Agroecologia como Caminho de Resistência e Transformação

Agroecologia como Caminho de Resistência e Transformação

Por: O Poder Popular · Francesco / Pastoral da Juventude - Registro de uma parte das camaradas do Movimento de Mulheres Camponesas e do MUP ao redor de uma horta em formato de mandala

Mava, militante do PCB e da UJC

A agroecologia surge como uma alternativa revolucionária diante da devastação causada pelo capitalismo e pelo agronegócio no Brasil. Mais do que práticas sustentáveis, ela propõe uma reorganização profunda da sociedade, centrando-se na vida e na preservação ambiental. Nos campos e nas cidades, a agroecologia resiste ao sistema de morte, construindo soberania alimentar e promovendo resistência ao sistema que nos mata.


NOTA

“No começo pensei que estivesse lutando
para salvar seringueiras, depois pensei que
estava lutando para salvar a Floresta Amazônica.
Agora, percebo que estou lutando pela humanidade.”

Chico Mendes

O Brasil, com sua imensidão territorial e diversidade de biomas, enfrenta uma destruição sem precedentes. O principal responsável por isso é o capitalismo, revestido pelo agronegócio, movido pela ganância e pela exploração desenfreada da terra. As queimadas que destroem a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal não são desastres naturais; são ações deliberadas, fruto de uma lógica que enxerga a devastação ambiental como caminho para o lucro. Quando olhamos para a crise climática, vemos mais do que uma ameaça ambiental: é uma ameaça social, econômica e civilizatória.

O agronegócio, com sua fachada de modernidade e "eficiência", enriquece poucos às custas da morte de nossas florestas e da pobreza do nosso povo. Enquanto exportam commodities como soja e carne, os latifundiários destroem ecossistemas inteiros, envenenam nossos rios com agrotóxicos e deixam para trás um rastro de miséria e degradação. Sob o pretexto de alimentar o mundo, sacrificam as terras que poderiam garantir a soberania alimentar do Brasil. Essa contradição está no coração da crise climática que vivemos: a produção do agronegócio não visa alimentar o povo, mas satisfazer o mercado internacional. E o preço que pagamos por isso é alto demais.

O capitalismo, em sua essência, não é compatível com a preservação da vida. Ele depende da acumulação infinita, de uma produção que ignora os limites naturais e explora tanto a classe trabalhadora quanto o meio ambiente. Por isso, a solução para a crise climática não pode ser apenas técnica; precisa ser política. Não é suficiente criar leis ambientais ou regulamentações que "amenizem" os impactos do agronegócio. Precisamos de uma transformação profunda que vá à raiz do problema: a propriedade privada da terra e a lógica do lucro a qualquer custo.

Nesse cenário de destruição imposta pelo capitalismo e pelo agronegócio, a agroecologia emerge como uma alternativa revolucionária. Ela não é apenas um conjunto de práticas agrícolas sustentáveis, mas uma filosofia de vida, uma resposta coletiva e solidária às crises que o capitalismo gera, tanto no campo quanto na cidade.

A agroecologia é, em essência, uma ruptura com o modelo capitalista de exploração da terra e dos trabalhadores. Enquanto o agronegócio se baseia na monocultura, na devastação ambiental e no lucro a qualquer custo, a agroecologia promove a diversidade, a regeneração dos solos e o respeito aos ciclos da natureza. Ela coloca a vida e a produção de alimentos no centro, mas de uma forma que cuida da terra e das pessoas. Ao contrário da monocultura, que degrada a terra e concentra riqueza, a agroecologia distribui oportunidades, empodera as comunidades e reconstrói a relação do ser humano com o meio ambiente.

Agroecologia no campo: soberania alimentar e autonomia popular

No contexto rural, a agroecologia oferece uma alternativa concreta para romper com a dependência do agronegócio. Pequenos agricultores, assentados da reforma agrária e comunidades tradicionais encontram na agroecologia uma forma de garantir a soberania alimentar, ou seja, a capacidade de produzir o que consomem, sem precisar se submeter aos ditames do mercado global. Isso é crucial para combater a fome e a pobreza no campo, perpetuadas pela lógica da exportação e da concentração de terras nas mãos de poucos.

No Acre, o PCB e a UJC constroem, junto ao Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), espaços formativos diretamente ligados à prática real da agroecologia. As Mulheres Camponesas nos ensinam as práticas tradicionais ancestrais dos povos indígenas e amazônidas, efetivas para a sustentação da vida pela terra.

Diferente do agronegócio, que destrói florestas e envenena a água e o solo com pesticidas, a agroecologia recupera áreas degradadas, respeita a biodiversidade e promove a rotação de culturas para manter a fertilidade do solo. Ela se apoia no conhecimento ancestral das comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, que, por séculos, souberam cultivar sem destruir, e ainda preservam esses saberes. É uma agricultura que não apenas preserva a terra para as futuras gerações, mas que também fortalece as relações sociais e de solidariedade dentro das comunidades rurais.

A agroecologia também se conecta com a luta pela reforma agrária, pois depende de um acesso mais justo e coletivo à terra. O latifúndio, que se expande às custas do desmatamento e da expulsão de famílias do campo, é incompatível com a agroecologia. Portanto, quando defendemos a agroecologia, também estamos defendendo uma nova forma de organização do espaço rural, onde a terra é distribuída de maneira justa e usada para o bem comum, e não para o lucro de uma elite.

Agroecologia nas cidades: hortas urbanas e o resgate de espaços populares

No entanto, a agroecologia não é restrita ao campo. Nas cidades, ela também se apresenta como uma poderosa ferramenta de resistência e transformação. As hortas urbanas, por exemplo, são expressões concretas de agroecologia no meio urbano. Elas não apenas combatem a insegurança alimentar em áreas periféricas, mas também transformam espaços abandonados e degradados em locais de convivência e resistência comunitária.

As hortas urbanas promovem a organização coletiva e o fortalecimento dos laços sociais. Elas questionam a lógica de dependência total do mercado para a obtenção de alimentos e resgatam a ideia de que o cultivo de comida pode ser uma prática coletiva e solidária, mesmo em centros urbanos densamente ocupados. Em bairros pobres, muitas vezes negligenciados pelo poder público, essas iniciativas agroecológicas criam zonas de autonomia e resiliência, mostrando que a luta por um futuro sustentável e justo começa em cada comunidade.

Além disso, a agroecologia nas cidades promove a educação ambiental, especialmente entre crianças e jovens. Ao aprender a plantar e cuidar da terra, as novas gerações compreendem a importância da sustentabilidade, do respeito ao meio ambiente e da cooperação. Trata-se de uma formação crítica que, nas periferias, se coloca como resistência ao modelo de consumo imposto pelo capitalismo.

Agroecologia e o desafio global: repensando produção e consumo

A agroecologia não é apenas uma resposta local. Ela também se conecta a um movimento global de resistência ao modelo industrial de produção de alimentos, que é insustentável e injusto. A crise climática, em grande parte, é alimentada pela produção industrial de alimentos, que emite enormes quantidades de gases de efeito estufa, desmata florestas e destrói ecossistemas inteiros para dar lugar a plantações de soja, milho e pastagens para gado. No Brasil, isso fica evidente na expansão da fronteira agrícola do agronegócio, que avança sobre a Amazônia e o Cerrado, impulsionada por interesses de mercado.

Diante desse cenário, a agroecologia propõe uma alternativa de produção que respeita os limites naturais do planeta. Ela promove a diversificação de cultivos, o uso sustentável da água, a compostagem e outras técnicas que regeneram o solo e diminuem o impacto ambiental. A agroecologia também nos desafia a repensar o consumo: ao invés de alimentos industrializados, altamente processados e produzidos com o uso intensivo de agrotóxicos, ela nos oferece alimentos frescos, orgânicos e produzidos localmente, o que reduz o impacto ambiental e promove uma alimentação mais saudável e justa.

A luta pela agroecologia é a luta pela vida

No final das contas, a defesa da agroecologia é uma defesa da vida. É uma alternativa que resiste ao sistema de morte representado pelo capitalismo e o agronegócio. Ela não é apenas uma solução técnica para a crise climática, mas uma proposta de reorganização completa da sociedade. Ao invés de uma economia que coloca o lucro acima de tudo, a agroecologia coloca a vida humana e a sustentabilidade ambiental no centro de suas preocupações.

A agroecologia é parte integral da construção do socialismo. Ela nos ensina que é possível produzir de forma justa, em harmonia com a natureza e em benefício de todos, e não apenas de uma elite. Mas para que a agroecologia se torne uma realidade, é preciso que a terra seja devolvida ao povo. A luta pela reforma agrária socialista, a resistência contra o agronegócio e a construção de espaços agroecológicos são todas partes de uma luta maior: a luta pela emancipação da classe trabalhadora.

A agroecologia não é uma utopia distante; ela já está acontecendo em pequenas comunidades, em bairros periféricos, em assentamentos e em hortas urbanas. ¹No Acre, estive presente nesses espaços, tanto urbanos quanto rurais, e certamente, Brasil afora, há mais modelos de agroecologia como ponto central da existência. O desafio agora é ampliar essa prática e colocá-la no centro da nossa agenda política. Enquanto o capitalismo e o agronegócio seguirem no controle, o planeta continuará em chamas. E nós, como comunistas, temos o dever de lutar por um futuro em que o ser humano e a natureza coexistam em paz, sem exploração, sem destruição e sem desigualdade.

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