Pela Reorganização Proletarizada da UJC

Pela Reorganização Proletarizada da UJC

Por: O Poder Popular ·

Coordenação Estadual da UJC - SP

PELA REORGANIZAÇÃO PROLETARIZADA DA UJC, A JUVENTUDE DO PCB

INTRODUÇÃO

A União da Juventude Comunista é a juventude do Partido Comunista Brasileiro, fundada em 1927, cinco anos após a fundação do partido. É o coletivo de jovens mais antigo do Brasil, assim como o PCB enquanto partido operário. Foi aderindo às orientações da III Internacional Comunista, que o II Congresso do PCB determinou que seria construído um instrumento que daria conta da missão histórica de organizar os jovens para a revolução, além de cumprir o importante papel de ser uma escola de quadros para o partido.

Segundo o Art. 1 do nosso estatuto, a UJC possui autonomia relativa em sua relação com o partido, mantendo nossos próprios congressos, organismos, direções, finanças, etc, na medida em que sua existência, suas direções e ações são referendadas pelo PCB. Também de acordo com os estatutos do partido e da juventude, a Coordenação Nacional da UJC, obrigatoriamente, deve ser composta por membros do PCB. Em suma, a União da Juventude Comunista é indissociável do partido. Seus militantes não podem pertencer a um outro partido político.

As descrições feitas acima, ainda que culturalmente lidas e trabalhadas em nossos recrutamentos, hoje precisam ser reafirmadas, pois nos últimos meses temos vivido uma profunda crise interna no PCB, de modo que esses princípios políticos e estatutários passaram a ser desconsiderados por vários integrantes que até pouco tempo construíam a UJC.

Com este texto, a CR provisória da UJC-SP tem duas pretensões: 1) jogar luz sobre fatos que não necessariamente receberam a devida atenção durante a crise do partido, 2) convocar os jovens trabalhadores e estudantes comunistas para o processo de reorganização proletarizada da UJC, aproveitando essa virada de ciclo para construirmos, de fato, um coletivo que efetivamente organize-os para a revolução socialista.

O FRACIONISMO NO PCB

No último período, um grupo de militantes do complexo do PCB passou a disputá-lo utilizando-se de métodos fracionistas. Sua finalidade era aplicar no PCB concepções organizativas anti-leninistas derrotadas nos últimos congressos. O grupo se autodenomina “PCB-RR”. Para aplicar seu projeto, fomentou o divisionismo interno no partido e nos coletivos, se autoproclamando “ala esquerda” perante as direções e instrumentalizando os problemas reais da nossa organização.

O grupo tornou-se evidente com mais maturidade no 16° Congresso Nacional do PCB, em Novembro de 2021. Sete meses antes daquele Congresso, dois dos líderes desse grupo, os quais chamaremos de “G.L. Castanho’’ e “G.L. Azul”, prepararam uma compilação manipulada de textos “de Lênin" onde tentam sustentar que o russo defendeu a polêmica pública sobre as divergências internas ao partido. Com o livro “O centralismo democrático de Lênin”, os líderes fracionistas buscavam disputar a militância e credibilizar sua tese, numa verdadeira conspiração política.

No posfácio do livro, por exemplo, G.L. Castanho afirma que a liberdade de polêmica pública seguiu “toda a obra leninista”, e isso definitivamente não é verdade. Como deve já ser de conhecimento de uma parte da militância comunista, Lênin defendia que a polêmica contra os oportunistas de seu partido fosse pública apenas durante um determinado contexto político-partidário na Rússia, quando a forma organizativa do POSDR correspondia aos modelos inspirados pela II

Internacional. Entre 1903 e 1911, existia uma disputa interna aberta, declarada e culturalmente predominante entre mencheviques e bolcheviques. Existia, portanto, a perspectiva de disputar entre si a hegemonia sobre os trabalhadores através do mesmo partido. Ali, fazia todo o sentido aos revolucionários do partido desmascarar publicamente os elementos internos do oportunismo.

Já em 1921, quando estava definida a correlação de forças no interior do partido, Lênin defendeu, no ponto 4 das Resoluções do X Congresso do PCR-Bolchevique, que os comunistas respeitassem “com o maior rigor a inadmissibilidade de quaisquer atuações fracionistas”, e que “as críticas aos defeitos do partido devem ser formuladas de modo a ser submetida ao exame e à decisão dos órgãos dirigentes locais e central do partido”. Na altura daquele Congresso, o partido de Lênin já havia se separado dos elementos oportunistas, que antes se constituíam como fração aberta, e já não era mais conveniente aos revolucionários expor todos os seus assuntos internos.

É evidente que a polêmica pública, hoje, aplicada à realidade do PCB, não seria necessariamente “mais leninista”, nem garantiria a educação “das massas”, como apontam os fracionistas. Organizações social-democratas e liberais já cultuam essa prática, e isso não resulta em avanços qualitativos. No caso do PCB isso atrairia, na verdade, interesses externos ao partido, interesses não necessariamente operários e não necessariamente comunistas. Os fracionistas escolheram defender um Lênin especificamente publicista e supostamente mais democrático do que centralista, porque sua vanguarda pequeno-burguesa e se importa mais com a proclamação performática e autocentrada do que com um sério enriquecimento da teoria revolucionária.

O que os fracionistas tentaram sustentar em seu livro, na verdade, é uma interpretação seletiva do conjunto da teoria de partido de Lênin; teoria essa que não começou e nem terminou no próprio Lênin. O estatuto da primeira organização comunista da história, a “Liga dos Comunistas”, por exemplo, por influência direta de Marx e Engels, defendia o “silêncio sobre os assuntos da liga”.

Como comunistas de fato revolucionários, entendemos que as divergências internas não devem servir como um jogo permanente de performances, tendências e formação de grupos - prática inspirada nas concepções, hábitos e vícios do parlamentarismo burguês, portanto, anti-proletária. Não devemos tolerar a bipolarização dos militantes, dividindo-os entre a opinião oficial e a opinião da oposição; entre os que “têm o poder” e os que o “contestam o poder”. Por isso, entendemos que uma visão marxista-leninista coerente com as concepções organizativas de fato proletárias, devem descartar quaisquer tendências a publicização das polêmicas internas.

Disputar a linha política e a forma organizativa do partido no Congresso é direito de qualquer militante, não configura por si só uma atitude fracionista. O grupo só passou a ser tratado abertamente como tal porque atuou de forma paralela à cadeia de instâncias do partido, contando com site, postagens, empresas próprias e livros criados antes mesmo do processo de cisão; só passou a ser tratado como tal porque, insatisfeitos em ter que se submeter a uma disputa franca dentro do sistema organizativo do partido, passaram a aparelhar o máximo de coletivos e organismos possíveis e isso se fez notável.

Depois que o grupo apareceu publicamente, na metade de 2023, parte da militância da UJC, em vários estados, aderiu às suas iniciativas. Figuras públicas que até então eram referência para a militância do partido e da juventude, assim como empresas de comunicação ligadas a essas pessoas, colaboraram com a movimentação do grupo, usufruindo de suas vantagens no âmbito do alcance nas redes sociais. Parte da militância dos coletivos aderiu ao “PCB-RR”, e foi automaticamente se auto-desligando da UJC e do PCB, ainda que continuassem a se utilizar alguns dos nossos materiais, símbolos e nomes.

Apesar de boa parte ter se auto-desligado, ao denunciar as supostas perseguições políticas, os fracionistas utilizavam-se de palavras como “expurgo” e “expulsões em massa”, provocando comoção entre os simpatizantes e principalmente entre os militantes mais novos no complexo.

O MOVIMENTO FRACIONISTA NA UJC-SP

As teses e projetos derrotados no Congresso do PCB foram então levados para a UJC-SP. Primeiramente, por fora das instâncias, de maneira conspiratória, passou a circular uma série de comentários que hoje são comumente ouvidos na nova organização, como: “há uma ala à direita no partido”, “os velhos do partido e o CC são academicistas”, “a UJC trabalha melhor do que o partido”, etc. Todos estes

‘boatos’ apareciam com frequência já no fim de 2021. Era comum, militantes que na época eram dirigentes em São Paulo, em forma de comentários despretensiosos, disseminarem ideias, sobretudo entre militantes da juventude com pouco tempo na organização, atribuindo a culpa de todo e qualquer limite do complexo partidário à uma suposta “ala à direita” e, implicitamente, se auto-compreendendo uma versão brasileira dos bolcheviques.

Esta transposição mecânica e performática de uma nova disputa entre “bolcheviques versus mencheviques” foi usada dentro da juventude paulista a fim de dividi-la internamente e afastá-la do partido. Somado a isso, uma série de ações tomadas por esse grupo descritas a seguir, no intuito de promover as teses derrotadas na juventude e utilizando da força e ímpeto dos militantes no estado, quebrou núcleos, fragmentou os trabalhos e criou vícios em nossa organização que devem ser superados no próximo período para a construção no nosso Estado de uma UJC proletária em projeto político, ação e composição.

O Jornal Paulista

No mesmo ano de 2021, em um período anterior ao fim do congresso do PCB, surge o jornal estadual “O Futuro de São Paulo”. Como sabemos, o jornal foi elaborado por integrantes de uma vanguarda uspiana e pequeno-burguesa. Embora autorizado pelo partido, surgiu entre períodos congressuais e em descompasso com os demais coletivos e com a juventude do restante do país. Mais especificamente, para a nossa militância em São Paulo, ele surge justamente em um período em que, pelo esforço fragmentado de militantes no Estado, núcleos proletários, para além dos núcleos de universidades públicas, ganham corpo. Os militantes destes núcleos de modo isolado em diferentes regiões do Estado passam a formular e questionar a ausência de diretrizes e ações pensadas com foco na necessidade do giro operário-popular, visando a mudança nos rumos da composição, estrutura e trabalho da juventude.

O grupo que dirigia o jornal, por outro lado, no interesse de prepará-lo como arma para inserir as teses publicistas no congresso da UJC, sem qualquer debate com a base (que acusavam em todos os espaços problemas de sobrecarga e saúde mental), colocou sobre os militantes paulistas uma espécie de "nova jornada de trabalho”. De uma hora para outra, a base da juventude se tornou responsável por vender o jornal e custear sua estrutura, gerando uma série de afastamentos e quebras em toda a UJC, mas sobretudo em núcleos proletários. O resultado era visível em todos os núcleos, apresentando uma série de militantes inorgânicos que, na verdade, representavam aqueles que tinham dificuldade em se encaixar no modelo imposto pela direção uspiana.

Para garantir seus interesses, o pequeno grupo de dirigentes estaduais oriundos da USP, que durante toda a existência do jornal ocupou seu conselho editorial, implementou um modelo empresarial na juventude e impossibilitou a atuação de jovens trabalhadores e importantes quadros de nossa organização. Os dirigentes paulistas da juventude, que já antes do congresso, em sua maioria, não atuavam na base e tinham pouco conhecimento dos núcleos proletários, impunham aos seus militantes uma forma organizativa característica de militantes universitários da USP - esses que possuem mais tempo e liberdade de atuação cotidiana. Neste sentido, rechaçamos a ideia de que a juventude foi enganada por aqueles que articularam a fração. No entanto, entendemos que este grupo, aparelhado na direção da UJC no período, se utilizou da disciplina, trabalho e respeito ao centralismo democrático que a base até então prezava, para forjar o projeto fracionista no coletivo, deliberadamente queimando militantes em prol de seu interesse. Se valendo dos limites criados propriamente por eles, ao não debaterem nem organizarem o trabalho estadual, tendo foco exclusivo na atuação importante, mas limitada nas universidades públicas, o jornal foi colocado supostamente como um “organizador político” para os núcleos. Porém, foi usado no estado para pressionar o partido, via UJC, a aprovar suas teses derrotadas.

Da etapa paulista à etapa nacional do congresso da UJC

Estas teses, já sabidamente derrotadas no partido, foram então direcionadas para o Congresso Nacional da UJC, o que é visível em uma série de propostas apresentadas no documento interno onde estão sistematizadas as contribuições da base da UJC-SP, entre elas:

VIII - escrever e publicar textos para uma tribuna pública de debates, sobre a linha política da organização, a ser publicado no site da UJC e nas edições impressas dos jornais”

A origem dessas propostas nas sistematizações fica mais clara quando se observa o caso de um militante que criticou o jornal estadual O Futuro de SP na tribuna nacional de debates e foi respondido em grupo por parte da vanguarda uspiana e pequeno-burguesa. Esse camarada, na crítica ao jornal, argumentou que a UJC-SP atropelou a prioridade de fortalecer o jornal do partido, elemento que o próprio coletivo estabeleceu em seu VIII Congresso, como versam os pontos 179 e 180, além de ter criticado o fato de o jornal ter sido criado entre congressos e na ausência de debates com a base. Essas críticas, do ponto de vista de um partido marxista-leninista, fazem todo sentido. A tese do camarada provocou uma resposta coletiva por parte dos defensores do jornal paulista, escancarando o caráter de cúpula que existia entre dirigentes estaduais da UJC.

Nestas respostas ao militante, várias das manipulações, transposições e performances textuais, realizando paralelos superficiais entre a situação do POSDR e nossa organização, apareceram para apresentar o jornal enquanto uma experiência positiva no Estado, alguns utilizando-se de argumentações baseadas na ideia de um leninismo publicista. Ao todo, 6 tribunas foram escritas para responder a crítica ao Futuro de SP, 5 delas de militantes da USP. Todas as defesas vieram de militantes de camadas médias e pequeno-burguesas, organizados no ME público e privado de elite. Todos os autores compunham a direção do fracionismo na juventude de nosso Estado.

Estes interesses da vanguarda pequeno-burguesa uspiana foram levados para serem operados na etapa estadual da UJC. No entanto, a ausência de debate, diretrizes e planejamento político para além do ME-público, de uma direção totalmente voltada a operar o fracionismo na juventude, levou a uma divisão na etapa paulista do congresso. Por um lado, uma porção pequeno-burguesa, focada em reviver de modo performático a disputa no entre mencheviques e bolcheviques com o partido, e de outro, militantes fruto da proletarização de nosso trabalho e de nossas fileiras, buscando centralizar o debate do congresso no giro operário popular, entre as quais, a publicização de polêmicas internas no futuro de SP não era prioridade.

O estranhamento em questão, não ocorreu por conta da origem ou espaço de atuação dos militantes, mas porque em todo o período anterior ao congresso não havia direcionamento ou planejamento político para atuação dos militantes fora do ME-público. As formulações dos quadros que atuavam inseridos na juventude trabalhadora não eram socializadas e consideradas e os quadros proletários, referências em seus espaços, geralmente não ocupavam tarefas de direção na juventude. Essa situação impedia qualquer possibilidade de giro operário popular qualificado e submetia a atuação da UJC a uma forma-trabalho que nada tem de operária, e estava muito mais ligada ao ritmo e às condições materiais da mesma vanguarda pequeno-burguesa.

As direções paulistas do fracionismo, vendo ameaçada a priorização do que lhe era central, passou a utilizar a tática de deslegitimar os apontamentos críticos e destaques, ora reduzindo-os ao "obreirismo", ora apontando-os como uma esvaziada divergência identitária entre bairros, JT e universidades privadas vs universidades públicas. No entanto, os destaques, propostas e apontamentos tinham como ponto principal o fim da fragmentação do trabalho, visando integração de toda a atuação da UJC de maneira centralizada pelo giro operário popular, o que fez com que mesmo militantes de base nas universidades públicas passassem a defender e priorizar essas discussões. Foi neste momento que se empregou, em situação de desespero, a tão utilizada (inclusive atualmente) tática do espelho, acusando o outro de fracionista e divisionista após ter seu grupo notado. Na situação citada, camaradas generalizadamente inconformados com posturas de grupo dos fracionistas foram acusados de formação de tendência. No caso mais grave, dirigentes do fracionismo buscaram impedir uma camarada de assumir a tarefa de dirigente estadual alegando que ela estava “comendo a cabeça” de outros militantes, “fomentando divisionismo com base em obreirismo” e alegando que a camarada nunca tinha "formulado nada e o que teria formulado era ruim”. A camarada em questão, uma das poucas mulheres negras dirigentes naquele período, coordenava, sem qualquer auxílio estadual para além de seu núcleo, o trabalho entre os jovens trabalhadores das universidades privadas de massa de São Paulo. Os acusadores, ambos militantes do ME da USP, são os mesmos que elaboraram o jornal o Futuro de SP, os mesmos que compuseram o bloco em defesa do jornal nas tribunas e os mesmos que após o congresso fizeram rasas autocríticas, atribuindo sua ação desesperada à uma suposto erro ao se expressar ou mesmo assumindo o desconhecimento do trabalho da camarada.

As ações tomadas na etapa estadual do congresso tensionaram todo o restante da discussão, impedindo a socialização das experiências e a apresentação das propostas da base. Além disso, impediram o aprofundamento de discussões internas no Estado e a socialização de diversas outras contribuições que, inclusive, remetiam às experiências positivas vindas da base em relação ao jornal. Como resultado, consequências internas persistem até os dias de hoje na juventude paulista quanto às questões não solucionadas, algumas delas, como a forma de atuação, os métodos de direção tomados em prol do racha geraram uma série de quebras e o distanciamento de dezenas de militantes, que apesar de estarem nos cadastros estaduais, não conseguiam se adequar aos ritmos de trabalho e às priorizações cotidianas desse grupo fracionista que, no âmbito paulista, de fato tem uma forte presença de uspianos.

As táticas acima descritas, desde o grupismo em defender as teses fracionistas, a tática do espelho, a transposição mecânica e anacrônica de concepções leninianas, a deslegitimação do jornal O Poder Popular, não foi algo notado apenas por nós desta atual CR. Alguns desses episódios também foram denunciados em nota pública pela Coordenação Regional da UJC do Rio de Janeiro, que no contexto das notas públicas sobre a crise, há meses atrás, versou sobre atuação do grupo:

[Na etapa nacional do Congresso foi] flagrante a existência de uma atuação coordenada por parte de militantes provenientes, principalmente — ainda que não exclusivamente -, do estado de São Paulo. Desde a defesa coordenada das mesmas propostas nos Grupos de Discussão — em especial a criação de um jornal próprio da UJC, com a constante deslegitimação de nosso jornal do PCB, o Poder Popular -, passando pela constante saída de militantes de

SP de seus GDs para troca de informes no meio do processo de debate, e,

por fim, a votação e defesas em bloco na plenária final. A expressão disso foi quando uma camarada da direção regional de SP, após a derrota da proposta central do seu grupo, se dirigiu ao plenário com as seguintes palavras: “sabíamos que não seria fácil aprovar essa proposta…”. Sabíamos? Nós, quem? A que grupo estava se referindo? Houve articulação entre delegados para atuação no Congresso? Na própria plenária, ocorreu acusação de fracionismo por parte deste grupo, que foi respondida — e não há coincidências na política — com um dos atuais líderes do fracionismo apresentando um “mapa dos votos da delegação” que ele havia “encontrado por acaso” por aí, em uma tentativa de, hoje entendemos, limpar a barra do seu próprio grupo.”

A menção destacada pelos camaradas do Rio é de um momento importante da etapa nacional do congresso e remete à quando a formulação sobre o jornal O Futuro de São Paulo enquanto jornal independente da UJC no país é derrotada. Após isso, a plenária foi interrompida e a vanguarda pequeno-burguesa uspiana grupo convocou toda a delegação vinda de São Paulo para “conversar” sobre a derrota da proposta, e é nesse momento que esta mesma militante da USP revela em sua fala que havia uma tentativa em grupo de aprovar a proposta mencionada pela nota política da UJC RJ. Pelo nosso método congressual, os delegados eleitos para o Congresso da UJC não são representantes dos seus estados, menos ainda devem se articular para aprovar qualquer proposta em grupo. O evento em questão, escancarou, através de uma militante mais jovem, como operou a organização dos fracionistas para utilizar a UJC em São Paulo.

A derrota sofrida pelo fracionismo no congresso da UJC-SP reafirmou o compromisso da juventude com o centralismo democrático e colocou sobre a direção paulista a pressão da necessidade de capilarização na juventude trabalhadora. Para manter o projeto do fracionamento em evidência e dispersar demais questões, o grupo operou de diferentes formas no Estado de SP. Entre elas, foi despejado somente sobre os núcleos a responsabilidade pelo cumprimento dos nossos objetivos definidos congressualmente, dada a falta de direcionamento estadual para isso. Ao invés de fornecer espaços e ativos que permitissem a resolução de problemas estaduais e que garantisse a socialização de experiências, no lugar, escreveu um “planejamento provisório” que apresentava metas inalcançáveis para militância no período. Somado a isso, aplicou nos núcleos uma cobrança produtivista para realização de reuniões, planejamentos políticos que pensassem todos os problemas de atuação no Estado em cerca de 1 mês. Essas cobranças, onde as metas em abstrato se sobrepunham ao desenvolvimento real do trabalho se somaram à dívida gerada pelo travamento nas vendas do jornal, ocasionando um aumento na carga de trabalho dos militantes. Como síntese, o até então secretário de organização da juventude paulista, o mesmo que outrora havia atacado militantes no congresso, em reunião com os secretários de organização do Estado apresentou como proposta um campeonato paulista de núcleos, ranqueando-os pelo número de reuniões, jornais vendidos, tarefas de finanças e ações públicas realizadas. Quando os núcleos apresentavam dificuldades e queixas, as questões eram apresentadas indicando que supostamente o partido limitava a ação da UJC, intensificando o fomento ao divisionismo.

Entendemos que essas ações ocasionaram consequências importantes que devem ser superadas para que possamos avançar no trabalho de nossa organização. Em primeiro lugar, a vanguarda pequeno-burguesa uspiana transpôs, modelo, ritmo de trabalho e leitura do movimento da realidade dos centros acadêmicos da USP para o trabalho entre os jovens trabalhadores. Este modelo particular de trabalho, geralmente onde a juventude encontra mais tempo disponível durante o seu dia e liberdade de manifestação, foi tomado para o geral da juventude. Consequentemente, observamos, até os dias de hoje, seguidas interrupções do trabalho geradas ou pela quebra de quadros que não conseguem se encaixar neste modelo particular de vida militante ou pela dissonância entre as ações militantes e o ritmo real que a situação concreta permite. Por fim, para garantir sua propaganda em disputa com o partido e visando fundar seu próprio partido, o fracionismo na juventude impôs uma série de medidas que não resguardavam nem nossos quadros nem nosso trabalho. As sequelas desse processo devem ser superadas visando não só permitir a proletarização de nossa organização, mas também no avanço do nosso trabalho.

O suposto debate coletivo e a suposta adesão massiva da UJC-SP ao novo partido

Com a publicização de questões internas da organização por ex-integrantes do partido, ficou ainda mais evidente o movimento coordenado do fracionismo a nível estadual. O grupo, na intenção de promover seu discurso na base da UJC, passou a não enviar as circulares internas do partido aos núcleos e ao mesmo tempo, apontava que o partido não queria que os coletivos soubessem ou debatessem as questões. Fazendo um duplo movimento de manter os núcleos desconectados da comunicação do partido, para que baseassem suas discussões apenas no que era publicizado pelo mesmo grupo na internet.

Foi justamente visando impedir que as circulares chegassem aos núcleos que de modo desesperado, uma circular enviada convocou os núcleos a debaterem e aprovarem um posicionamento estadual na UJC. Na prática, a movimentação escondeu o interesse em deixar à margem do debate possíveis opositores que denunciassem o racha em curso e que a base do debate fossem as exposições online. A prova disso é que quatro dias depois, no dia 6 de Agosto, uma nova circular foi enviada à militância (N°027/2023) informando que “a maioria da militância paulista” chancelou o posicionamento da CR fracionista. No entanto, ao analisar os núcleos que tomaram posicionamento na circular (apenas 16 de mais de 35 núcleos), cerca de 300 destes 480 militantes pertenciam a 4 núcleos: USP, UNESP, UNICAMP e Zona Leste. Para a elaboração deste documento de adesão, não se considerou a divergência dentro dos núcleos, o debate e o convencimento, comuns da cultura marxista-leninista, ao contrário, buscou-se manipular os números a favor de seu posicionamento. Essa postura oportunista, dificultou militantes proletários que, pela sua sobrecarga cotidiana, jamais conseguiriam organizar uma reunião (à revelia do partido) em 4 dias, se convencer e oficializar um posicionamento. Fora os núcleos já citados, apenas o núcleo de Guarulhos apresentou suas críticas no tempo desejado pelos fracionistas, e esse posicionamento foi contrário ao RR. Priorizou-se novamente, em interesse particular, os núcleos compostos majoritariamente pelas camadas médias e frações pequeno-burguesas da juventude.

PELA REORGANIZAÇÃO PROLETARIZADA DA UJC SÃO PAULO

É evidente que há, sempre houve e sempre haverá divergências entre militantes nas organizações comunistas, como foi o caso do nosso partido. No entanto, nos negamos ao oportunismo de operar toda uma organização em prol de interesses particulares, de utilizar os limites da organização que construímos contra a própria organização e de suprimir prioridades históricas em troca de interesses pequenos e imediatos. Os erros e os limites de uma organização também são coletivos e nós reconhecemos limites e problemas de nossa organização. Assim como antes, seguimos aquém das necessidades da nossa classe. Inclusive, muitos dos problemas utilizados pelo grupo que deixou a organização são reconhecidos pelo partido em suas resoluções. Convidamos todos os militantes a reler os documentos. No entanto, entendemos que esses problemas serão solucionados dentro da nossa organização; e todos eles, seja o aparelhamento por um grupo pequeno burguês uspiano ou possíveis quebras de centralismo, só serão corrigidos dentro da estrutura do centralismo democrático.

Como já foi apontado, a forma de atuação, os métodos da direção da juventude em prol do racha, a fragmentação dos nossos trabalhos não só enquanto União da Juventude Comunista, mas enquanto complexo partidário, serão desafios para serem superados no próximo período. A lógica produtivista, pautada em resultados impulsivos que não levavam em consideração a concretude e o ritmo da nossa classe, deverão dar lugar ao planejamento comprometido mas real, disciplinado, coerente com nossos militantes. Acima de tudo, fundamentado pelo compromisso da UJC com a juventude trabalhadora, com o giro operário e com o poder popular.

As formulações das instâncias de base serão fundamentais para o processo de superação da fragmentação do nosso trabalho, entendendo as dinâmicas dos mais diversos locais de atuação da juventude. A União da Juventude Comunista, enquanto escola de quadros do Partido Comunista Brasileiro, precisará dialogar com o complexo partidário, e caberá a nós refletir e repensar formas práticas de nossa atuação, em prol da superação desse distanciamento. Aqui, vale ressaltar que a UJC vinha sendo instrumentalizada em prol da fragmentação. Isso foi determinante para o desenvolvimento do movimento fracionista no interior da juventude, o que possibilitou essa tentativa de assalto à base militante, já que estes não se sentiam pertencentes aos debates internos do complexo partidário, mas da UJC, apenas.

Essa reorganização também implica em reestruturar nosso sistema de recrutamento, comunicação (interna e externa) e formação política conforme orienta nossas resoluções congressuais; proporcionar o amplo direito à livre discussão em nossos ambientes internos, mas garantindo a unidade na hora da ação pública, conforme orienta o princípio do centralismo-democrático. Prezamos pela crítica e a autocrítica, a direção coletiva, a camaradagem e a divisão revolucionária do trabalho, como manda nosso estatuto. Por fim, cabe enfatizar que as táticas e a estratégia política que guiarão a UJC-SP devem estar sempre em consonância com a do partido, durante e depois do período provisório em que nossa CR atuará.

Hoje, a nova direção estadual da UJC-SP é constituída por uma maioria negra e proletária. Embora vejamos com bons olhos a composição atual de nossa militância e de sua direção, não nutrimos ilusão de que essa alteração garantirá, por si só, o avanço de nossa organização. Política, social e culturalmente nos diferenciamos daqueles que operaram a cisão no PCB no âmbito da juventude paulista, mas o avanço será garantido pelo nosso trabalho cotidiano em constante aproximação e unidade com o partido e seus demais coletivo, visando superar a fragmentação e os limites que o nosso atual estágio organizativo nos coloca.

Sabemos que nossa realidade cotidiana enquanto jovens trabalhadores implica em ter menos tempo livre para atuação política. Sabemos também que os efeitos da conjuntura pesam principalmente sobre nós, impedindo uma resposta que obedeça a velocidade necessária dos fatos. Mas por outro lado, sabemos que a resposta para os problemas que nos cercam estão na própria classe trabalhadora, essa classe se manteve no nosso coletivo e não nos faltará autoconfiança para encarar esse processo de reorganização.

Repudiamos, desde já, quaisquer desvios e vícios pequeno-burgueses nas nossas fileiras. Jovens comunistas que pertencem aos setores médios de São Paulo, a partir de agora, precisarão compreender que a UJC-SP é dirigida por jovens comprometidos com os interesses dos trabalhadores e que não tolera o predomínio de comportamentos típicos de outras classes. Evidentemente, isso não significa que rejeitaremos os militantes oriundos de camadas médias, tampouco abriremos mão da atuação nas universidades públicas e privadas de elite. Mas entendemos que estes setores deverão se submeter a uma organização que é proletária em sua história, composição e projeto político.

A Coordenação Regional provisória anuncia o processo de reorganização proletarizada da UJC-SP entendendo que isso significa voltar nossas atenções às demandas pulsantes da juventude trabalhadora, desempregada e estudante. A nossa história é a mesma história de todas as organizações e tentativas de construir a juventude comunista do PCB, empreendidas desde 1922. A nossa data de fundação é 1° de Agosto de 1927. Nossos documentos oficiais estão disponíveis no site oficial da UJC: www.ujc.org.br.

Conforme consta nos nossos documentos - construídos democraticamente em congressos - a UJC é a juventude apenas do PCB. É nesse sentido que saudamos todas as iniciativas de reorganização dos nossos coletivos partidários. Por outro lado, não reconhecemos qualquer outra “UJC” que não esteja organicamente ligada ao nosso partido. Inclusive, denunciamos e repudiamos a tentativa dos fracionistas em continuar se utilizando do nosso nome, bandeiras, redes sociais, camisetas e outros recursos materiais. Como descrevemos nos capítulos anteriores, uma parte desses indivíduos atuam como grupo paralelo no complexo do PCB há anos, e não tem legitimidade política para usar nossos adereços. Devem continuar sua caminhada, mas assumindo sua própria identidade.

A luta de classes nunca deu descanso às trabalhadoras e trabalhadores brasileiros e tem deflagrado grandes tarefas à juventude comunista. Nacional e localmente, enquanto o movimento popular permanece fragmentado e aquém das necessidades históricas que se apresentam, a burguesia continua aplicando seu projeto político e econômico e fazendo a manutenção de seus lucros, luxos e privilégios. Os desafios que temos pela frente são muitos e nos exige paciência, disciplina e criatividade revolucionária.

O governo reacionário de Tarcísio quer privatizar a Sabesp, o Metrô e a CPTM e continua fazendo do Estado de São Paulo uma máquina de

encarceramento e extermínio da população negra e periférica, como foi o caso da Operação Escudo na Baixada Santista. No âmbito federal, o governo social-liberal do PT segue repetindo a política de conciliação de classes, numa lógica de atender aos interesses de sua ampla coalizão eleitoral e da maioria do Congresso, promovendo pequenos avanços mas grandes derrotas para a classe trabalhadora, como foi o caso da aprovação do Novo Teto de Gastos e da privatização dos presídios. Em todo o Brasil, como no mundo, todos os dias a luta de classes proporciona motivos para nos empenhar na construção do socialismo.

Em São Paulo, há uma grande quantidade de jovens que buscam por um instrumento de luta que organize seu ódio contra o capitalismo, seu desejo por justiça social e sua solidariedade de classe. A União da Juventude Comunista deve ser referência para esses jovens, preparando-os para o nosso partido, que no próximo ciclo, precisará de esforços redobrados.

É diante desse cenário que fazemos um sério convite à você que é jovem, mora no estado de São Paulo e está disposto/a a se organizar para lutar contra o capitalismo, por uma sociedade comunista e livre da exploração da força de trabalho alheia: nos procurem através do formulário que está disponível no link do nosso instagram @ujc.sp.oficial.

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