55 anos sem Marighella: um homem chamado revolução

UJC de Macaé – RJ

Carlos Marighella foi talvez o maior guerrilheiro na luta contra a Ditadura Empresarial-Militar (1964-1985), sendo considerado “O inimigo n° 1 do governo” nessa época. É fundamental a compreensão a respeito de sua importância não apenas no movimento comunista do país, mas também como uma história para todos os lutadores sociais se inspirarem na luta contra a classe dominante e seus agentes da ordem.

Marighella nasceu em 5 de dezembro de 1911 em Salvador, filho de Augusto Marighella, um imigrante Italiano, e Maria Rita do Nascimento, uma baiana filha de ex-escravizados sudaneses, que sempre foi influenciado na leitura pelo pai, inscreveu-se para o primeiro ano em 1925 no colégio Carneiro Ribeiro. Após treze anos, mudou-se para o Ginásio da Bahia, onde ficou conhecido por responder às provas de física com versos.
Em 1930, Getúlio Vargas ascende ao poder a partir de um golpe articulado pelas elites gaúchas e mineiras. Anos mais tarde, em 1937, o então presidente dá um novo golpe para proteger seus próprios interesses, alegando a existência de uma “ameaça comunista” – um elemento de coesão para obter apoio da classe dominante – e institui um governo ditatorial conhecido como “Estado Novo” (1937-1945).

Diante desse cenário, em 1932, o revolucionário foi preso pela primeira vez por escrever um poema contendo críticas ao interventor do Estado da Bahia, Juracy Magalhães. Mais adiante, em 1936, foi preso novamente, sendo torturado pela polícia, a qual servia Filinto Müller; foi solto no mesmo ano, através da “macedada” – medida tomada pelo então Ministro da Justiça, José Macedo Soares, visando a libertar os presos sem condenações. Em 1939, Marighella é mais uma vez detido por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), onde foi torturado mas se recusou a fornecer informações da atuação dos militantes comunistas, e por isso ficou 6 anos encarcerado, tendo passado pelos presídios de Fernando de Noronha e Ilha Grande.

Com a queda de Vargas, em 1945, os presos políticos obtiveram sua anistia, assim como a retomada de seus direitos políticos. Com efeito, Marighella é eleito Deputado Federal, representando o PCB pela Bahia, compondo a Assembleia Nacional Constituinte, em 1946, ao lado de expoentes como Luís Carlos Prestes, Gregório Bezerra e Jorge Amado.

Contudo, em 1947, o PCB é posto novamente na ilegalidade, e, dessa forma, os parlamentares comunistas, incluindo Marighella, tem seus mandatos cassados, atentando para a emersão do tenso contexto de polarização na Guerra Fria. Nesse período, o revolucionário conheceu a China maoísta, a União Soviética e, posteriormente, Cuba, possibilitando uma melhor análise sobre as experiências socialistas.

Posteriormente, na madrugada do dia 31 de março para o dia 1° de abril de 1964, o então Presidente da República, João Goulart, é deposto pelas Forças Armadas, com apoio das forças estadunidenses na chamada “Operação Brother Sam”, sob a alegação na qual havia ameaças de instituição de um estado socialista no Brasil. Os militares então dão início à Ditadura Empresarial-Militar (1964-1985), atendendo não somente aos interesses da burguesia brasileira, mas sobretudo do imperialismo estadunidense, que avançava em toda a América Latina.

Em sequência ao Golpe Militar, em 9 de maio de 1964, Carlos Marighella foi detido por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) dentro de um cinema – repleto de civis – no Rio de Janeiro. Reagiu à prisão e protestava gritando: “abaixo a Ditadura Militar fascista” e “viva a democracia”, recebendo, após isso, um tiro à queima-roupa no peito. Após ser baleado, Marighella é levado ao Hospital Souza Aguiar para, enfim, ser preso na Penitenciária Lemos Brito, onde ficou encarcerado por cerca de 3 meses, quando conseguiu um habeas corpus, em 31 de julho daquele ano.

O revolucionário vinha de uma sequência de divergências com a tática adotada pelo PCB à época, sobretudo na forma de ação contra a repressão. Nesse aspecto, após participar da 1ª Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), em agosto de 1967, sem a permissão do PCB, Marighella é afastado definitivamente do Partido Comunista Brasileiro.

Nesse contexto, publica um documento denominado “Pronunciamento do Agrupamento Comunista de São Paulo”, no qual o guerrilheiro não apenas expõe os fatores responsáveis por levá-lo à dissidência com o Partido, como também anuncia a criação de uma nova articulação visando à luta armada contra os opressores. Assim, é fundada a “Ação Libertadora Nacional”, em julho de 1968.

Mais adiante, em setembro de 1969, a “Dissidência Comunista da Guanabara” (DI-GB) – futuro “Movimento Revolucionário 8 de Outubro” (MR-8) – idealizou e concretizou, com o apoio da ALN, um sequestro do Embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick, exigindo para sua libertação a soltura de 15 presos políticos e a leitura em rede nacional de um manifesto de denúncia contra a ditadura.

Dessa forma, após uma reunião entre os militares, os representantes diplomáticos dos EUA e os órgãos de segurança, o governo resolve acatar os pedidos dos revolucionários, mesmo já sabendo seu esconderijo e, inicialmente, pretendendo matá-los. Desse modo, logo em sequência ao desembarque dos presos políticos no México, o embaixador é solto próximo ao Estádio do Maracanã, na saída de um jogo entre o América e Fluminense, para que, camuflados na torcida, os militantes fugissem.

Entretanto, em novembro de 1969, após os freis Fernando e Ivo (ligados ao revolucionário) serem detidos e torturados pelo DOPS, é programada uma emboscada visando a prisão do guerrilheiro. Com isso, é marcado um encontro em um fusca azul, na Alameda Lorena, em São Paulo, em 4 de novembro. Diante disso, Marighella chega ao local e, ao entrar no carro, é cercado por policiais, comandados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, que tiram os religiosos do veículo e executam Carlos Marighella – que se encontrava desarmado – a tiros, alegando, posteriormente, um confronto.

Marighella e a história de sua luta foram – permanece sendo – exemplos para milhões de brasileiros que resistem. Ele pode ser caracterizado como um dos maiores – se não o maior – revolucionário da história do país, tendo sido considerado pelo governo militar como “o inimigo público número um”.

MARIGHELLA VIVE PORQUE VIVEMOS!
POR MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA!

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