.
Gláucia encerra com uma imagem que lhe marcou profundamente nas suas viagens à ilha: "lembro das primeiras vezes que fui a Cuba e vi cachorros e gatos de rua com plaquinhas no pescoço: 'meu nome é tal, moro em tal rua, estou vacinado, não me maltrate.' Um país que trata seus animais de rua assim, imagine o respeito que tem pelos seus cidadãos”.
E, citando Fidel Castro, conclui: "muitas crianças dormirão nas ruas esta noite, mas nenhuma será cubana”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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