Bíblia nas escolas em Vitória da Conquista: a instrumentalização ideológica da extrema-direita

João Victor Santos Dias (Secretário do Movimento Estudantil da Coordenação Estadual UJC/BA e militante da célula de Vitória da Conquista PCB/BA).

No dia 04 de junho de 2025, foi aprovada em Vitória da Conquista, município localizado no interior da Bahia, o Projeto de Lei 56/2024, o qual dispõe a autorização do uso da bíblia no contexto escolar. Com apenas um voto contrário, a tramitação segue para sanção da prefeita Sheila Lemos (União Brasil).

O Projeto de Lei 56/2024, de autoria do vereador Edivaldo Ferreira Júnior (PSDB), líder do governo no legislativo, versa da disposição do uso da bíblia “como material de apoio e complementar” na rede municipal de ensino. A data aprovada, dois dias antes da divulgação dos dados religiosos levantados pelo IBGE em 2022, reflete um retrato político que confirma o crescimento dos evangélicos, traduzido enquanto fenômeno político cujo discurso foi usurpado pelo neofascismo.

Esse projeto, além de ser inconstitucional perante à Constituição Federal, a qual defende a laicidade do Estado liberal-burguês, reflete a influência evangélica no país enquanto projeto político da extrema-direita. Nesse caso, o PL 56/2024 é integrante das pautas promovidas pela agenda conservadora e neoliberal brasileira, cujo discurso pauta-se no fundamentalismo religioso e na precarização do ensino, através da retirada de disciplinas críticas e da tecnização da educação, na falta de investimentos, no ataque aos docentes e na falta de liberdade de cátedra.  

Não podemos nos enganar da intencionalidade dessa agenda na educação brasileira através de projetos políticos como o do PL 56/2024, cujo trâmite acontece no momento em que os docentes da rede municipal reivindicam o cumprimento do piso salarial nacional, o pagamento de salários retroativos e o respeito ao Estatuto do Magistério, a partir de paralisações contra a política exploratória neoliberalizante da atual prefeita, Sheila Lemos, a “dama de ferro à conquistense”, afilhada política de ACM Neto Magalhães.

Na condição de comunistas, necessitamos enfatizar não somente a inconstitucionalidade desses projetos, mas, sobretudo, da religiosidade enquanto parte do discurso ideológico - e, portanto, de disputa - que legitima e assegura os interesses da classe exploradora. Nesse caso, essa religiosidade sequestra a consciência da classe trabalhadora, uma vez que, segundo Marx e Engels, a ideologia dominante é da classe que dispõe os meios de produção. Desta forma, através dos dogmas e da fé, a religiosidade dominante é produto da relação material e serve como sustentáculo da classe burguesa.

Além disso, como integrantes desse campo de disputa, na conjuntura política de avanço da extrema-direita, temos que nos questionar: de que forma atenuamos os impactos do discurso fundamentalista no campo da luta de classe, uma vez que a religião, enquanto ideologia, falseia a realidade e implementa uma consciência moral ao invés da consciência crítica, necessária para libertação da opressão vivenciada pela classe trabalhadora?

Em primeiro lugar, não podemos deixar de examinar o fato desse crescimento está atrelado ao discurso fundamentalista promovido pelo Bolsonarismo. Nesse caso, não somente o discurso opressor e preconceituoso foi difundido, como também intensificado pela extrema-direita contra as identidades marginalizadas: mulheres, adeptos das religiões de matriz-africana, população LGBT, entre outras. Em segundo lugar, temos que nos atentar a outro ponto de destaque: o discurso fundamentalista evangélico não está alheio da classe trabalhadora, uma vez que esse segmento ocupa espaço relevante nas periferias.  

Sendo assim, é necessário disputarmos o debate político da exploração econômica não tangenciando ou dando pouca relevância a diversidade dessa classe em seu conjunto, mas, destacando a religiosidade enquanto assunto privado em relação ao Estado e centralizando a pauta classista em nossos discursos. Nesse caso, para essa disputa ideológica, não devemos negligenciar esse fenômeno enquanto político. Portanto, além de condenarmos a demagogia religiosa que promete uma recompensa celeste pós-morte desde que viva de acordo com o projeto político de exploração e opressão, temos que redimensionar a religiosidade no campo da luta de classe.

Essa perspectiva está de acordo com o marxismo-leninismo e pode ser observada no texto atemporal do Lênin, “O Socialismo e a Religião”, o qual ele convida os militantes para discutir a religião nas fileiras da luta revolucionária. Ao tratarmos sobre a conjuntura do município conquistense, reflexo da totalidade da realidade brasileira, em pouco mais de um ano para as próximas eleições presidenciais [liberais-burguesas], esses espaços e discursos disputamos através da militância em sua variedade, no intuito de combater projetos como o PL 56/2024 e evidenciar para a classe trabalhadora uma unidade contra o cenário de opressão e exploração, promovido pela classe burguesa e legitimado pelo discurso religioso.  

Essa alternativa não se traduz com o ataque direto aos adeptos da fé, pois, se fosse assim, não estaríamos em consonância com o método materialista; tampouco, essa disputa se faz com alianças e barganhas políticas com os grandes líderes religiosos, conforme modus operandi do Lula e do PT. Essa disputa é feita nas ruas, na militância de base, no diálogo e, extremamente necessário, nas disciplinas críticas que estão sendo retiradas (ou diminuídas na carga horária) do currículo escolar, uma vez que o PL 56/2024 em Vitória da Conquista não é uma tradução da fé cega e devota do edil e da população, mas parte da realidade material, promovida pela agenda neoliberal, conservadora e autoritária da extrema-direita como parte do projeto de desconscientização e alienação da classe trabalhadora!

Contra a opressão em todos os seus nichos,  

Contra a exploração da fé!

Pelo Estado Laico e Socialista!

Acompanhe todas as mídias do nosso jornal: https://linktr.ee/jornalopoderpopular e contribua pelo Pix jornalopoderpopular@gmail.com