Via jornal O Poder Popular - Rio Grande do Sul
Desde novembro de 2021 a província de Corrientes vem sendo castigada por uma seca devastadora. Se emitiram alertas, imagens de satélite que alertavam para os focos de incêndio que estavam começando a tomar força, mas nada foi feito.
Nesta última semana o fogo tomou conta de toda a província, dando início a um desastre ecológico sem precedentes. Já queimaram mais de 700 mil hectares.
Para que esta catástrofe aconteça temos dois problemas principais.
O primeiro a monocultura, já que a região é usada por empresas argentinas e estrangeiras para a plantação de pinos, cultivo esse que desgasta e seca o solo.
O segundo problema é a agropecuária, pois grandes produtores utilizam fogo para limpar o campo depois da colheita, já que é a forma mais barata.
Tudo isso somado ao calor extremo, com temperaturas que chegam a 45 graus na região e o vento, foram a receita completa para o desastre.
Uma perda imensurável de fauna e flora, por exemplo, o parque nacional “los esteros del Iberá”, que faz um importantíssimo trabalho de conservação ambiental das espécies animais e vegetais argentinas, até agora teve 40% de sua área queimada, inclusive sua sede onde eram guardadas décadas de pesquisas que foram consumidas pelo fogo.
O atraso em começar as ações de combate aos incêndios deixam muito evidente a inoperância e o descaso do Estado burguês com a questão ambiental.
Milhares de animais morreram queimados e os que foram resgatados estão morrendo de desnutrição, já que não há pasto nem outros tipos de alimentos específicos que são necessários para alimentá-los.
Desde o governo federal até as prefeituras das cidades afetadas mostraram um total despreparo e falta de vontade para manejar uma situação que já é recorrente na zona.
Ao presidente Alberto Fernández lhe foi perguntado em entrevista esta semana o que ele pensava sobre o que estava acontecendo em Corrientes, sua resposta foi “Tenho muito apreço pela província de Corrientes e pelo Norte, já que meu pai era de La Rioja”, cidade esta que fica há 865 km do foco dos incêndios, mostrando que nem sequer a geografia básica de seu país o presidente peronista sabe.
Já que o poder executivo não tomou as devidas providências, restou à população a mobilização coletiva. Se formaram correntes de voluntários que incansavelmente trabalham para apagar o fogo e dar o auxílio necessário para as pessoas evacuadas, na sua grande maioria pequenos produtores que perderam absolutamente tudo.
Nesse momento há centenas de bombeiros voluntários de todo o país na luta contra o fogo.
Voluntários, pois na Argentina os bombeiros não recebem salário e nenhum tipo de direito trabalhista. Unicamente têm direito há algo parecido a uma aposentadoria que só conseguem depois de décadas de trabalho. Estas pessoas arriscam suas vidas todos os dias, trabalham até a exaustão, mal equipados de graça.
Este desastre deixou muito claro que necessitamos urgente mudar nosso modelo de produção predatório que a monocultura não é o caminho, pois devasta e empobrece o solo.
Agora resta esperar o fogo cessar para ajudar essas pessoas a recomeçar suas vidas, já que os pequenos produtores atingidos perderam absolutamente tudo, estão alijados em centros de evacuados, sem perspectiva de auxílio federal para se reerguer.
Entre os e as voluntárias está Andressa Bacin, brasileira estudante de medicina da Fundación Héctor A. Barcelona em SantoTomé (Corrientes/Argentina), uma das cidades mais afetadas pelos incêndios, a camarada é militante do Partido Comunista Brasileiro e do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, que em entrevista ao Jornal O Poder Popular relata seu dia a dia e reforça a importância da auto-organização da classe trabalhadora argentina para atenuar o problema:
“Percebo que a solidariedade a organização popular são a chave para a superação imediata desse tipo de desastre. Já acompanhei de perto algumas vezes essa mobilização popular pois a cidade é constantemente atingida por inundação e a população, como sabe que não pode contar com a prefeitura do município para muita coisa, já sabe que tem que se mover por ela mesma.
Todos os voluntários se dividiram em grupos para atender tanto aos evacuados como aos bombeiros que chegam exaustos depois de jornadas intensas de até 14 horas de combate ao fogo.
Entre os voluntários muitos brasileiros, já que a cidade tem uma população muito grande de pessoas que vêm do Brasil estudar medicina. Mostrando a importância da união dos países latinos, desconhecendo território e ajudando à quem precisa nesse momento tão desesperador.”
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