
Por José Diego, militante do PCB e do Minervino em Pernambuco
Na tarde do dia 11 de setembro, muitos de nós comemoramos a condenação de Jair Bolsonaro e sua trupe golpista; esse provavelmente vai ser um dos maiores acontecimentos da história do Brasil: pela primeira vez, um grupo golpista foi condenado por tentativa de abolição do estado democrático de direito. Mas se engana quem acredita que a história está seguindo seu curso, como se tudo fosse dado e como se as instituições estivessem controlando a sanha reacionária que vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Pelo contrário, as instituições burguesas seguem condenando, prendendo e matando os setores mais oprimidos da classe trabalhadora todos os dias, pois manter a ditadura da burguesia é sua razão de existir. Os direitos democráticos que temos hoje se devem a luta do proletariado ao longo dos anos. Em uma contra-ofensiva da burguesia, vemos esses direitos serem dilapidados quase que cotidianamente, com a desculpa de “modernização”.
Para entender quem de fato tem mérito na condenação de Bolsonaro e parte dos golpistas, nós temos que retroceder ao período da Pandemia, quando o governo Bolsonaro estava forte e todos estávamos temerosos, receosos com nossas vidas e as vidas de nossos amigos, familiares e camaradas. Foi nesse momento de total descaso do governo Bolsonaro, que a força da classe trabalhadora se comprovou mais uma vez, onde, mesmo temerosos por sua vida, milhares foram às ruas do Brasil inteiro reivindicar condições dignas para sobrevivência naquele período de incertezas. Essa organização dos setores populares foi criticada pelos liberais, que não têm contato com a classe trabalhadora e nem entendem suas mazelas, por estarem em casa fazendo quarentena com comida no prato, enquanto milhões de trabalhadores e trabalhadoras estavam entrando em colapso. Os partidos políticos, movimentos negros, feministas, LGBTs, sindicatos, antifascistas, torcidas organizadas e demaisforças populares, foram os que saíram às ruas naquele momento histórico. Essa parcela da população foi a principal responsáveis pela condenação de Bolsonaro e dos militares golpistas, foi naquele momento que vimos a chama da luta crescer dentro de todo povo explorado depois de muitos anos, enfrentando o medo da morte nas ruas e semeando a esperança no coração da população brasileira.
Essa conquista não é do STF, destruidor de direitos trabalhistas e que ataca os povos indígenas, não é de Alexandre de Morais, juíz indicado por Michel Temer, envolvido em escândalos de corrupção e parceiro de Bolsonaro, nem de qualquer outra instituição burguesa, esse mérito é da classe trabalhadora organizada e das organizações revolucionárias que foram às ruas mostrar como de fato se combate o fascismo.
Mesmo com essa vitória momentânea, não podemos nos iludir. A guerra contra as forças reacionárias e fascistas não terminou, precisamos vencer-los todos os dias, pois ele é uma hidra que perdeu uma cabeça, mas logo outras duas nascem no lugar. Para compreender melhor esse ponto, vejamos o exemplo do Peru, onde o ex-presidente Alberto Fujimori foi preso e condenado por crimes contra a humanidade, mas a força política do fujimorismo permanece viva até hoje. Keiko Fujimori, filha do ex-presidente, foi para o segundo turno das últimas duas eleições presidenciais. Hoje o fujimorismo é uma das principais correntes políticas no parlamento. Com esse capital político, o fujimorismo vem conseguindo manter Dina Boluarte na presidência, mesmo com ela tendo apenas 2% de aprovação popular e enfrentando graves acusações de corrupção. Dina Boluarte também é acusada de ordenar que forças policiais atacassem manifestantes, resultando em mortes e centenas de feridos. O bolsonarismo vem perdendo força, mas ainda é um fenômeno político que leva às ruas milhares de pessoas, em torno do qual orbita uma fauna de parlamentares que tem como única bandeira defender Bolsonaro, pois dependem dele para própria existência enquanto bloco político relativamente coeso. Todos os movimentos até aqui indicam que o núcleo duro desse campo não vai se render ou abrir espaço para a velha direita de bom grado. Podemos ver novos acordos sendo costurados entre esses campos políticos no Parlamento, fazendo com que os bolsonaristas se tornem figuras permanentes na política nacional.
O movimento golpista permanece forte, vivo e com apoio da maior potência imperialista do nosso tempo. Enquanto militantes organizados, devemos estar nessa luta diária junto à classe trabalhadora. Não podemos subestimar nem superestimar a força das redes sociais, já que vemos como elas podem ser usadas para derrubar governos ao redor do globo, contudo, é necessário uma luta organizada fora delas, pois é junto da classe trabalhadora e dos setores mais explorados que vínculos orgânicos e resistentes são criados. Temos que caminhar atentos, pois parte do núcleo militar foi preso, mas e os financiadores de toda essa operação golpista? Os burgueses e latifundiários que deram apoio financeiro e logístico para o golpe não estão no banco dos réus, continuam suas vidas explorando o Brasil e a classe trabalhadora, servindo nossa nação de bandeja para os interesses do capital estrangeiro como vendilhões da pátria.
Não é possível construir a Revolução Brasileira e um futuro socialista sem a derrota total e completa da burguesia. E essa vitória não vai vir das urnas e muito menos da esquerda institucional que só se preocupa em mobilizar suas bases perto das eleições. A derrota do fascismo só é possível com os setores revolucionários comprometidos em fortalecer os trabalhos realizados nos morros, altos, favelas, ocupações e demais territórios em que a população explorada estiver. É necessário fazer os reacionários e fascistas voltarem a temer o dia que os comunistas descerem dos morros, pois junto deles vai vir a classe trabalhadora unida e determinada em fazer a Revolução Brasileira e mundial.
Referências:
1.Manifestações na pandemia
2.STF inimigo dos direitos trabalhistas
3.STF inimigo dos povos indígenas
4.Fujimorismo
https://www.google.com/amp/s/www.bbc.com/portuguese/articles/cvg5g51je6mo.amp
5.Financiadores da tentativa de golpe
6.Medo do comunismo nos Morros
https://www.buala.org/pt/cidade/a-afirmacao-da-favela-carioca
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