Camarada Janderson - Militante do PCB e Secretário Político da UJC em SP
“O poder estatal moderno é apenas uma comissão que administra os negócios comuns do conjunto da classe burguesa” (O Manifesto do Partido Comunista, MARX; ENGELS...)
Na semana do dia 11 de Janeiro de 2023, uma das maiores varejistas do mundo, Americanas S.A., divulgou “inconsistências contábeis” estimada em aproximadamente R$ 20 bilhões, tendo causado na companhia uma dívida que, no total, ultrapassou os R$ 40 bilhões. Passados quatro meses, foi instalada na Câmara dos Deputados uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as fraudes. O relatório final da CPI, divulgado na última terça-feira (26), não surpreende: apesar das evidências, os grandes capitalistas foram isentados de qualquer responsabilidade.
Durante esses meses, a CPI produziu 353 páginas com base no relato de ex-diretores, advogados e autoridades encarregadas das investigações. Segundo o relator da CPI, deputado federal Carlos Chiodini (MDB-SC), não há provas suficientes para indiciar os responsáveis.
É o maior caso de corrupção registrado na história dos círculos corporativos do Brasil. No topo da blindagem encontram-se os três maiores acionistas da empresa: Carlos Alberto da Veiga Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Hermann Telles.
Considerando as investigações jornalísticas e exposições feitas nas sessões da CPI, não faltaram evidências de que o rombo de R$ 20 bilhões na empresa foi resultado de ações fraudulentas e corruptas operadas há pelo menos 7 anos. Resumidamente, a fraude consistia na produção artificial de lucros contábeis e na ocultação do endividamento da empresa, de forma a possibilitar a distribuição indevida desses “lucros” aos acionistas. Em outras palavras, as dívidas da empresa, há anos, não foram registradas corretamente no balanço, possibilitando uma distribuição maior dos dividendos à quem estava fechado com o esquema. Na audiência pública ocorrida na Câmara dos Deputados no último dia 8 de Agosto, foi esclarecida a forma como se operacionalizou a fraude. Convido o/a leitor/a a acessar esse material caso queira saber em detalhes.
Sicupira, em 2014, numa palestra promovida pela InfoMoney, chamou o Brasil de “país do coitadinho, do direito sem obrigação” e de “país da impunidade”, que “nunca será os Estados Unidos”. No entanto, o que ocorreu na terça-feira na Câmara dos Deputados, foi justamente a expressão do maior tipo de impunidade que costuma ocorrer no Brasil, a impunidade do Estado Burguês contra os próprios sustentadores de sua manutenção. Em casos como esse, conseguimos evidenciar a hipocrisia crônica da burguesia. Sicupira, Telles e Lemman são alguns dos homens mais ricos do país. Juntos, fundaram a 3G Capital, que agora é dona da Americanas, Hunter Douglas, Kraft Heinz, AB Inbev, Restaurant Brands International, dentre outras. Somando a fortuna dos três, estima-se mais de R$ 180 bilhões.
O que cabe colocar aqui é a previsibilidade desse tipo de notícia - o Estado burguês isenta, pasmem, um dos maiores grupos de burgueses do mundo, os principais financiadores de políticos no Brasil.
No mesmo país em que mais de 200 mil pessoas estão presas sem condenação por pequenos crimes (a maioria delas negras), um punhado de capitalistas promovem o maior caso de corrupção da história, com direito a “passação de pano” do parlamento burguês, e infelizmente isso é parte do “normal”. Aos trabalhadores brasileiros, há séculos, vemos sendo aplicado o rigor da lei, da autoridade e do terrorismo militar do Estado burguês. Aos bilionários, nos casos de corrupção, no máximo ocorre a publicização inevitável de seus escândalos e prisões de “laranjais” de médio porte, que servem como cortinas de fumaça para desviar o foco dos verdadeiros capitalistas corruptos de grande porte.
Surpreendente seria se eles fossem punidos, ou pelo menos indiciados. Isso sim chocaria. Se por um lado nos espaços supostamente democráticos do Estado representativo (Parlamento/CPI) esses casos são abafados, por outro lado, quando chegam à justiça (onde reina a tecnocracia burguesa), morrem no bolso dos juízes e advogados envolvidos.
É por essas e outras que nós, comunistas, entendemos que bilionários não deveriam existir! São pessoas juridicamente inabaláveis, que podem errar quantas vezes quiserem, pois, se sua existência é por si só já é parasita, suas práticas não poderiam ser diferentes.
Quem puniria os maiores capitalistas do Brasil?
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