Tentativa de golpe: Bolívia e EUA trocam acusações sobre participação de encarregada norte-americana

Victor Farinelli para o Opera Mundi

Ministro boliviano insinuou que intentona seria resultado de um conflito entre chancelaria do país e representante de Washington; porta-voz da Casa Branca só condenou ação após prisão de general


A tentativa de golpe de Estado na Bolívia voltou a tensionar as relações entre o país sul-americano e os Estados Unidos. Em declaração à imprensa local nesta quinta-feira (27/06), o ministro da Economia boliviano, Marcelo Montenegro, fez alusão a um possível envolvimento da encarregada de negócios norte-americana, Debra Hevia, na intentona golpista.

“O governo convocou a encarregada de negócios para prestar esclarecimentos na segunda-feira (24/06), dois dias depois temos o que vocês viram acontecer na Praça Murillo, façam vocês mesmos as suas deduções”, disse o ministro aos jornalistas.

Efetivamente, o Ministério de Relações Exteriores da Bolívia convocou Hevia a respeito de uma troca de farpas entre os representantes norte-americanos no país e o próprio ministro Montenegro.

Vale lembrar que não há embaixada dos Estados Unidos na Bolívia desde 2008, quando o então presidente Evo Morales expulsou o embaixador Philip Goldberg; a partir de então, o país norte-americano mantém apenas encarregados de negócios em La Paz.

‘Golpe brando’

No dia 14 de junho, Montenegro acusou a encarregada norte-americana de liderar uma tentativa de “golpe brando”, articulando medidas com empresários e políticos de oposição para “produzir impactos na economia do país e desestabilizar o governo a partir dessas medidas”.

A reação norte-americana aconteceu naquele mesmo 14 de junho, com um comunicado dizendo que os representantes do governo dos Estados Unidos “rejeitam categoricamente as falsas declarações do ministro Montenegro e lamenta que uma autoridade governamental acuse uma missão diplomática sem qualquer fundamento”.

As trocas de acusações se mantiveram quase diariamente até a decisão da chancelaria boliviana de convocar a encarregada norte-americana, na segunda-feira, com o objetivo de “advertir sobre uma série de declarações e ações realizadas por funcionários dos Estados Unidos, que são consideradas como uma interferência nos assuntos internos da Bolívia”.

“A Bolívia promove uma política externa baseada nos princípios da igualdade, da não intervenção e do respeito à soberania, no marco das normas do direito internacional que regulam as relações diplomáticas”, acrescenta o texto da convocação à encarregada norte-americana. A reunião não aconteceu, já que a representante norte-americana não respondeu à convocação, seja para aceitar ou para rechaçar o encontro.

APGTentativa de golpe de Estado na Bolívia provocou reações ambíguas por parte de representantes de Washington
Reação da Casa Branca


Além dessa troca de farpas, também chama a atenção o fato de que a Casa Branca somente se pronunciou sobre a intentona golpista quando a iniciativa já havia sido desarticulada e o líder da ação, o agora ex-general Juan José Zúñiga, estava preso.

Segundo a agência EFE, um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano emitiu um breve comunicado, já durante a noite desta quarta-feira (26/06), dizendo apenas que “os Estados Unidos estão seguindo de perto a situação na Bolívia”, e pedindo “calma e moderação aos setores envolvidos.

Em simultâneo, as redes sociais da representação norte-americana na Bolívia – que utiliza o nome de “Embaixada dos Estados Unidos na Bolívia, embora na prática não funcione como tal e não tenha um embaixador presente há 16 anos –, publicou uma mensagem dizendo que rechaçava “qualquer tentativa de derrubar o governo eleito”, e pedindo “respeito à ordem constitucional” no país sul-americano. A mensagem também só foi tornada pública após a tentativa de golpe ser superada.

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