A hora dos monstros

A hora dos monstros

Por: Redação ·

Por Wesley Brito, militante da Unidade Classista, PCB e petroleiro diretor do Sindipetro-RJ

Nos últimos dias vimos capítulos dramáticos de uma guerra que já se arrasta desde 2014. Após o episódio do Euromaidan, que culminou com a deposição do Presidente Yanukovitch se deu a eleição de Poroshenko, esse último muito mais inclinado à União Europeia e à OTAN do que o anterior. A derrubada de Yanukovitch se deu na esteira de um ultra nacionalismo que flerta com o fascismo (e aqui qualquer semelhança não é mera coincidência) e que recebe vultosa injeção de recursos e equipamentos por parte da OTAN e seus membros.

A guerra civil que se seguiu à derrubada de Yanukovitch e à posterior eleição de Poroshenko ceifou mais de 14000 vidas na região do Donbass desde 2014  e mais de 100 em menos de 9 dias de invasão russa. A oligarquia russa sentindo seu espaço de influência sendo virado contra eles e sendo armado até os dentes, usou uma petição do Partido Comunista da Federação Russa como pretexto para fazer valer seu poder militar e garantir aquilo que considera sua segurança do ponto de vista militar (A principal preocupação publicizada por Moscou é o tempo de viagem dos mísseis de cruzeiro da OTAN da fronteira ucraniana até Moscou) e também seu "direito natural" devido a laços históricos e étnicos. Invadiu a Ucrânia, e além disso ultrapassou o Dnieper, rio que separa mais ou menos geograficamente as porções de etnia ucraniana e russa dentro do território ucraniano (consequências da dissolução da URSS). Usando como justificativa a desnazificação e a segurança dos russófonos, Moscou lança um ataque que visa a desmantelar a capacidade ucraniana de encontrar Moscou no campo de batalha.

Entretanto, nada poderia ser mais ilusório do que achar que a Ucrânia não receberia toda a "solidariedade" dos concorrentes geopolíticos de Moscou: Os EUA. Se a Rússia pensa que pode projetar seu poder militar e geopolítico na Ucrânia sem resistência efetiva, ou age com base em pressupostos de um Nacionalismo Idealista ou já se preparou para a hecatombe que será uma guerra total entre as maiores potências bélicas da história da humanidade.

Como bons Yankees sentindo o cheiro da oportunidade, os falcões de Washington almejam arrastar Putin para um atoleiro análogo ao Vietnã estadunidense e o Afeganistão soviético. Sem precisar gastar seus próprios soldados em mais uma guerra sem vencedores (se não os negociantes de armas), atitude que poderia causar disrupturas na já combalida estabilidade da sociedade estadunidense, a Casa Branca consegue impor à Europa que esta compre gás mais caro dos EUA e de seus Estados clientes no Oriente Médio ao invés do gás russo que viria pelo recém construído gasoduto Nordstream 2, assim garantindo a sua influência na Europa em oposição aos russos que forneciam cerca de 60% do gás que é usado na UE (principalmente pra aquecimento). Assim, com propaganda, fazem centenas de militantes de extrema direita no Brasil (lembra da Sara Winter falando em ucranizar o Brasil?) e no mundo se disponibilizarem a lutar contra o adversário geopolítico da Casa Branca, bastando só aos EUA, fornecer armamento (um grande aumento de demanda para o complexo industrial militar) que certamente será financiado pela já claudicante economia europeia. Moscou, por outro lado, não quer correr riscos e finalmente entende que qualquer esperança de integrar de maneira não subalterna o sistema mundo é ilusória. A Rússia não faz parte da família da Europa, os EUA fazem. Assim ataca pra salvaguardar seus interesses nacionais, não importem as consequências. Nenhuma coisa boa pode vir desse confronto. Não há nenhuma vantagem pra classe trabalhadora nesse embrião de guerra total mundial, já a se desenhar (vide o envolvimento de legiões "voluntárias" de ambos os lados).


A classe trabalhadora deve advogar independentemente pelo imediato cessar fogo e retirada de tropas, a segurança e auto determinação de Lugansk e Donnetsk simultaneamente com a integridade territorial e soberania ucraniana.

Entretanto essas coisas são somente idealismo se não se restituírem a legalidade da oposição que perdeu seus direitos políticos, assim como o julgamento dos responsáveis por massacres como a carbonização de mais de 30 pessoas na chacina de Odessa, ou a crucificação de um separatista. O cessar fogo imediato de todas as partes e a volta às negociações de 2014, mediadas por um movimento proletário forte, são o único caminho para paz. Nossa única chance é dar à luz um novo mundo, um mundo iluminado pelo sol vermelho. Um mundo onde os monstros não podem caminhar livremente.

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