Quando a burguesia está fechada com Bolsonaro e conivente com o genocídio
Por Antônio Lima Júnior, jornalista, militante da Unidade Classista e membro do Comitê Central e do Comitê Regional do PCB Ceará.
Nas últimas semanas, circulou entre grupos de whatsapp, o vídeo do empresário cearense Beto Studart empunhando uma faca com o rosto do Bolsonaro e a palavra ‘mito’ talhados em sua lâmina. Segundo o relato do próprio empresário no vídeo, a faca é uma defesa à proteção pessoal e que ele está fechado com Bolsonaro nas eleições de 2022. Ainda em janeiro, também circulou outro vídeo em que Beto Studart afirmava ser ‘Bolsonaro doente’.
A atitude do ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) e atual vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) é um clássico exemplo do jargão ‘choca um total de zero pessoas’, ainda mais quando vimos, no auge da pandemia da covid-19, empresários defendendo a política genocida de Bolsonaro, sob o argumento de que morreriam milhares de pessoas naturalmente na pandemia – pessoas essas da classe trabalhadora, e, para eles, descartáveis, visto que para os patrões somos meros seres a extrair mais-valia para os seus bolsos.
Dono da empresa BSPAR da construção civil, Beto Studart certamente é um dos mais beneficiados pela política do governo genocida de Bolsonaro e das vacilações do governo do Estado do Ceará, na figura do governador Camilo Santana (PT), diante do enfrentamento a pandemia. Basta lembrarmos do atraso na vacinação, a dificuldade em incluir os trabalhadores da construção civil nas categorias prioritárias e o próprio retorno ao trabalho de maneira antecipada, para garantir a continuidade dos lucros no setor, cuja expansão no aumento de empreendimentos imobiliários de alto valor é constante em Fortaleza e região metropolitana.
A imagem de Beto Studart, associada a reeleição de Bolsonaro, nos obriga a colocar reflexões sobre a conjuntura atual, as eleições deste ano e seu arco de alianças. Bolsonaro segue a agenda ultraliberal de aprofundar os ataques aos direitos da classe trabalhadora, agenda esta impulsionada pelo impeachment de Dilma em 2016 e a chegada de Temer, seguido pelo atual governo. Toda essa agenda foi favorável aos empresários e daí não nos choca a atitude de Beto Studart em se manter fechado com o governo genocida, muito pelo contrário, o que vemos é alguns setores da burguesia negarem três vezes sua associação com Bolsonaro, mas torcendo para manter a ordem tal como está.
Ordem esta que aparenta ser inabalável, mesmo com o indicativo nas pesquisas de uma derrota de Bolsonaro. Quem ganhar, terá que negociar com essas figuras do empresariado que pretendem manter os golpes aos direitos dos trabalhadores, daí a necessidade de entendermos que é preciso fortalecer o programa que envolva os reais interesses da classe trabalhadora, sem tentações com o pacto de conciliação de classes, pacto este já feito anteriormente, mal sucedido e descartado por estes que continuam fechados com Bolsonaro.
Até as eleições, muitas águas rolarão. Não podemos é continuar no marasmo, apostando as fichas num resultado eleitoral mal garantido e sem perspectiva de mudanças reais em seguida. Até lá, é preciso continuar insistindo na luta pelo Fora Bolsonaro, pela construção da alternativa política real dos trabalhadores, bem como a denúncia constante dos setores da burguesia, tal qual Beto Studart, que insistem em manter estável um governo genocida, danoso a vida do povo brasileiro e que ruma a nos colocar num abismo sem fundo da inflação e da fome.
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