1° de março, aniversário do Rio de Janeiro
Por Heitor César de Oliveira, fundador do Comuna que Pariu e membro do Comitê Central do PCB
A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada oficialmente em 1° de março de 1565, como desdobramento das ocupações e guerras de domínios que ocorriam por aqui.
Já naquela época diferentes dominadores usavam os habitantes locais em suas disputas. Portugueses e franceses faziam cooptação dos povos indígenas que aqui viviam e exploravam suas divergências a seu favor.
Mas, de toda forma, o Rio de Janeiro foi fundado. De lá para cá muita coisa aconteceu: nos tornamos capital inclusive do "Império Português" e depois, com a independência, nos tornamos capital do Império do Brasil.
Por aqui a elite local fez uma cópia das monarquias europeias, com barões, duques e oligarquias fingindo de aristocracia. O Rio se tornou um dos principais polos de negociações de vidas, com o comércio de negros escravizados e sequestrados na África.
Mas aqui também surgiu rebelião. Por aqui movimentos abolicionistas e republicanos questionavam as coisas como as coisas eram. Aqui surgiram jornais, grupos, conspiradores. Houve muita luta e muita pressão popular, mesmo que abafada violentamente por um governo que bancava-se de ilustrado, mas que reprimia e se mantinha também pela força, coisas do tempo do imperador.
Mas veio a abolição, veio a República e a capital do Império virou a capital da República. Ainda era uma república das elites, das oligarquias, dos "senhores" e coronéis.
A rebelião por aqui continuava existindo. Tivemos revoltas e greves, um nascente movimento operário, rebeliões até de jovens oficiais. Revolta da Chibata, greve geral e os 18 do Forte. Foram muitas lutas, que tiveram como "monumento as pedras pisadas do caís."
Aqui se fundou o Partido Comunista Brasileiro, primeiro partido realmente de atuação nacional, e era um partido internacional, também o primeiro partido que buscava organizar e dar voz aos operários e oprimidos, ao povo brasileiro.
Aqui o povo organizou sua luta e suas festas. Aqui Getúlio amarrou seu cavalo e enterrou a Primeira República. Aqui o povo se organizou para enfrentar a fascistização social e institucional.
Aqui houve levantes populares da Aliança Nacional Libertadora com a Praia Vermelha. Aqui houve repressão e prisões. Aqui também houve julgamentos arbitrários contra os que lutavam pelo bom e pelo justo e pelo melhor dos mundos.
Mas por aqui também passaram movimentos lutando por anistia, pela entrada do Brasil na Guerra, pela redemocratização. Aqui a luta de massas passou pelas quadras das escolas de samba e pela eleição de deputados, senador e vereadores comunistas como nunca antes.
Mas aqui também vimos a reação das elites, dos conservadores e reacionários que, ao lado dos interesses do liberalismo, atacaram o povo e suas organizações. Cassaram e caçaram comunistas e nacionalistas. Tentaram golpes e conseguiriam. Por aqui se prendeu, torturou, assassinou e desapareceram com lutadoras sociais e populares. Tivemos uma noite de 21 anos. Mas a superamos e o dia nasceu.
Vieram os ventos da Constituinte, não como queríamos, mas como deu, e foi melhor do que estava, mesmo que não suficiente. Mas continuamos lutando... E sempre tendo por palco a cidade já chamada de poema, mesmo que dramático, mas um poema.
É a cidade da rebeldia, das lutas, das festas, a cidade onde se organizaram revoltas, rebeliões, o Partido Comunista. A cidade da Portela, da Mangueira, do Salgueiro, da Vila Isabel, do Império e do Estácio. A cidade dos blocos e cordões, a cidade do Comuna que Pariu.
É certo que não temos muito o que comemorar, mas estamos vivos e prontos para lutar e ainda tentar nivelar a vida em alto astral... Com muita festa, rebeldia, luta e com o Poder Popular.