Vladimir Ilyich Ulianov (Lenin)

Vladimir Ilyich Ulianov (Lenin)

Por: O Poder Popular · Imagem: Lenin discursando em 1919

Miguel Anacleto Júnior - Militante do PCB em Pernambuco

Capítulo do livro Líderes Revolucionários do Século XX: Breves Biografias

VLADIMIR ILYICH ULIANOV (LENIN)
(1870 – 1924)

Lenin foi o líder da revolução russa de 1917 e principal articulador do marxismo como teoria e prática revolucionária sob a era imperialista do capital.
Nasceu em Simbirsk no dia 22 de abril de 1870, proveniente de uma família de classe média russa (méstchané). Aos 16 anos fica profundamente abalado com a prisão e posterior enforcamento de seu irmão mais velho, Alexandre, acusado pela polícia de liderar uma tentativa de assassinato contra o czar Alexandre III.
Ao terminar o ginásio, destacando-se como excelente aluno, ingressa na Faculdade de Kazan, para dar início aos estudos de Direito. Em dezembro de 1887 é preso e expulso de Kazan por participar nos movimentos estudantis.

De volta a Kazn em 1888, muda-se no ano seguinte, com sua mãe e alguns irmãos, para Samara. Ali estuda minuciosamente “O Capital” de Karl Marx, ao mesmo tempo em que participa de debates nos círculos de intelectuais marxistas interessados em mudar os rumos dos acontecimentos da Rússia imperial.
No outono de 1893, passa a residir em São Petersburgo, onde retoma os estudos de direito. Dedica-se com mais intensidade aos estudos das obras de Marx e Engels e inicia uma campanha de agitação revolucionária naquela cidade, evidenciando, já nessa época, seu desprezo pelo academicismo.

Combatendo a política das correntes populistas, escreve, em 1894, sua primeira grande obra: “Quem são os ’amigos do povo’ e como lutam os sociais democratas”, onde também assinala a importância da classe operária no desenvolvimento do movimento revolucionário.

Preso em 1895, é deportado para a Sibéria, permanecendo ali até 1900. Em julho desse ano, em companhia de Nadejda Krupskaia, sua esposa, consegue cruzar a fronteira russo-alemã, indo refugiar-se na Suíça, onde entra em contato com vários militantes do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR). Mais tarde, em Genebra, dirige o jornal Iskra (A Centelha), órgão oficial do partido, encaminhado clandestinamente para toda a Rússia.

Através de artigos publicados no Iskra, Lenin vai demonstrando os traços específicos do desenvolvimento capitalista na Rússia e a possibilidade de se efetivar a revolução socialista. Precisamente por ser a burguesia russa mais fraca do que no restante dos países europeus, seria mais facilmente derrubada. Na realidade, Lenin demonstrara que, utilizando-se da burguesia para derrotar o já debilitado czarismo, haveria espaço suficiente para dar continuidade ao processo revolucionário, passando imediatamente da democracia burguesa para a democracia socialista. Um atraso geral no campo da indústria em relação aos demais países da Europa; um despotismo anacrônico onde não existia um mínimo de liberdade; repressão e exacerbada exploração dos operários e camponeses, tais eram as principais características da Rússia imperial.

No “Que Fazer”, publicado em 1902, Lenin critica violentamente o economicismo e a teoria da espontaneidade presentes na política de algumas correntes que procuravam distorcer o marxismo. Na mesma obra, fundamenta a concepção ideológica do partido.

Em julho de 1903, acontece o Segundo Congresso do POSDR (o primeiro ocorreu em 1898, quando Lenin estava preso na Sibéria). A estratégia revolucionária traçada por Lenin triunfa sobre as teses de Martov, na época apoiado por Trotsky. Os desentendimentos provocam a cisão do partido em dois: os Bolcheviques (maioria), partidários de Lenin, e os Mencheviques (minoria) liderados por Martov.

As conseqüências da derrota da Rússia frente ao Japão na guerra de 1904 (disputa pela Manchúria) aliadas à miserável situação vivida pela maioria da população, conformariam algumas das principais causas do agravamento das tensões sociais que desembocariam na Revolução de 1905.
Após a grande greve de operários sucedida pelo chamado Domingo Vermelho em janeiro de 1905 (marcha dos grevistas reprimida à bala pela polícia do czar com saldo de mais de mil mortos), Lenin retorna à Rússia bastante otimista quanto aos rumos da revolução.

Contudo, os esforços dos bolcheviques não foram suficientes para impedir o fracasso da insurreição. O movimento caracterizou-se por revoltas espontâneas das massas populares e por várias deserções nas forças armadas.
Apesar da derrota, Lenin tira importantes conclusões políticas e militares sobre os acontecimentos de 1905-1907. Ficava demonstrada a fragilidade do czarismo e a falta de iniciativa da burguesia. Por outro lado, era preciso organizar os operários e camponeses e preparar com todo o vigor os quadros revolucionários.
Em 1906, o POSDR voltou a reunificar-se, mas no ano de 1912, em Praga, é consumada a cisão definitiva do partido. Daí em diante, os bolcheviques se organizam, sob a liderança de Lenin, como partido independente, o Partido Bolchevique (Comunista).

Desde 1907, Lenin voltara a emigrar, passando grande parte do exílio em Paris. Dirigindo de fora da Rússia a reorganização e aperfeiçoamento das fileiras bolcheviques, Lenin aguarda o momento adequado para reascender a chama da insurreição.

A partir de 1912, a agitação recomeça na Rússia. As greves e os movimentos camponeses ameaçam o poder do czar que ordena a repressão brutal a qualquer manifestação popular.

Em 1914, Lenin encontrava-se na Áustria quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial. A deplorável atitude da Segunda Internacional perante a guerra foi para o líder bolchevique um rude golpe. Radicalmente contra a guerra, por esta representar apenas um conflito de interesses entre os capitalistas europeus, defendia a transformação da guerra imperialista em guerra civil revolucionária como única forma de salvar enormes contingentes operários e camponeses de uma batalha alheia a seus interesses. Sua orientação, entretanto, não foi seguida pela maioria dos partidos da II Internacional, preferindo estes a tomarem uma atitude de compromisso com seus respectivos governos. Na Conferência Internacional de Zimmermald, a II Internacional é praticamente dissolvida.

Enquanto isso, a guerra fustigava o povo russo. O frio, a fome e as consecutivas derrotas do exército russo, irão causar uma situação explosiva dentro das fronteiras do império. As greves e manifestações multiplicavam-se. A situação do czar tornava-se insustentável. Por um lado, estava impossibilitado de deter o avanço da insurreição, visto que o grosso de seu exército estava absorvido pela guerra. Por outro, inúmeros regimentos de soldados desertavam a favor da revolução. A 15 de março de 1917, o czar abandona o governo.

Entretanto, não foram os bolcheviques que tomaram o poder, apesar de ter sido o partido destes o principal articulador da insurreição. As difíceis condições da clandestinidade haviam impedido que os principais dirigentes dominassem os rumos dos acontecimentos. É estabelecido um governo provisório na Rússia chefiado por Kerensky, membro do Partido Socialista Revolucionário que adotava medidas liberais sem, contudo, alterar as questões sobre a guerra e a reforma agrária tão esperada pelos camponeses pobres.

Nos meses seguintes, é estabelecida uma verdadeira dualidade de poderes: de um lado os sovietes (conselhos de operários, camponeses e soldados), controlados pelos bolcheviques, cujos líderes, beneficiados pelas medidas liberalizantes do governo provisório, haviam retornado à Rússia; de outro, a incipiente burguesia liderada por Kerensky tentando desesperadamente deter a marcha da nova revolução que se aproximava.

A continuação da guerra, o posicionamento de vários generais fiéis ao czar e, sobretudo, o descontentamento geral do povo, aumenta as contradições do governo provisório. Em julho, uma manifestação pacífica é brutalmente reprimida. Em abril, Lenin chega triunfalmente a Petrogrado (São Petersburgo), sede do governo, e é calorosamente recebido pela população.

A sua chegada permite ficar mais ao corrente da situação. Defendendo arduamente o processo imediato da insurreição e da tomada do poder pelos sovietes, dirige várias cartas ao Comitê Central do partido. No dia 23 de outubro, após longa discussão, fica decidida a realização da insurreição.

Os destacamentos bolcheviques avançam em direção à tomada do poder. A 7 de novembro de 1917 (23 de outubro do antigo calendário russo), é instalado o poder dos sovietes, o primeiro governo socialista do mundo. Na manhã do dia seguinte, ouve-se por toda a Rússia o hino da Internacional. Os acontecimentos decisivos da Revolução Russa seriam imortalizados no livro Dez Dias que Abalaram o Mundo, cujo autor, o revolucionário estadunidense John Reed, foi um ativo participante do processo.

A presidência do Conselho dos Comissários do Povo é ocupada por Lenin. Passa então a dedicar-se pela criação do Estado soviético em meio à difícil tarefa da construção do socialismo. Entretanto, a paz tão desejada pelo povo russo estava longe de se tornar realidade. A reação interna, auxiliada pelas potências capitalistas, impõe uma guerra civil contra o poder soviético. Não fosse a habilidade e a perseverança de Lenin e seus camaradas, a par do apoio popular, o governo revolucionário dificilmente sairia vitorioso.

No período compreendido entre 1917 e 1921 (período da guerra civil) o povo russo passaria por inúmeras dificuldades. Mais de 7 milhões de pessoas morreram de fome. Nada menos do que 16 intervenções estrangeiras foram realizadas em território russo. Junte-se a isso, os vários destacamentos contrarrevolucionários localizados em vários pontos do país.

A paz de Brest-Litovsk assinada entre o governo soviético e as potências da Europa Central em março de 1918, se tornará em importante fator para garantir o novo poder. Com a paz estabelecida, o recém-criado Exército Vermelho passa a concentrar esforços para debelar a contrarrevolução.

Em agosto de 1918, após ter proferido um discurso para uma imensa multidão que atentamente o escutava, Lenin é atingido por quatro projéteis disparados por um tal Fanny Kaplan, socialista revolucionário de direita. A tolerância dos bolcheviques com agrupamentos políticos opositores se esgotou. No final de agosto, o jornal de Petrogrado declarava: “...cada gota do sangue de Lenin deve custar aos burgueses centenas de mortos...”.

Finda a guerra civil, o governo soviético, com Lenin recuperado do atentado, encontra-se diante de duas difíceis tarefas: reconstruir o país e edificar os pilares da sociedade socialista num território imenso com várias línguas e nacionalidades. Apesar das dificuldades e do boicote econômico dos países capitalistas, o governo revolucionário seguiria implementando seus programas. Em 1922 é formada a União das Repúblicas Socialistas Soviética unindo várias nacionalidades num só projeto.

Excessivamente atarefado, Lenin, esgotado física e mentalmente e sofrendo de sequelas do atentado, adoece no final de 1922. Em março de 1923 sofre um ataque de paralisia no lado direito do corpo. Levado para a cidade de Gorki, lentamente se recupera. Para o líder soviético, o pior dos castigos era a inação. Diariamente ouvia, através da voz de Nadejda as notícias dos jornais. Após um breve período de recuperação, sofre novo ataque de paralisia. A 21de janeiro de 1924, o coração do líder bolchevique parava de bater.

A morte precoce de Lenin (54 anos) emocionou toda a União Soviética. Mais de um milhão de pessoas postaram-se na Praça Vermelha para assistir o seu funeral sob um firo de –32ºC.  O falecimento de Lenin também comoveu trabalhadores de todo o mundo. Em sua homenagem, os trabalhadores de diversos países paralisaram o trabalho durante cinco minutos no dia de seu funeral.

Pensador, estrategista, filósofo, líder de massa, Vladimir Ulianov, ou simplesmente Lenin, deixou como herança uma legião de milhões de admiradores que ainda hoje seguem seu exemplo de determinação na luta por uma sociedade sem classes.

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