Campanha Salarial dos Bancários: "Crônica de uma derrota anunciada"

Unidade Classista Bancária

Colegas bancários e bancárias:
Encerrada a nossa Campanha Salarial dos bancários deste ano, nós da Unidade Classista nos dirigimos à categoria bancária para apresentarmos o nosso balanço desta campanha. O que podemos constatar é que, infelizmente, todos os alertas que a Unidade Classista fez durante a campanha em nossos comunicados se concretizaram: sem mobilização nacionalmente forte e unitária, não arrancamos conquistas.

A preparação de nossa Campanha Salarial começou muito mal

Em nossa Nota à categoria datada de julho deste ano, já alertávamos que os Congressos específicos dos bancos e a Conferência Nacional dos Bancários tinham sido muito ruins. Relembrando e reiterando o que dissemos à época:
“ estes foram os piores Congressos e Conferências bancários que já presenciamos. Nenhum teve grupo de debate, apenas plenária, com um monte de mesas temáticas com palestrantes e pouquíssimo espaço para intervenções dos delegados; nas palavras de vários participantes, “parecia mais um Seminário do que um Congresso ou Conferência”. Mesmo nos temas que a princípio poderiam ter alguma relevância (por exemplo, impactos da Inteligência Artificial) não houve nenhum desdobramento apontando um plano de ação e/ou de lutas.”

“Ao contrário, o que imperou foi um tratamento amistoso com a banqueirada, aquilo que nós da Unidade Classista chamamos de conciliação de classes. A coisa foi tão escancarada que, só para dar dois exemplos, no painel do Congresso do BB sobre Cassi e no Encontro específico do Itaú havia representantes dos patrões na mesa! No caso da Cassi/BB, a Cassi tem diretor eleito pelos empregados mas quem foi chamado para compor a mesa foi o representante do banco na Diretoria da Cassi; no Itaú o representante presente foi o de Recursos Humanos, ex-Diretor Jurídico, com conhecida prática anterior antissindical.”

Nossa proposta naquele momento também foi clara:
“Precisamos virar o jogo e construir uma forte e poderosa Campanha Salarial, com mobilização, paralisações, grandes assembleias presenciais para recusar as propostas indecorosas (que certamente os patrões irão apresentar) e organizar a luta. Não podemos transformar a Campanha Salarial num mero “jogo de cena de negociação na mesa” e os bancários apenas olhando como espectadores num teatro.”

Se dependesse apenas da Contraf/CUT e da corrente sindical majoritária que dirige a Confederação (a chamada Articulação Sindical Bancária – ArtSindBan) a campanha deste ano teria sido apenas o descrito na última linha do parágrafo anterior. Só não foi só isso porque a categoria, especialmente (mas não apenas) os colegas da Caixa, Banco do Brasil, Banpará e Basa, se rebelaram contra esse jogo de cena.

Patrões desrespeitam a categoria e a ArtSindBan vacila e concilia

O início das negociações foi um festival de desrespeito por parte da Fenaban (a Federação dos banqueiros). Na rodada de negociação de 07/08 os banqueiros fizeram um chororô danado, dizendo que estavam “perdendo lucratividade” (embora os balanços que os bancos publicaram mostram o oposto: em matéria de lucros, os bancos brasileiros “vão muito bem, obrigado”), e para surpresa e indignação dos bancários, os banqueiros tiveram o desplante de propor fragmentar a categoria e dar reajustes salariais diferenciados, ideia negada veementemente na hora.

Já naquele momento, ficava evidente que a única linguagem que os banqueiros entendem é a da luta, da paralisação e da greve. Na terça-feira seguinte, 13/08, estava marcada nova rodada de negociação com os patrões. Afirmamos em nossa Nota de 08/08 que somente uma forte mobilização da categoria poderia derrotar a enrolação e intransigência da banqueirada.

E naquela conjuntura, qual era a orientação do Comando Nacional dos bancários hegemonizado pela ArtSindBan? “Tuitaços!” Ora, é claro que a agitação nas redes sociais tem sua importância e seu papel, mas não substitui e não pode ser substituto da ação direta presencial e coletiva da categoria!

Apontamos em nossa Nota de 08/08:

“A Unidade Classista e várias outras correntes sindicais que são críticas e/ou de oposição à maioria do Comando Nacional estão chamando atividades de mobilização e luta. Nos sindicatos do Maranhão, Bauru e Rio Grande do Norte, além de várias outras bases, os bancários se vestiram de preto na véspera da última negociação. Esta tem que ser a atitude da categoria nas vésperas e dias de negociação: manifestações, paralisações, vigílias PRESENCIAIS. Nosso chamado à categoria (e recado à Contraf/CUT e à maioria do Comando) é muito claro: SAI DO TWITTER E VEM PRA RUA!”

O desrespeito dos banqueiros prosseguia – a vacilação da ArtSindBan também

Em 28/08, aconteceu mais uma mesa de negociação entre o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban. A banqueirada continuou seu “pavoroso espetáculo”, propondo agora reajuste pela inflação mas praticamente sem ganho real nenhum, e ainda por cima sendo aplicado a partir de meses distintos de acordo com a faixa salarial do bancário.

Toda a choradeira de “lágrimas de crocodilo” dos banqueiros foi “justificada” na mesa por causa das “dificuldades dos bancos pequenos de cumprir a Convenção”. Ironicamente, um banco estadual pequeno, o Banpará, propôs 4% de aumento real! A explicação é simples: a base dos bancários do Pará estava bastante mobilizada, e chegou a entrar em greve no Basa.

Da parte do Comando Nacional hegemonizado pela ArtSindBan, o que não se falava era em greve. Na semana anterior à data-base da categoria, uma das Coordenadoras do Comando chegou a postar um vídeo falando que “podemos sim vir a fazer greve, mas ainda é cedo para falar nisso” (sic).

Só que, ao mesmo tempo em que no limiar de 01/09 a ArtSindBan praticamente descartava a decretação de greve, fazia um discurso aterrorizado com medo de “perder as conquistas da CCT por causa do fim da ultratividade legal”. Ora, colegas, nossa categoria fez greves nacionais todos os anos desde 1985 a 1995 com muitas conquistas, e não existia ultratividade legal naquela época.

Dizíamos em nossa Nota de 29/08:
“Nossa data base de 1° de setembro é domingo agora. Se até sexta-feira 30/08 a Fenaban não apresentar uma proposta com ganho real decente, preservando todas as cláusulas da atual Convenção e avançando em pontos importantes, a categoria tem que demonstrar sua indignação com uma grande greve! E uma coisa precisa ficar clara para os banqueiros e também para o Comando Nacional que negocia em nome da categoria: não aceitaremos “ganho real simbólico”! Se o Banpará já garantiu 4% acima da inflação, não podemos aceitar nada menos do que isso!”

Banqueiros apresentam proposta rebaixada e Comando aceita

No sábado 31/08, véspera da nossa data-base, foram retomadas e finalizadas as negociações entre a Fenaban (a Federação dos banqueiros) e o Comando Nacional dos Bancários. Após um mês de chorarem “lágrima de crocodilo”, os banqueiros apresentaram sua “proposta final” com reajuste pelo INPC mais um “ganho real” de míseros 0,7%.

Entretanto, o mais frustrante para a categoria nem foi a banqueirada ter apresentado tal proposta mequetrefe. Uma grande parte da categoria ficou incrédula, decepcionada e até indignada com o fato de que o Comando Nacional dos Bancários aceitou esta proposta MUITO rebaixada.

Esta proposta é muito ruim e muito rebaixada até para os parâmetros que a própria Contraf/CUT estava trabalhando e divulgando! Com efeito, colega bancário e bancária: a Contraf divulgou levantamento do DIEESE, que mostra que 85% dos acordos salariais firmados tiveram ganho real médio de 1,54%; o Banpará fechou com ganho real de 4%! Enquanto isso, os bancos, segmento econômico que mais lucra no país, apresentaram um ganho real simbólico de míseros 0,7%!

Propostas da Caixa e do Banco do Brasil só atendiam aos interesses dos bancos!

Como se já não fosse muito ruim a proposta geral, mais revoltante ainda foi a aceitação por parte do Comando e das Comissões de Empregados das propostas de Acordo Coletivo de Trabalho (ACTs) específicas da Caixa e do BB.

Na Caixa, o dito grande “avanço” foi a constituição de dois “grupos de trabalho” para debater FUNCEF/equacionamento e Saúde Caixa/teto estatutário da folha. Ora colegas, como já dizia o dito popular: “quando eu não quero resolver nada e só empurrar com a barriga, crio um grupo de trabalho”.

Mas ainda tinha coisa pior: a proposta de Minuta de ACT da Caixa aceita pela ArtSindBan abria mão de direitos dos trabalhadores reconhecidos pela Justiça! – os mais gritantes: 7ª e 8ª hora dos tesoureiros como extras, intervalo de 10 minutos a cada 50 de digitação e quebra de caixa. Além disso, havia uma cláusula sobre o Saúde Caixa que simplesmente desprezava que o Acordo aditivo do Saúde Caixa havia sido rejeitado no fim do ano passado no RJ e no RS.
Ou seja, a Minuta apresentada pela Caixa e aceita pela Contraf apenas servia para reduzir o passivo trabalhista da Caixa, passivo este provocado pela própria Empresa com suas ilegalidades.

No Banco do Brasil, a ArtSindBan teve o desplante de propor ao Banco regulamentar a demissão sem justa causa no ACT! (por meio da famigerada “cláusula 17”), além de abrir mão da defesa da atividade dos caixas em troca da promessa de vagas para assistentes (que não seria para todos).

A reação da categoria assustou e surpreendeu tanto as Diretorias dos bancos quanto a ArtSindBan e o Comando Nacional. A rejeição à cláusula 17 do ACT do BB foi tão gritante que o Comando foi obrigado a colocar esta cláusula para ser votada em separado – pois se fosse votada junto o ACT inteiro certamente seria rejeitado no país todo, e mesmo assim a maioria das bases sindicais rejeitou e várias delas entraram em greve. Na Caixa, a rejeição à entrega de direitos foi esmagadora: nacionalmente a Minuta foi rejeitada em 23 das 26 capitais, em Brasília e na imensa maioria dos sindicatos do interior; no Rio de Janeiro o percentual de rejeição na Caixa foi de impressionantes 82%.

Com este resultado avassalador, a Contraf e a Comissão dos Empregados da Caixa não tiveram outra saída a não ser retornar à mesa de negociações, onde acabou saindo uma Minuta “desidratada”, sem nenhum avanço mas ao menos sem estas “cláusulas abusivas”. Na votação da nova proposta da Caixa, ela foi aprovada por margem estreita de votos na imensa maioria das bases sindicais e rejeitada apenas no RJ, ES e BA (sendo que no RJ foi rejeitada por mais de 2/3 dos votantes).

Apesar da disposição de luta da categoria, Campanha Salarial teve fim melancólico

Após a votação separada da cláusula 17 do ACT do BB e a retirada das cláusulas abusivas da Caixa, o Comando voltou a orientar a aprovação das propostas dos bancos. Neste momento, estabeleceu-se a divisão na base da categoria: a maioria das bases do BB rejeitou e várias entraram em greve na segunda-feira 16/09, mas grandes bases aprovaram e o Comando decidiu assinar o Acordo.

Na Caixa a maioria das bases aprovou a nova Minuta, apenas RJ, BA e ES rejeitaram na quinta-feira e acabaram fazendo novas assembleias e aprovando o ACT em função do quadro nacional; a assembleia da Caixa no RJ na sexta-feira 13/09 foi num autêntico “clima de velório”.

ArtSindBan não representa a categoria bancária

Esta Campanha Salarial de 2024 trouxe um claro ensinamento: a ArtSindBan não representa a disposição de luta da categoria bancária. Como disse uma colega da Caixa em uma reunião após o fim da campanha, “eu nunca imaginei que tivesse que tentar convencer o sindicato de que nós queríamos fazer greve”.

Ficou evidente que as direções dos sindicatos de bancários ligada à ArtSindBan (que ainda são maioria no sindicalismo bancário) não acreditam na disposição de luta da categoria. Foi preciso que sindicatos menores do Nordeste (MA e RN), Bauru e a minoria das diretorias dos sindicatos do RJ e outras bases puxassem a greve para demonstrar claramente que a categoria não está mais disposta a aceitar passivamente propostas patronais muito abaixo de nossas reivindicações.

Cabe à categoria bancária superar a vacilação da ArtSindBan e reconstruir um sindicalismo combativo, classista e de luta para nossa categoria.

CHEGA DO PELEGUISMO DA CONTRAF/CUT!
POR UM SINDICALISMO BANCÁRIO CLASSISTA, DE LUTA E DE BASE!

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