Reciclagem do plástico: o que você precisa saber

Priscila Gabriel- Militante pela célula Araras/Conchal- SP e membra do CR-SP

Por muito tempo, a reciclagem foi apresentada como solução para o problema do lixo plástico. Desde os anos 1980, campanhas educativas, embalagens com símbolos de "reciclável" e a ideia de que bastava separar corretamente os materiais para que tudo fosse reaproveitado criaram uma ilusão coletiva de responsabilidade ambiental. Mas a realidade é bem diferente: a reciclagem do plástico, como é feita hoje, é ineficiente, limitada e, muitas vezes, uma verdadeira farsa.

Os 7 tipos de plástico e o mito da reciclabilidade universal

O sistema de identificação dos plásticos criado pela Society of the Plastics Industry em 1988 introduziu os famosos números de 1 a 7 dentro de um triângulo de setas que lembra fortemente o símbolo universal da reciclagem. Esse design não foi por acaso: foi uma jogada de marketing para dar a impressão de que todos os tipos de plástico eram recicláveis. Na prática, isso é falso. Entre os sete tipos:

Tipo 1 (PET): usado em garrafas de bebidas. É reciclado com mais frequência.

Tipo 2 (HDPE): presente em frascos de produtos de limpeza. Também amplamente reciclado.

Tipos 3 a 7 (PVC, LDPE, PP, PS e "outros"): em sua maioria são de baixa reciclabilidade, exigem processos caros e têm pouca demanda no mercado reciclador.

Segundo um estudo publicado na revista Science Advances (Geyer et al., 2017), apenas cerca de 9% de todo o plástico produzido no mundo até 2015 foi reciclado. A grande maioria — 79% — foi parar em aterros ou no meio ambiente, e 12% foi incinerada.

Considerando apenas os plásticos dos tipos 1 (PET) e 2 (HDPE) — os mais recicláveis com as tecnologias atuais — o potencial teórico de reciclagem é de cerca de 21% de toda a produção mundial de plástico, pois esses são os tipos mais comuns e tecnicamente viáveis de serem reciclados. Ou seja: mesmo em um cenário ideal, mais de 75% do plástico já produzido não teria viabilidade de reciclagem.

No Brasil, De acordo com a Abiplast (2023), a taxa de reciclagem mecânica de plásticos pós-consumo foi de 20,6%. No entanto, essa taxa inclui apenas os resíduos coletados para reciclagem e não representa a totalidade do plástico produzido. Um estudo do Center for Climate Integrity (2024) apontou que, considerando toda a produção nacional, apenas cerca de 1,3% dos plásticos são efetivamente reciclados no país.

O problema estrutural e a ilusão da solução

O discurso de que a reciclagem resolveria a crise do plástico serviu, ao longo das décadas, como escudo para a indústria do setor. Transferiu a responsabilidade para o consumidor final e criou a ideia de que bastava "fazer sua parte". Mas isso mascarou o verdadeiro problema: um sistema de produção insustentável baseado no uso massivo de materiais descartáveis.

A lógica do lucro que sustenta o capitalismo exige produção e consumo incessantes, independentemente das consequências sociais e ambientais. Nesse contexto, o plástico descartável não é uma falha do sistema, mas uma expressão perfeita de sua lógica predatória: produzir o máximo pelo menor custo, transferindo os prejuízos ambientais e de saúde pública para a população.

Enquanto a produção global de plástico ultrapassa os 430 milhões de toneladas por ano, das quais dois terços são produtos de vida curta, rapidamente descartados (segundo o relatório da ONU Meio Ambiente de 2023), a capacidade de reciclagem é extremamente limitada.

A solução real não está em apelos individuais, mas em uma transformação radical das estruturas econômicas. É necessário superar o modelo capitalista e adotar uma lógica de produção voltada para as necessidades humanas e a preservação ambiental, com controle social dos meios de produção e planejamento racional da economia.

Acompanhe todas as mídias do nosso jornal: https://linktr.ee/jornalopoderpopular e contribua pelo Pix jornalopoderpopular@gmail.com