O MITO DO INVESTIMENTO RECORDE vs A MISÉRIA DA REALIDADE DO TRABALHADOR DA CULTURA

O MITO DO INVESTIMENTO RECORDE vs A MISÉRIA DA REALIDADE DO TRABALHADOR DA CULTURA

Por: Redação ·

O MITO DO INVESTIMENTO RECORDE vs A MISÉRIA DA REALIDADE DO TRABALHADOR DA CULTURA

Coletivo Cultural Vianinha

Recentemente, a Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo veio a público anunciar, orgulhosamente, que, em 2022, bateu novo recorde de investimentos na cultura, com R$ 100 milhões.

Mas o que isso significa, na prática?

Que, a despeito do alarde, o valor está muito abaixo daquele necessário para atender às demandas culturais do Estado mais rico do Brasil – em 2018, o PIB de São Paulo somou R$ 2,2 trilhões, equivalente a 31,9% do PIB do país. Ou seja, o volume de recursos pomposamente anunciado pelo Governo do Estado não faz jus à pujança econômica do Estado.

Porque alguém poderia pensar: “Ué, mas e daí?! Não é porque o Estado tem dinheiro que tem de gastar, necessariamente com cultura!”. Sim, realmente. Mas, se existe demanda por esses recursos, não seria uma boa ideia, o Estado investir e atender às necessidades de sua população?
“Mas essa demanda existe mesmo?”. Claro! E a gente pode provar!

Por um lado, há demanda de quem produz cultura. Dezenas de milhares de trabalhadores da cultura se inscreveram para tentar acessar os recursos – 15.919 projetos para ser mais exato! Se fizéssemos uma conta simples (e sem sentido) dividíssemos os R$ 100 milhões distribuídos pelo Estado de SP igualmente por cada projeto inscrito, chegaríamos a pouco mais de R$ 6 mil por projeto. Agora imagina gravar um disco, produzir uma peça de teatro ou publicar um livro com esse valor!

Por outro lado, há demanda de quem frui/consome cultura. Uma pesquisa do Itaú Cultural mostrou que o consumo de atividades culturais on-line durante a pandemia disparou durante a pandemia. O número de pessoas que dizia assistir apresentações artísticas de teatro, dança e música, por exemplo, saltou de 20% para 40%. A má notícia é que, apesar de estarmos falando do Estado mais rico do Brasil, em, pelo menos, 23% das casas paulistanas, não há acesso à rede.

Isso que dizer que, tanto para produzir quanto para consumir, faltam recursos. Durante a pandemia, não foram poucos os casos de trabalhadores que tiveram de vender seus instrumentos de trabalho para pagar contas ou, simplesmente, comer.
Por outro lado, se aumentou a busca por produtos culturais por quem tinha acesso à internet, houve quem sequer pudesse garantir acesso à educação aos filhos, justamente por não estar conectado.

Então, o que exatamente comemora a Secretaria quando anuncia seus R$ 100 milhões? Um número aparentemente grandioso, sem dúvida. Mas, para quem vivencia a realidade da cultura no Estado, seja produzindo, seja consumindo, não há dúvidas de que a soma, por maior que pareça ser, está longe de atender às necessidades da classe trabalhadora, produtora e demandante de cultura.

A fonte e inspiração está na ótima análise do Zé Renato, neste texto aqui:

https://culturaemercado.com.br/qual-recorde-podemos-comemorar-quando-sabemos-que-mais-de-93-ficarao-de-fora/

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