EUA provocaram a crise na Ucrânia, defende jornalista estadunidense

Publicado originamente em AbrilAbril

Um relatório da Rand Corporation, um dos think tanks que o Departamento da Defesa mais tem em consideração, «receitou» as provocações contra a Rússia e previu as ações de Moscou.

Ao analisar o relatório da Rand – publicado em 2019 e intitulado «Overextending and Unbalancing Russia» (esgotar e desequilibrar a Rússia) –, o jornalista norte-americano Rick Sterling afirma que o objetivo dos EUA era minar a Rússia, tal como o fez com a União Soviética no período da guerra fria.

«Em vez de "tentar estar na vanguarda" ou tentar melhorar a situação dos Estados Unidos no nível interno e nas relações internacionais, a ênfase é colocada nos esforços e nas ações para minar o adversário designado, a Rússia», diz Sterling numa análise que publicou dia 27 no portal dissidentvoice.org e também acessível em english.almayadeen.net.

A Rand, um think tank «quase governamental, que recebe três quartos do seu financiamento do Exército norte-americano», listou uma série de medidas antirrussas nas áreas econômica, geopolítica, ideológica/informativa e militar.

Sterling destaca a importância da Ucrânia – em vários níveis – para a Rússia e, nesse sentido, afirma que se trata de uma «componente importante do esforço de EUA/OTAN para minar a Rússia».

Por isso mesmo, Victoria Nuland, atual subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, disse que os Estados Unidos investiram cinco bilhões de dólares, ao longo de 20 anos, para «virar» a Ucrânia para a sua esfera de influência.

O culminar desse processo – sublinha Sterling – foi o golpe de Fevereiro de 2014, também conhecido como golpe fascista de Maidan. «Desde 2015, os EUA têm treinado milícias ultranacionalistas e neonazistas», afirma o jornalista, dando indicação de várias peças que o documentam.

Provocações sugeridas contra Moscou
O think tank altamente financiado pelo Pentágono sugeriu uma série de provocações contra a Rússia, que foram de fato implementadas. Uma delas foi o aumento da ajuda militar à Ucrânia, que vem sempre crescendo desde 2019. Segundo afirma The Hill, no último ano, chegou aos bilhões de dólares.

Das muitas sugestões da Rand, Sterling destaca reposicionar os bombardeiros a uma distância de ataque fácil dos alvos estratégicos russos; colocar mais armas nucleares táticas em locais da Europa e da Ásia; aumentar a presença das forças navais estadunidenses e dos seus aliados nas zonas de operações da Rússia (Mar Negro).

Há ainda a realização de exercícios de guerra da OTAN junto às fronteiras da Rússia e a retirada de Washington do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF).

De acordo com Sterling, a alternativa, que podia ter evitado a atual intervenção militar russa, teria sido declarar a Ucrânia não apta para a OTAN. «Mas isto teria sido o oposto da intenção de Washington de pressionar, provocar e ameaçar deliberadamente a Rússia», refere.

Em dezembro do ano passado, diz, a Rússia propôs a celebração de um tratado com os Estados Unidos e a OTAN, e a proposta central era um acordo, por escrito, segundo qual a Ucrânia não se tornaria membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

O relatório da Rand refere-se a um eventual «acordo de paz desvantajoso» e Sterling questiona para quem é que a paz traria desvantagens, lembrando a perda de vidas na Ucrânia por causa do conflito, agora, e as mais de 14 mil no Donbass, desde o golpe de 2014.

Em seu entender, um acordo de paz que garantisse os direitos fundamentais de todos os ucranianos e a neutralidade do país seria «vantajoso para a maioria dos ucranianos».

Aqueles que «não tirariam vantagens» seriam o complexo industrial midiático-militar dos EUA e os ultranacionalistas na Ucrânia, afirma o jornalista.

O relatório da Rand Corporation «mostra como a política dos Estados Unidos se centra em ações para prejudicar a Rússia e manipula terceiros países (Ucrânia) com vista a essa tarefa», sublinha.