Unidade palestina em tempos de genocídio e BRICS
Nota pública da FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil
O mundo foi novamente surpreendido pelo papel geopolítico da China, que anunciou a reconciliação entre as forças políticas palestinas, desde as predominantes Fatah, a maior na OLP (Organização para a Libertação da Palestina), e Hamas, somadas a mais outras 12 denominações de diferentes espectros ideológicos, quase todas do quadro histórico da OLP. É a segunda vez, neste ano, que a reconciliação palestina é debatida em Pequim, agora com o anúncio, na cerimônia que hoje encerrou as negociações, da Declaração de Pequim sobre o Fim da Divisão e o Fortalecimento da Unidade Nacional Palestina, que proclama a unidade nos marcos da OLP e a construção de governo de unidade nacional.
Saudamos, a partir desta diáspora brasileiro-palestina, o encerramento irracional da divisão política e geográfica da resistência e do povo palestino e a restauração da unidade nacional, anseio de todos os palestinos, com as seguintes considerações:
1- A divisão palestina só interessa à ocupação colonial sionista, que dela se beneficia mais do que das armas ocidentais, responsáveis pela atual fase do genocídio palestino em Gaza, com quase 50 mil civis assassinados em 9 meses, 2,23% da demografia do enclave, dos quais 20 mil são crianças e 12 mil mulheres, podendo chegar a 200 mil o total deste extermínio, conforme recentemente publicado em The Lancet.
2 - Este acordo é construído, mediado e selado na China, a nova potência global que desafia a hegemonia colonial, imperialista e genocidária ocidental, e país que constrói, com Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, os BRICS e um novo mundo, em que o multilateralismo e o Direito Internacional regem as relações entre os países e povos.
3 - Assim, é a primeira vez que a Questão Palestina é tratada fora das metrópoles coloniais e imperialistas, bem como fora de alguns países árabes, que nunca tiveram poder e soberania suficientes para afirmarem-se como garantidores de acordos.
4 - Mais que isso, a China não está implicada na Nakba, nem patrocina o genocídio palestino desde 1947, ou seja, é país sem as mãos manchadas do sangue palestino e árabe, o que lhe dá a legitimidade moral, ética e política que falta ao “ocidente”, inventor e avalista de “israel” e de seu Apartheid.
5 - O acordo alcançado em Pequim é também resultado dos esforços da Rússia, na qual as forças palestinas estiveram em diversas ocasiões e que, ao lado da China e demais BRICS, se opõe ao genocídio palestino em Gaza, pede cessar-fogo desde 8 de outubro e defende um estado palestino livre e soberano.
6 - Os palestinos, de outro lado, dão as costas ao “ocidente”, seu algoz, que nunca mediou honestamente uma solução para a Palestina, apenas interferiu para beneficiar “israel”, e voltam ao seu leito histórico, antes representado pelo Movimento dos Países Não Alinhados, no qual a OLP era grande protagonista, agora sob a liderança dos BRICS, países dos quais não saem as armas e munições que exterminam o povo palestino.
7 - A reconciliação em Pequim se dá quando em Washington se encontram os genocidas Biden e Netanyahu, em pleno processo eleitoral no qual os EUA escolhem para genocida de plantão entre os sionistas Donald Trump e Kamala Harris, que buscam manter a era dos genocídios, enquanto a Palestina ditará, com seus aliados, o sepultamento dos genocídios e de suas metrópoles.
8 - Por fim, o contexto da reconciliação e unidade palestina selada em Pequim é o da reação massiva do mundo contra o genocídio palestino, desde as ruas com milhões ao Conselho de Segurança da ONU, que determinou um cessar-fogo contra a vontade dos EUA e quase admitiu a Palestina como membro pleno – o veto dos EUA impediu, passando pela Corte Internacional de Justiça, que investiga “israel” por genocídio, e pelo Tribunal Penal Internacional, que desde 2021 investiga Netanyahu e outros israelenses por crimes de lesa-humanidade e que agora analisa suas prisões, levando ao banco dos réus tanto o regime israelense quanto o ocidente, algo antes impensável.
É neste grande contexto histórico que, cremos, acontecerão a reconciliação e o governo de unidade, com todos dentro da OLP, a grande casa palestina, e haverá um estado palestino soberano, laico, democrático, próspero, seguro, regido pelo império da lei e pela supremacia dos direitos humanos. A unidade encerrará a ocupação, retornará os refugiados, acabará com o apartheid sionista e sua limpeza étnica, reconstruirá Gaza e toda a Palestina e levará à condenação dos responsáveis pelos crimes de lesa-humanidade, incluída a reparação por toda destruição sofrida pelo povo palestino nestes 77 anos de genocídio.
Palestina Livre a partir do Brasil, 23 de julho de 2024, 77º ano da Nakba.
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