Por Cheyenne Ayalla - Militante da UJC e do PCB na Bahia
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o Brasil vive em um período de auge de População Economicamente Ativa (PEA), ou seja, há uma parcela maior de pessoas em idade de trabalho dos que as que não estão. No entanto, quando se observa a realidade, sobretudo, em Salvador, capital do desemprego, esse período não é só subaproveitado, não é nem ao menos aproveitado. Além disso, Salvador possui dois dados alarmantes: 1) está entre as dez cidades mais violentas do Brasil – 7 delas estão no estado da Bahia; 2) está entre as vinte capitais mais violentas do mundo.
Nesse cenário, quem mais perece são os jovens, principalmente, os periféricos e trabalhadores. No último censo, 2022, os jovens da faixa 18 a 30 anos que estudavam, na Bahia, cerca de 30 mil abandonaram os estudos. Quando pesquisa-se a taxa de desemprego ultrapassa cerca de 16%. Nesse sentido, tem-se dois quadros preocupantes: a grande evasão nos estudos e o desemprego e/ou subemprego. Desse modo, a mídia burguesa e neoliberal intitula-se, pejorativamente, essa geração de “Nem-Nem”, Nem Estuda e Nem Trabalha.
Todavia, a culpabilização individual, advindo da ideologia burguesa, culpa o indivíduo e ignora, ou melhor, mantém, propositalmente, o exército de reserva (desempregados) para que se possa barganhar os direitos dos trabalhadores. Dessa forma, a lógica em que se não quiser X emprego tem mais 50 a espera é factível.
Entendendo os fatos:
Após o processo, de redemocratização do Brasil, a abertura política e econômica, significou, infelizmente, uma democracia pífia e em um cenário de rifas as empresas estatais ao capital privado. A era Tatcher – A dama de Ferro – com reflexo direto, resultou, sobretudo, aos países de terceiro mundo, foram as vendas dos recursos naturais e indústrias de base aos oligopólios internacionais. Portanto, o país verde-amarelo, sofre inúmeras privatizações, chegando em seu auge no Governo FHC.
Atravessando os anos 2000, após quase 3 décadas de seu início, o neoliberalismo toma proporções sufocantes. A começar pelo Teto de Gastos de Michel Temer (2017) – pós-golpe – as políticas de austeridade da gestão fascista de Bolsonaro (2018) e com mais um ataque com o Arcabouço Fiscal de Haddad no governo petista.
Nesse enredo, os desmontes e cortes feitos ao longo dos últimos anos refletem de forma visceral. Isso reverbera nos fatores econômicos, sociais e de desenvolvimento humano, pois esses ataques de infringe os direitos da população afetam diretamente educação e saúde. Quando, nota-se, o governo estadual da Bahia, há mais de 16 anos nas mãos do partidos do trabalhadores, o qual no última década fechou mais de 100 escolas pelos estados. Ademais, quando o assunto é Segurança Pública, como fora supracitado, segundo o Observatório da Violência 98% dos mortos pela polícia no estado e na capital são negros, sendo que 78% desses casos não solucionados, entrando apenas na espiral do silêncio.
Esse quadro, revela que a todo instante a juventude negra soteropolitana vive em processo morticínio pelo braço armado do estado, o qual possui como principal função: ser o mantenedor da propriedade privada e força coercitiva à classe trabalhadora. Nesse sentido, o racismo e a pobreza eles são estruturantes para manter uma sociedade dividida em classes e mantida fortemente a partir desses mecanismos de repressão. Para além disso, a segurança pública, a nível municipal também se forja da mesma maneira que a polícia militar, ostensiva e agressiva.
Esses fatores, afetam diretamente no desenvolvimento da juventude soteropolitana que vive em constante ameaça de um aparelho: o estado burguês. Outro fator, voltando a educação, são os desmontes educacionais que afetam diretamente a juventude, não só em uma questão direta. Mas a ausência de creches para os jovens que tem filhos e precisam deixar em algum lugar para trabalhar, bem como uma maior contratação de profissionais nesses espaços, gerando empregos, inclusive. O enxugar da máquina pública afetou a efetivação e criação de concursos
Mas, afinal, qual o perfil do jovem baiano?
Findado um contexto mínimo das condições conjunturais e partir de uma observação dos fatores estudantes e estruturais, hoje, a juventude soteropolitana vive em três tipificações práticas e gerais: aqueles que foram entorpecidos pela exploração do capital, recebendo um salário mínimo, se deslocando diariamente 1h30 de ida e mais essa mesma quantia de tempo na volta é resultando em uma pensamento: “a vida se resume a isso!”. Volta ou outra, balizando, com algum tipo de alienante, seja drogas a uso, redes sociais etc; o perfil seguinte, embora tenha os mesmo aspectos de trabalho e locomoção seu alienante é específico: a religião.
Nesse fator, a pentecostal se coloca como central de uma perfil que se embebeda não só das contradições materiais de sua existência, mas a entende como um determinismo disfarçado de fé, pois o cerne da questão não está na crença mas como ela opera cotidianamente na realidade. Isso será melhor descrito mais a frente. E terceiro perfil, que está na linha tênue do que se chama de exército de reserva e o que diariamente, resvalando em outros, dizimado pelo braço armado do estado, cooptados pelo crime, que dialogando com os perfis anteriores: fica à revelia do assalariamento e não aceito a coibição e cabresto do protestantismo.
É necessário entender
O primeiro perfil, se enquadra, como majoritário e, muitas vezes, se confunde com o segundo. Atualmente, a juventude, vive em um processo ao qual mesmo trabalhando, via de regra 44 horas semanais, não conseguem pagar suas contas, não conseguem estabelecer uma independência financeira, muitos ainda residindo com os pais e sua renda ajuda nas contas domésticas também. Ademais, se reduzem ao mundo do trabalho, sendo ele sua centralidade, uma pequena porção ainda se desdobram para a efetivação de um ensino superior, onde vislumbram um salário um pouco maior do que aquele que recebe atualmente.
Dessa maneira, geralmente, se fixam em ensino a distância (EAD) por ser o possível diante da logística que o trabalho impõe ou, muitas vezes, ingressando nas faculdades particulares via PROUNI ou FIES. Nesse segundo caso, tendo um endividamento com a União e custeando avanço da educação privada e o endividamento da classe trabalhadora. Em relação ao setor educacional privado, é importante destacar que essa simbiose do dinheiro público, contrarreformas e a abertura de novas universidades particulares existe.
Nesse fator, além do sentido econômico pré-estabelecido ainda é possível identificar o sentido político desse sucateamento da educação e parasitismo que o a educação privada faz com a educação pública. Pois aqueles que e aquelas que ingressam nas universidades públicas por meio ENEM ou vestibulares – que diga-se de passagem também é um tipo de segregação – passam por diversas dificuldade e se deparam com um ensino outro que destoa que ensino básico público (fundamental e médio).
Ainda nesse raciocínio, apontam para disparidade de ensino das universidades privadas, que estão em consonância direta com o capital, enquanto a pública sofre diversos cortes e desmoralização pública. Portanto, esses espaços tanto do ensino privado, quanto do ensino público, que deve ser universalizado, estão aquém se o mundo do trabalho, a centralidade a estrutura, for arquitetada dessa forma: 44 semanais, baixos salários, transporte ineficiente, sem lazer.
Nesse caminhar, o segundo perfil, se caracteriza com algumas semelhanças ao primeiro, entretanto, com duas centralidades especificas a política reacionária que tem se tornado uma regra nos templos pentecostais e a instituição casamento enquanto uma obrigatoriedade da vida. O avanço da extrema-direita no Brasil tem crescido de maneira vertiginosa. Esse reflexo, está em dois aspectos tanto a conjuntura internacional quanto no investimento financeiro massivo na proliferação das igrejas, sobretudo, nas regiões periféricas da cidade.
Na ausência estatal, não só pelo assistencialismo mas também pelo mínimo de amparo nesses locais de moradia e pleno emprego. Nesse vácuo as intencionalidades se fizera, verdade e hoje é notório o quadro de domínio dessas igrejas e consequentemente são controladas pela famigerada bancada da bala que são grandes empresário ligados ao agro e ou a especulação financeira, onde retornamos ao ponto inicial: o grande capital.
Essa coibição da criticidade por meio da religião é um novo tipo de adestramento crítico, ou melhor, um retono, que cresce cada vez ais no seio da população que se classificam cristões. Obviamente, os pontos elencados são generalistas, mas infelizmente cada vez mais se tornam uma regra. E o casamento como forma também de cabresto, esse fator, via de regra, vai afetar, sobretudo, as mulheres, que, de acordo com os dados do Observatório, Salvador é a terceira capital com mais feminicídios. Não se restringe aos casamentos forjados nas igrejas, porém são números significativos que possuem interligação.
Ao terceiro perfil estará muito interligado a um público majoritariamente homens, negro e periférico, onde erroneamente alegam o vício a drogas ilícitas como principal fator, é, na verdade, por uma questão econômica. A falta de perspectiva, que se assemelha ao primeiro, mas na outra face da moeda, em que estão a margem e não entorpecidos pela norma, mas sim pela raiva, de forma geral, morrem muito cedo pelas guerras de facções ou guerra as drogas (as pessoas) e quando passam pelo processo prisional passam por uma mortem em vida. De acordo com a Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ) o Brasil possui uma população de quase 900 mil pessoas privadas de liberdade, na Bahia um pouco de 14 mil e em Salvador, um pouco mais de 2 mil pessoas. Nisso, cerca de 70% ainda aguardam julgamento e muitos por motivações de furto de bens materiais, que são relacionados, sobretudo, a palperidade.
Nessa análise, voltamos, mais uma vez, ao problema inicial: o capital. Desse modo, as questões mais latentes estão ligadas ao sistema econômico a qual está inserido e o neoliberalismo que é um dos sustentáculos políticos do capital, a qual o estado é burguês, a democracia é burguesa e a sociedade é de classes. Portanto, todos a serviço e gerenciando a manutenção do poder por poucos.
REFERÊNCAS
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OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA. Relatório anual sobre violência policial. Salvador: Observatório da Violência, 2023
SALVADOR. Dados de violência. Disponível em: https://www.salvador.ba.gov.br. Acesso em: 1 set. 2024.
SILVA, J. A. Desmontes e cortes na educação. 2. ed. São Paulo: Editora Exemplo, 2020
SILVA, João. A política reacionária nos templos pentecostais. 2. ed. São Paulo: Editora Exemplo, 2023
SOUZA, L. Estatísticas de violência na Bahia. Observatório da Violência, 2023. Disponível em: https://www.observatoriodaviolencia.org.br. Acesso em: 2 set. 2024
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