Guerra e Comunicação: Quando o capital influencia a opinião pública

Guerra e Comunicação: Quando o capital influencia a opinião pública

Por: Redação ·

Por Antonio Alves, jornalista, educador popular e membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro.

O mito da neutralidade no campo da comunicação é tão ingênuo quanto acreditar que a burguesia não foca no enriquecimento através da exploração da classe trabalhadora. Principalmente quando a questão das notícias serve como fator estratégico para ganhar a opinião pública e o imaginário coletivo.

Esse fenômeno não é novo, porém, grande parte das organizações de esquerda, principalmente as reformistas, vêm perdendo o seu senso crítico, acompanhando a narrativa fantasiosa e utilizando os mesmos jargões da imprensa (à serviço do Capital) para seguir a manada e atacar o vilão do momento.

O CASO DA GUERRA NA UCRÂNIA

A operação militar comandada pela Rússia para neutralizar a entrada da Ucrânia na OTAN (Organização do Atlântico Norte – aliança militar capitaneada pelos EUA que conta com 30 países), na verdade é o pano de fundo para uma nova definição da estratégia geopolítica das potências imperialistas. O movimento de cada peça nesse tabuleiro global tem como objetivo mudar a correlação de forças, o que pode gerar uma reconfiguração no cenário mundial. Não podemos cair nesse discurso falso e maniqueísta que vem sendo propagado na imprensa hegemônica de forma proposital.

Não é segredo para ninguém que Vladimir Putin, o presidente da Rússia, tem um projeto político de poder na região, que comanda com mão de ferro o país e que persegue os seus adversários políticos com uma postura ultranacionalista. Assim como é de conhecimento das pessoas bem informadas que a Ucrânia é o novo bastião das chamadas “revoluções coloridas”. O novo berço do fascismo na Europa, com a aceitação do batalhão de Azov (organização paramilitar declaradamente fascista), incluída institucionalmente no governo do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

Porém, precisamos analisar um fenômeno inédito no comportamento dos noticiários nesses dias em que as tropas russas estão avançando e ganhando terreno no território ucraniano. A mídia hegemônica, pela primeira vez, passa a apresentar o ponto de vista dos que estão sendo considerados agredidos. Nos diversos conflitos que já ocorreram ou que ainda estão acontecendo no mundo, a Ucrânia é o único caso onde a narrativa da imprensa apresenta os agredidos como seres humanos. Famílias que sofrem e morrem diante de uma força militar que avança sobre sua terra natal.

Já nos conhecidos casos do Iraque, Síria, Afeganistão, Líbia, Palestina e de outros países que foram derrotados ou que permanecem sendo agredidos, são tratados de forma diferente nos noticiários. A narrativa ocidental é sempre a do marco civilizatório, onde estão levando a liberdade, democracia e modernidade para os povos desses países que sofrem diante de governantes tirânicos e que as populações desses países devem agradecer por essa intervenção estrangeira libertadora.

QUANDO A NOTÍCIA VIRA NEGÓCIO

Quando a questão da notícia passou a ser tratada como negócio, perdeu o seu sentido de neutralidade e se transformou numa importante mercadoria na mão do Capital. Ficou perceptível que aquele que deter o monopólio das ferramentas de comunicação, poderá manipular a opinião pública, apresentar sua versão sobre a questão e neutralizar qualquer tipo de motivação legitima diante dos acontecimentos políticos, sociais, econômicos, desportivos ou militares, entre outros.

Basta observar que a maioria das notícias que circulam pelo mundo está sendo produzida de forma massiva por praticamente 05 agências de notícias internacionais (Thompson Reuters, Associated Press [AP], Agence France-Presse [AFP], Agencia EFE e a alemã Deutsche Welle [DW]). Observe, todas as agências estão no ocidente e são sediadas em países que são membros da OTAN.

Dessa forma, conseguimos perceber que esse processo de demonização de um país e a exaltação à coragem de outro, não passa de um jogo de poder que apresenta seus interesses políticos e econômicos na defesa daqueles que detêm o poder e não querem perder a hegemonia. O problema é quando o outro lado também tem poder econômico e que pode gerar uma crise nunca vista no mundo pós-globalização, onde as economias são integradas, em um processo de interdependência entre os países que estão fora do campo de batalha, mas que sofrerão as consequências dessas ações.

Para a classe trabalhadora, basta se manter atenta ao conflito, não acreditar em tudo que chega, mas avaliar de forma crítica essa mercadoria que nos mantém informado, porém, não podemos abandonar nosso olhar e perspectiva de classe, pois só os trabalhadores organizados é que conseguiremos avançar na luta e derrotar o Capital.

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