Trump envia tropas para a Venezuela

Mais um desafio imperialista à América Latina

Por Lucas Silva - Jornalista e membro do conselho editorial do jornal Poder Popular

Enquanto persegue cinicamente o prêmio nobel da paz, Donald Trump envia tropas para o mar venezuelano, com previsão de chegada nesta quarta-feira (20 de Agosto) a noite, colocando em risco mais uma vez a segurança das populações latinoamericanas e caribenhas.

O jornalista do Opera Mundi Breno Altman fez um bom resumo da amplitude e gravidade dessa movimentação militar em programa transmitido na tarde desta terça-feira:

Os Estados Unidos decidiram intensificar sua presença militar no sul do Mar do Caribe, lançando uma operação que em escala e grau de prontidão supera todas às atividades registradas desde 2019. Está prevista para o dia 20 de Agosto a chegada de três destroyers da classe Arleigh Burke: o USS Gravely (DDG-107), o USS Jason Dunham (DDG-109) e o O USS Sampson (DDG-102). Esses três navios equipados com o sistema de combate Aegis não foram projetados para missões de patrulhamento ou dissuasão de baixa intensidade. Transportam entre 90 e 96 mísseis, entre eles os famosos mísseis de cruzeiro Tomahawk, com velocidade de cruzeiro com alcance superior a 1600 km, mísseis para defesa antiaérea e mísseis antinavio Harpoon, o que lhes confere capacidade ofensiva contra alvos terrestres e navais de longas distâncias.

Trata-se de meios próprios a uma força em estado de pré-conflito. Em paralelo ao deslocamento dos destroyers, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos mobilizou o grupo anfíbio de pronta ação Iwo Jima, composto pelo navio de assalto anfíbio Iwo Jima, o navio doca USS New York e o navio de transporte anfíbio USS Gunston Hall (LSD-44). Juntos esses navios conseguem transportar mais de 4 mil militares da 22ª unidade expedicionária de fuzileiros navais, além de poder levar embarques completos de veículos blindados anfíbios, baterias de mísseis portáteis, pelotões de reconhecimento e até unidades de comando avançado. As aeronaves embarcadas nesses navios, incluindo helicópteros CH53, MV 22 e caças AV8B Harrier, permitem a projeção de forças de intervenção em profundidade em operações coordenadas de desembarque aerotransportado e ataque, ataques de precisão. Não por acaso esse mesmo dispositivo foi utilizado anteriormente nos preparativos para a invasão do Iraque em 2003 e da Líbia em 2011.

Eu aqui transmiti um bocado de termos técnicos para vocês terem uma noção da amplitude da operação que os Estados Unidos estão montando no sul do mar do Caribe. Apesar do discurso oficial do Departamento de Estado que apresenta a operação como parte do combate ao narcoterrorismo, o eixo escolhido coincide com a principal rota de exportação de petróleo da Venezuela. Essa rota conecta os terminais de Puerto la Cruz e Amuay a portos do Atlântico, abastecendo navios destinados à Ásia. Além disso, é exatamente a área em que as Forças Armadas Venezuelanas realizam exercícios anuais denominados “escudo bolivariano”, simulando cenários de invasão e desembarque estrangeiros. A coincidência geográfica

não é casual. Os Estados Unidos posicionaram meios navais ofensivos em área considerada de valor estratégico por Caracas. Esse deslocamento deve ser compreendido como uma nova etapa de uma estratégia iniciada há quase uma década.

No dia 19 deste mês a Casa Branca deu uma infame declaração, sem qualquer embasamento concreto:

Enquanto os barcos se aproximavam, a Casa Branca insistia que mantém todas as opções sobre a mesa, ao ser questionada se o governo destacaria soldados para um eventual ataque. "O presidente Trump tem sido muito claro e consistente: ele está preparado para usar todos os elementos do poder dos EUA para frear o fluxo de drogas para nosso país e para levar os responsáveis à Justiça", disse Karoline Leavitt, porta-voz do governo.

"O regime de Nicolas Maduro não é o governo legítimo da Venezuela. É um cartel de narcoterroristas e Maduro não é um presidente legítimo. Ele é um líder desse cartel e fugitivo que foi indiciado nos EUA por tráfico de drogas", completou.

Alguns dias atrás, Marc Rubio já estava preparando o terreno e a narrativa para esse tipo de intervenção direta contra a Venezuela, de acordo com reportagem do UOL:

Dias depois de Washington ter aumentado para 50 milhões de dólares (R$ 270 milhões) a recompensa por informações que permitam deter Maduro, Rubio declarou que o governo do presidente venezuelano não é "legítimo".

"São uma organização criminosa que, basicamente, tomou o controle do território nacional de um país e que, aliás, também ameaça as companhias petrolíferas que operam legalmente na Guiana", avaliou o secretário de Estado

Prontamente as forças bolivarianas responderam à agressão iminente com ampla mobilização popular e militar, com o envio de milhões de milicianos bolivarianos para todo o país. O governo ainda emitiu a seguinte declaração oficial na noite desta terça:

COMUNICADO - REPÚBLICA BOLIVARIANA DA VENEZUELA

A República Bolivariana da Venezuela observa claramente o desespero do governo dos Estados Unidos, que recorre a ameaças e difamações contra nosso país.

O fato de Washington acusar a Venezuela de tráfico de drogas revela sua falta de credibilidade e o fracasso de suas políticas na região.

Desde a expulsão da DEA do nosso território em 2005, a Venezuela obteve resultados convincentes na luta contra o crime organizado: prisões bem-sucedidas, desmantelamento de redes e controle efetivo de fronteiras e costas, resultado do esforço e compromisso de nossas instituições e do povo venezuelano.

Essas ameaças não afetam apenas a Venezuela, mas também colocam em risco a paz e a estabilidade de toda a região, incluindo a Zona de Paz declarada pela CELAC, um espaço que promove a soberania e a cooperação entre os povos latino-americanos.

Enquanto Washington ameaça, a Venezuela avança com firmeza na paz e na soberania, demonstrando que a verdadeira eficácia contra o crime é alcançada respeitando-se a independência dos povos.

Cada declaração agressiva confirma a incapacidade do imperialismo de subjugar um povo livre e soberano.

O povo de Bolívar e Chávez continuará a derrotar qualquer tentativa de intervenção. A Venezuela é um farol de dignidade, resistência e segurança para a América Latina e o mundo.

_Caracas, 19 de agosto de 2025._

Os governos latinoamericanos veem essa movimentação com muita preocupação, com México e Colômbia dando declarações firmes em solidariedade ao governo venezuelano. Um posicionamento firme e solidário do governo brasileiro também ajudaria bastante pela importância e peso do Brasil em nosso continente. Porém mais do que a solidariedade diplomática, é preciso solidariedade popular, entre os trabalhadores, e sabemos pelo perfil do governo brasileiro que não podemos esperar esse tipo de chamado e convocação.

Será preciso entrar em cena a solidariedade dos movimentos populares e operários do nosso continente, para defesa da paz contra quaisquer intervenções, provocações, golpes e ameaças imperialistas, articulando manifestações, criando e recriando comitês pela paz, dialogando com as massas. Precisaremos lembrar aos bilionários do norte que a América Latina não é quintal de ninguém.

Um conflito militar contra a República Bolivariana da Venezuela seria catastrófico para toda nossa região, impondo sofrimento e privações a milhões de trabalhadoras e trabalhadores venezuelanos, podendo causar crises econômicas, de abastecimento e mesmo crises migratórias, sobretudo nas fronteiras com Colômbia e com o norte brasileiro.

Sabemos que o projeto político chavista tem muitas limitações (apesar dos avanços na era Chávez) e que o governo Maduro tem tratado de maneira muito equivocada a oposição de esquerda no país (reprimindo-a e equiparando a esquerda ao golpismo fascista), entretanto as forças revolucionárias e de esquerda não podem vacilar neste momento, não podem tremer a mão, qualquer intervenção e ataque imperialista vai piorar muito a situação das massas venezuelanas, criando caos no nosso continente. Lembremos o que aconteceu com Líbia, Iraque, Síria, Argentina de Milei…

Não a qualquer intervenção imperialista na Venezula!

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