A vacina cubana contra o câncer de pulmão e a eleição dos EUA

Beto Almeida - Jornalista e conselheiro da ABI - Monitor Mercantil

Cuba oferece ciência para salvar vidas, como a vacina contra câncer no pulmão, enquanto EUA discutem manter guerras. Por Beto Almeida


O início da comercialização da vacina cubana contra o câncer de pulmão na Bielorússia – a primeira do tipo no mundo – tem um significado civilizatório extraordinário para uma Humanidade açoitada por guerras, fome, contaminação ambiental, desemprego crônico etc.

Mas, sobretudo porque traz um inevitável contraste entre a pequena ilha de Cuba, bloqueada há mais de 6 décadas, com a eleição dos EUA, na qual os dois chamados candidatos – melhor se fossem descritos como criminosos de guerra – disputam, num espetáculo de terror, qual deles apresentará maior ameaça para humanidade.

Ou seja, enquanto Cuba oferece ao mundo um exemplo claro de ciência para salvar vidas, a eleição dos EUA assusta o mundo discutindo como se manterá a guerra atual ou como se abrirá uma nova frente de guerra. Ou seja, civilização e barbárie.

Enquanto Cuba comprova que o uso intenso de seus modestos recursos na prioridade para elaboração de tecnologias para a vida traz como resultado a primeira vacina contra o câncer de pulmão, os dois guerreiros que medem força na campanha eleitoral dos EUA, gritam para aterrorizar o mundo anunciando continuidade no apoio a Israel e também na continuidade de um unilateralismo neoliberal que investe preferencialmente na indústria bélica, por isso o apoio à guerra da Otan contra a Rússia, e na abertura de nova frente de guerra contra a China.

Há quem estranhe que esta vacina de Cuba inicie sua comercialização pela Bielorússia, mas basta que se informe que o bloqueio imposto pelos EUA contra a Revolução Cubana impede que os enormes avanços da biotecnologia socializada caribenha sejam compartilhados naturalmente, como se houvesse livre comércio para todos os países. Para Cuba, não há liberdade de comércio!

Há anos está em teste no Brasil, realizado pela Fiocruz, um medicamento que impede a amputação para os enfermos do chamado “pé diabético”, cujas estatísticas do SUS são assustadoras. Seu uso em Cuba é comprovado há anos!

A Bielorússia não é um país submetido aos ditames da União Europeia, muito menos da Otan, portanto não é submetido à pressão oligopólica das transnacionais farmacêuticas sobre seu Ministério de Saúde, como ocorre na maioria dos países ocidentais. Razão pela qual a vacina cubana contra o câncer de pulmão, embora seja uma inegável prioridade, face as terríveis estatísticas desta enfermidade, inicia sua comercialização por aquela nação insubmissa ao otanismo neoliberal.

Olhando por outro ângulo, o bloqueio dos EUA a Cuba também prejudica muitos outros povos, que também poderiam ser beneficiados por estas conquistas científicas, mas certamente prejudica de forma drástica ao povo da Ilha.

Vale lembrar que uma das razões da guerra raivosa que se desatou contra a presença solidária de médicos cubanos no Brasil, prestando edificantes serviços de saúde em regiões que nem conheciam fisicamente médicos, era, também, impedir que a cooperação na esfera de serviços médicos se estendesse aos medicamentos que Cuba produz, e dos quais o Brasil tem enorme necessidade.

Vale lembrar que uma cooperação entre a Fiocuz e o Instituto Finley, de Cuba, anos atrás, permitiu a produção de uma vacina para a febre amarela, destinada a vasta regiões atingidas na África, com um preço 90% menor que os de mercado, vencendo todas as licitações da OMS. A força deste exemplo é tão grande que esta notícia fabulosa jamais foi divulgada.

A vacina cubana contra o câncer de pulmão tem tantos e tão relevantes significados para a humanidade hoje, que, certamente, os grandes meios de comunicação vão escolher o silêncio como forma de censura, porque ela também representa um qualificado reforço aos argumento de quem defende a opção por um modelo de mundo multilateral, baseado no protagonismo de Estado ao invés de escravizado por um mercado selvagem, regido por uma moeda de questionável valor fiduciário, o que explica a crescente inclinação pela redução da confiança no dólar, especialmente a partir da decisão da Arábia Saudita de interromper a prática do petrodólar, passando a comercializar petróleo também em moeda yuan, além de ingressar no Brics.

A vacina cubana, emblematicamente, é portadora de futuro, comprovando que o protagonismo de Estado e a cooperação horizontal entre países tem muito a oferecer a uma humanidade perplexa, agredida pelo terror que se pratica em Gaza, pelas desesperadas tentativas de impedir uma maioria global já constituída, já organizada no Brics, apresente uma alternativa à selvageria unilateral neoliberal fanática em guerras.

Resta apenas que este novo campo organizado, que já possui um Banco de Desenvolvimento, juntamente com o Celac e outras áreas de soberania frente às pressões dos EUA, encontre maneiras práticas – políticas públicas de saúde – que consolidem espaços seguros para a cooperação internacional com Cuba, fazendo com que suas gigantescas conquistas em saúde, já comprovadas no envio de Brigadas Médicas a países como a Itália e tantos outros, sejam acompanhadas da difusão desta e outras vacinas cubanas. Para o bem comum.

Não apenas seria uma maneira prática de combater o ilegal bloqueio a Cuba, já condenado pela quase totalidade dos países na ONU, mas, também, uma maneira de reconhecer a enorme dívida que a humanidade tem para com aquela Ilha caribenha.

O contraste é pedagógico, incontornável, intangenciável: enquanto a maior nação capitalista do mundo debate como investir em novas guerras, a Ilha de Cuba oferece ao mundo a partilha de seus modestos recursos, consignada numa vacina, que, mais que esperançosa prova de uso da ciência para a vida, é uma forma de atuar como bem público da Humanidade!

Beto Almeida é jornalista, conselheiro da ABI.

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